terça-feira, 23 de março de 2010

A gentil arte de ouvir


Um dos mais inequívocos sinais de falta de progresso em nossa civilização é a difamação ou a tendência a ridicularizar os semelhantes que não pensem ou atuem de acordo com nossas idéias particulares. A injúria, como erva daninha, cresce rápido e depois é muito difícil erradicá-la. Palavras são emanações de energia, criações que, como filhos, se agarram a quem as disse para cobrar tributo e se alimentar de sua vitalidade. Quem diz palavras injuriosas acha ser livre pensador, mas é escravo da infâmia, porque dá voltas e mais voltas no mesmo vício sem conhecer outra realidade. A gentil arte de ouvir outra verdade, uma história diferente, é o sinal de progresso que vem junto ao estabelecimento de vínculos de cooperação mútua.


Autor: Quiroga

sexta-feira, 19 de março de 2010

O mundo é nossa cria


Os acontecimentos são pensamentos palpáveis, fruto da corrente de idéias que circula pela humanidade desde o início. O mundo é nossa cria, as abominações e exaltações são nossos filhos, fruto do que nos permitimos pensar quando achamos estar a sós com nós mesmos. A vida é ininterrupta, não depende de nossas existências, o que pensamos se dissemina ao longo de gerações. Quando isto for aceito como um fato científico seremos capazes de reinventar o mundo. O equívoco de que a vida se resume ao envoltório terreno e de que tudo que de subjetivo existe é produto da matéria nos afunda nas trevas da ignorância e promove a discórdia, porque carece da visão do que temos em comum. Só a compreensão da beleza da vida levada à prática salvará o mundo.


Autor: Quiroga

segunda-feira, 15 de março de 2010

Abandonar o que nos limita



Abandonar a fixação é efetivamente um processo de aprender a ser livre, porque cada vez que deixamos ir alguma coisa, ficamos livres disso. Qualquer coisa a que nos fixamos nos limita, porque a fixação nos faz dependentes de algo além de nós mesmos. Cada vez que abandonamos algo, vivenciamos um outro nível de liberdade.
Traleg Kyabgon Rinpoche
Tricycle, outono 2004
(Tricycle's Daily Dharma, 10/09/2009)

quarta-feira, 10 de março de 2010

Origem de todo Karma


Atribua todas as culpas à única fonte; Contemple a grande bondade de todos os seres. Desde um tempo sem início temos falhado em reconhecer nossos inimigos e distinguir entre o que deve ser abandonado e o que deve ser adotado. Assim, todas as nossas tentativas de praticar o Dharma se tornaram esforços do auto-apego. E assim temos errado. Temos falhado em chegar o mínimo que seja mais perto da liberação e onisciência, desenvolvendo alguma familiaridade anterior. Então, hoje, devemos reconhecer o que é nosso inimigo e o que é amigo. Como fazemos isso? Não há nada a fazer exceto encarar nosso próprio ego como o inimigo e abandoná-lo, ver os seres sencientes como amigos e cuidar deles. Isso, encarar o auto-apego como o inimigo, é apresentado na linha "Atribua todas as culpas à única fonte". Então, quaisquer eventos indesejáveis que ocorrerem, não jogue a culpa nos outros. Não seja como o ermitão que sem ninguém por perto, ao espirrar seus preparos por ferver demais, amaldiçoa: "Isso é obra de demônios malignos!". Atualmente, tendemos a culpar outros fatores sempre que algo indesejável cai sobre nós, dizendo por exemplo que um local é mal assombrado, que fomos vítimas de espíritos, que desagradamos os guias espirituais e por aí vai. Isso é um erro. Você deve, em vez disso, reconhecer seu próprio auto-apego como o alvo para onde direcionar toda culpa. Foi dito:
Com base na fixação no eu, Surge a percepção de eu e outro; Dessa divisão surge apego e ódio, E, através desse encadeamento, todas as consequências negativas. Já que, como declarado aí, todas as falhas e consequências negativas se originam desse auto-apego, se você vivenciar calamidades causadas pelo ambiente ou pelos seres, se você sofrer o desagrado de entidades excelentes como os budas ou protetores do Dharma, se você tiver infortúnios causados por seres sofrendo como mendigos ou por multidões de seres sencientes, se você for prejudicado por piolhos ou elementos do corpo como prana, bile, fleuma e tudo mais, reconheça que a raiz de tudo isso é o auto-apego.


Autor: Sangye Gompa (Tibete, ano 1179 - 1250)
"Explicação pública sobre o treinamento da mente"
"Mind Training"