quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

Referências Extrabíblicas Mais Antigas sobre Jesus



1. Flávio Josefo (c. 93-94 d.C.)

  • Escreveu a obra Antiguidades Judaicas (Livro 18, Capítulo 3, parágrafo 3), onde menciona Jesus em um trecho conhecido como Testimonium Flavianum:

    "Por esse tempo apareceu Jesus, um homem sábio... Ele era o Cristo."

  • Há debate sobre possíveis interpolações cristãs no texto, mas a maioria dos estudiosos acredita que Josefo mencionou Jesus de alguma forma.
  • No Livro 20, ele também menciona "Tiago, irmão de Jesus, chamado Cristo". Esse trecho é amplamente aceito como autêntico.

2. Tácito (c. 116 d.C.)

  • No Anais (Livro 15, Capítulo 44), menciona que o imperador Nero perseguiu os cristãos e que

    "Christus, de quem o nome teve origem, sofreu a pena extrema durante o reinado de Tibério, pelas mãos de Pôncio Pilatos".

  • Esse relato é considerado confiável, pois Tácito era um historiador romano crítico dos cristãos.

3. Suetônio (c. 120 d.C.)

  • Em Vida dos Doze Césares, menciona que o imperador Cláudio expulsou os judeus de Roma porque "estavam constantemente causando distúrbios sob a instigação de Chrestus".
  • O termo "Chrestus" pode ser um erro para "Christus" ou pode se referir a outra pessoa.

E Plínio, o Jovem?

  • Sua carta ao imperador Trajano (c. 112 d.C.) menciona cristãos que adoravam Cristo como um deus, mas não menciona Jesus como personagem histórico nem fornece detalhes sobre sua vida.
  • É uma evidência de que o cristianismo existia e estava crescendo no século II, mas não é a mais antiga referência extrabíblica a Jesus.

Plínio, o Jovem, e Jesus Histórico

Plínio escreveu uma carta famosa ao imperador Trajano (Carta 10.96), por volta de 112 d.C., na qual menciona os cristãos e seus hábitos religiosos. Ele descreve como os cristãos se reuniam para cantar hinos a Cristo como um deus e faziam juramentos de não cometer crimes.

Embora Plínio não mencione diretamente Jesus como uma figura histórica, sua carta é um dos registros não cristãos mais antigos sobre a presença de seguidores de Cristo no Império Romano. Isso confirma que, no início do século II, havia uma comunidade cristã bem estabelecida, o que sugere a historicidade de Jesus.

Sim, existem contra-argumentos sobre as referências a Jesus em autores antigos como Plínio, Tácito, Josefo e Suetônio. Muitos estudiosos levantam dúvidas sobre a autenticidade ou interpretação desses textos. Aqui estão os principais pontos de debate:


1. Plínio, o Jovem (Carta 10.96)

✅ Argumento a favor

Plínio menciona que os cristãos cantavam hinos a Cristo "como a um deus", o que indica a existência de uma figura central venerada. A carta confirma a presença de uma comunidade cristã no início do século II.

❌ Contra-argumentos

  • Não menciona Jesus como pessoa histórica, apenas o culto a Cristo.
  • A carta pode mostrar apenas um movimento religioso já consolidado, sem indicar que Plínio sabia algo concreto sobre a existência de Jesus.
  • Ele escreve com base em relatos de terceiros, sem uma investigação profunda.

2. Tácito (Anais 15.44)

Tácito menciona que "Cristo foi executado sob Pôncio Pilatos" e que seus seguidores foram perseguidos por Nero.

✅ Argumento a favor

  • Tácito era um historiador respeitado, crítico do cristianismo, e não tinha interesse em promover a fé cristã.
  • Sua menção é independente dos Evangelhos, sugerindo uma fonte externa confirmando a crucificação.

❌ Contra-argumentos

  • Tácito pode ter se baseado em fontes cristãs e não em registros oficiais romanos.
  • Erro no título de Pilatos: Tácito o chama de "procurador", mas Pilatos era um "prefeito" (praefectus). Isso pode indicar um erro de cópia ou que Tácito não tinha informações diretas.
  • O trecho pode ser uma interpolação posterior: Alguns estudiosos sugerem que monges cristãos alteraram o texto ao copiá-lo.

3. Flávio Josefo (Antiguidades Judaicas 18.3.3 e 20.9.1)

Josefo menciona Jesus duas vezes.

1️⃣ Trecho mais famoso (Testimonium Flavianum, Ant. 18.3.3):
"Nesse tempo apareceu Jesus, um homem sábio, se é que se pode chamá-lo de homem. Ele era o Cristo e ressuscitou no terceiro dia..."

❌ Contra-argumentos

  • O texto contém frases claramente cristãs, improváveis de um judeu como Josefo.
  • Muitos acadêmicos acreditam que esse trecho foi adulterado por monges cristãos na Idade Média.
  • Há versões alternativas do texto (como a de Agápio de Hierápolis) que são mais neutras e podem ser mais próximas do original.

2️⃣ Menção a Tiago, irmão de Jesus (Ant. 20.9.1):
Josefo fala da execução de Tiago, "irmão de Jesus, chamado Cristo".

✅ Argumento a favor

  • Esse trecho é mais aceito como autêntico, já que não tem exageros cristãos.

❌ Contra-argumentos

  • Alguns estudiosos argumentam que "Jesus, chamado Cristo" pode ter sido uma interpolação cristã posterior.
  • Pode haver confusão com outro Jesus, já que "Jesus" era um nome comum na época.

4. Suetônio (Vida de Cláudio 25.4)

Suetônio menciona que o imperador Cláudio expulsou judeus de Roma por causa de agitações ligadas a "Chrestus".

✅ Argumento a favor

  • Pode se referir a conflitos entre judeus e primeiros cristãos.

❌ Contra-argumentos

  • "Chrestus" era um nome comum na Roma antiga, podendo se referir a outra pessoa.
  • O texto não menciona crucificação, milagres ou qualquer detalhe sobre Jesus.

Conclusão:

Os textos antigos que mencionam Jesus não são provas diretas de sua existência, mas são usados como evidências indiretas. Os céticos argumentam que:

  1. Muitas dessas menções podem ter sido influenciadas por cristãos ou alteradas.
  2. Os historiadores não estavam interessados em confirmar a existência de Jesus, mas apenas mencionavam os cristãos.
  3. Nenhum desses textos vem de uma testemunha ocular da vida de Jesus.

Por outro lado, os defensores da historicidade de Jesus apontam que é improvável que várias fontes independentes mencionem um personagem inexistente.

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A passagem original de Plínio, o Jovem sobre os cristãos está na Carta 10.96, escrita por volta do ano 112 d.C. para o imperador Trajano. O texto original em latim é:

"Adfirmabant autem hanc fuisse summam vel culpae suae vel erroris, quod essent soliti stato die ante lucem convenire, carmenque Christo quasi deo dicere secum invicem, seque sacramento non in scelus aliquod obstringere, sed ne furta, ne latrocinia, ne adulteria committerent, ne fidem fallerent, ne depositum appellati abnegarent; quibus peractis morem sibi discedendi fuisse, rursusque coeundi ad capiendum cibum, promiscuum tamen et innoxium."

Tradução:

"Eles afirmavam que toda a sua culpa ou erro consistia em se reunir em um dia fixo antes do amanhecer e cantar um hino a Cristo como a um deus, alternadamente entre si, e se comprometer por um juramento não a algum crime, mas a não cometer furtos, roubos ou adultério, a não quebrar sua palavra e a não negar um depósito quando solicitados. Após fazerem essas coisas, tinham o costume de se dispersar e depois se reunirem novamente para compartilhar uma refeição comum e inofensiva."

Análise Crítica:

  • Plínio não menciona Jesus diretamente, apenas fala de um culto a "Cristo".
  • Ele não parece ter informações de primeira mão sobre os cristãos, apenas relata o que ouviu.
  • O tom da carta indica que Plínio estava mais preocupado em saber como lidar juridicamente com os cristãos do que em investigar sua origem.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

A origem das teologias Judaicas, Cristãs e Islâmicas





O Bundahishn (também escrito Bundahišn, que significa "Criação Original" em persa médio) é um texto zoroastriano que descreve a cosmologia e cosmogonia da religião. Ele compila crenças sobre a origem do mundo, a luta entre o bem e o mal e o destino final da criação.


O texto é baseado nos ensinamentos do Avesta, a escritura sagrada do Zoroastrismo, e foi escrito entre os séculos IX e X, possivelmente preservando tradições orais mais antigas. Ele detalha a criação pelo deus supremo Ahura Mazda, a invasão do maligno Angra Mainyu (Ahriman), e o eventual triunfo do bem após um período de conflito cósmico.


O Bundahishn é uma fonte essencial para entender a visão de mundo dos antigos persas e sua influência em diversas religiões e filosofias posteriores. 


Esse conhecimento foi difundido antes da suposta existência de Jesus?


Sim, o conhecimento contido no Bundahishn e na tradição zoroastriana foi difundido muito antes do nascimento de Jesus Cristo. O Zoroastrismo é uma das religiões mais antigas do mundo, remontando, segundo estimativas, a pelo menos 3.500 anos atrás.


A figura central do Zoroastrismo, o profeta Zaratustra (ou Zoroastro), provavelmente viveu entre 1500 e 1200 a.C. (algumas estimativas colocam sua existência até por volta de 600 a.C.). Suas doutrinas foram registradas nos Gathas, parte do Avesta, a escritura sagrada zoroastriana. O Bundahishn, embora tenha sido escrito em persa médio entre os séculos IX e X d.C., baseia-se em tradições orais e textos anteriores que já existiam antes do período helenístico (século IV a.C.) e, portanto, bem antes da era cristã.


O Zoroastrismo influenciou profundamente várias religiões abraâmicas, incluindo o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo. Ideias como a luta entre o bem e o mal, o juízo final, o Messias (Saoshyant no Zoroastrismo), os anjos e demônios, e a ressurreição dos mortos podem ter sido influenciadas por essa tradição persa, especialmente durante o exílio babilônico dos judeus (século VI a.C.), quando tiveram contato direto com o Zoroastrismo.


Portanto, sim, a cosmologia e os conceitos presentes no Bundahishn e no Zoroastrismo são anteriores ao Cristianismo e podem ter influenciado suas concepções teológicas.