sábado, 23 de novembro de 2024

Inteligência emocional e a conquista de uma mulher de valor


A habilidade de autorregulação é o que separa os homens que simplesmente "tentam" daqueles que realmente têm a gestão emocional.


Empatia é a chave para criar uma conexão genuína. Isso vai além de simplesmente ouvir: é a habilidade de entender o que a mulher sente e responder de forma cuidadosa - 

A inteligência emocional (IE) é a habilidade essencial que homens de visão utilizam para se destacar e conquistar mulheres com valores e propósitos definidos. Em vez de recorrer a truques superficiais, dominar a IE ajuda você a construir autoconfiança e compreensão emocional. Isso cria uma conexão verdadeira, que atrai e sustenta o interesse de uma mulher de valor. Será que a inteligência emocional redefine a conquista?

Primeira coisa, saber quem é você. A autoconsciência é o coração da inteligência emocional. Em vez de perder tempo tentando impressionar com uma imagem falsa, um homem consciente de si mesmo age de acordo com seus valores, pois ele entende suas próprias emoções e comportamentos por conta emoções. Isso significa que ele sabe o que sente e por quê, especialmente em situações desafiadoras ou de incerteza.

Autorregulação transmite maturidade e respeito


A habilidade de autorregulação é o que separa os homens que simplesmente "tentam" daqueles que realmente têm a gestão emocional. A capacidade de gerenciar suas próprias emoções – seja em momentos de tensão, seja diante de rejeições, demonstra uma maturidade que as mulheres admiram e respeitam. 


Como o alinhamento de valores fortalece o casamento


Quando você mantém a calma e responde às situações com equilíbrio, transmite uma segurança que aumenta sua presença. Mulheres de valor sabem reconhecer homens que não são facilmente abalados. Sua capacidade de manter o controle de si mesmo mostra que você é um parceiro confiável, capaz de enfrentar situações difíceis. Em vez de agir impulsivamente ou pressionar a situação, você permite que a conexão cresça naturalmente – e essa maturidade é magnética.


Empatia é a verdadeira conexão com uma mulher


Empatia é a chave para criar uma conexão genuína. Isso vai além de simplesmente ouvir: é a habilidade de entender o que a mulher sente e responder de forma cuidadosa. Mulheres de valor buscam relacionamentos nos quais possam se abrir e ser compreendidas e a empatia é o elo que permite isso.


Como o estresse e a ansiedade afetam a função sexual


Homens emocionalmente inteligentes conseguem perceber as necessidades emocionais da mulher e responder a elas com respeito e interesse. Demonstrar empatia é mostrar que você se importa e está atento ao que ela está sentindo. Esse entendimento cria uma conexão poderosa, estabelecendo a confiança mútua e o respeito que formam a base para um relacionamento autêntico.


Propostas ou propósitos


O foco em seu próprio crescimento e ambição demonstra uma independência que atrai. Mulheres de valor são naturalmente atraídas por homens que se sentem realizados e que estão em constante evolução. Seu propósito é a fonte de sua força e resistência e ele o torna interessante e capaz de manter o equilíbrio. Esse diferencial é o que cria uma postura de poder que dispensa tentativas forçadas de conquistar. A inteligência emocional não é apenas uma ferramenta para a conquista; é o caminho para atrair e se conectar com uma mulher de valor, alguém que verá em você não apenas um parceiro, mas um verdadeiro igual.


A técnica de sedução que ninguém te contou

 

Um homem que percebe o quanto ele precisa de uma mulher ao lado, juntos estabelecem uma parceria onde ambos crescem. Essa é a verdadeira conquista, uma jornada que ultrapassa qualquer técnica e se baseia em um magnetismo de almas para construir algo duradouro e especial.


 

sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Gato de Schrödinger




Gato de Schrödinger: é possível estar vivo e morto ao mesmo tempo? Entenda teoria

A suposição é tema constante nos livros de física quântica e já pautou uma porção de filmes e séries de ficção científica, como 'Dark', da Netflix

Imagine um gato trancado em uma caixa, junto com um dispositivo que pode liberar veneno, a depender do decaimento de uma partícula radioativa. Com a caixa fechada, não é possível dizer 0 estado de saúde do gato. Mas a física tem uma teoria: ele morre e vive ao mesmo tempo.

A teoria do Gato de Schrödinger é um tema constante nos livros de física quântica e já pautou uma porção de filmes e séries de ficção científica— " Dark ", produção alemã da Netflix, entre elas. Foicriada pelofísico Erwin Schrödinger em 1935 a partir de um experimento mental para criticar a interpretação da mecânica quântica. Ele pretendia criticar a interpretação de Copenhague, que sugere que partículas subatômicas podem existir em múltiplos estados ao mesmo tempo, até serem observadas.




O que é a teoria do Gato de Schrödinger?




No exemplo de Schrödinger, o gato estaria simultaneamente vivo e morto enquanto a caixa estivesse fechada. Esse estado é conhecido como superposição quântica e demonstra um dos maiores desafios da mecânica quântica: como traduzir fenômenos microscópicos, regidos por leis diferentes das do mundo macroscópico, para o mundo que vivenciamos.




A superposição quântica por sua vez é um princípio fundamental da mecânica quântica, no qual uma partícula pode estar em múltiplos estados ao mesmo tempo. No caso do experimento do Gato de Schrödinger, a partícula radioativa dentro da caixa pode ou não ter decaído, o que, teoricamente, coloca o gato em dois estados simultâneos: vivo e morto.




Quando o observador abre a caixa, a superposição colapsa, e o gato assume um estado definido — vivo ou morto. Esse colapso sugere que o ato de observação é essencial para determinar o estado de um sistema quântico.




Qual o propósito do experimento?

Apesar de parecer um cenário absurdo, Schrödinger não criou esse experimento para explicar como os gatos funcionam, tampouco para provar a existência de zumbis ou pessoas mortas-vivas. A ideia foi criticar os paradoxos gerados pela interpretação de Copenhague. Ele queria destacar como os conceitos da mecânica quântica, quando aplicados ao mundo macroscópico, levam a implicações que desafiam nossa intuição.




O experimento também abre espaço para discussões sobre a função de onda, uma equação matemática que descreve o estado quântico de uma partícula. Na mecânica quântica, a função de onda é um dos conceitos mais importantes, porque define as probabilidades dos estados possíveis de um sistema.




Embora o Gato de Schrödinger seja uma experiência puramente teórica, ele desempenha um papel central na compreensão de fenômenos quânticos e no desenvolvimento de tecnologias como a computação quântica. Nessa área, por exemplo, a superposição permite que qubits representem vários estados ao mesmo tempo, ampliando exponencialmente o poder de processamento.




A teoria também influencia debates filosóficos e científicos sobre a natureza da realidade, percepção e o papel do observador no universo. Para Schrödinger, o paradoxo do gato foi uma maneira de provocar cientistas e questionar os limites da interpretação quântica vigente.

Individuação




A individuação é um conceito central na psicologia analítica de Carl Gustav Jung. Refere-se ao processo pelo qual uma pessoa se torna plenamente ela mesma, desenvolvendo sua singularidade e atingindo a integridade psicológica. Esse caminho envolve integrar os aspectos conscientes e inconscientes da psique para alcançar a totalidade.

Elementos-chave da individuação:

1. Autoconhecimento: Envolve confrontar e compreender aspectos inconscientes, como arquétipos, a sombra (partes reprimidas), o animus/anima (aspectos do masculino e feminino) e outros conteúdos psíquicos.


2. Reconciliação dos opostos internos: Durante a individuação, é necessário integrar polaridades da psique, como razão e emoção, bem como instintos primitivos e moralidade.


3. Desapego de identidades externas: Jung acreditava que a individuação exige transcender as máscaras (personas) que usamos na sociedade, explorando nosso verdadeiro eu além das expectativas externas.


4. Conexão com o Self: O objetivo final da individuação é a união com o Self, o núcleo central da psique que abrange tanto o consciente quanto o inconsciente. O Self é distinto do ego e representa o todo da personalidade.


Processo de individuação:

Geralmente ocorre ao longo da vida, mas se intensifica em momentos de crise ou transição, como a metade da vida.

Pode ser estimulado por sonhos, símbolos, práticas introspectivas e análise psicológica.


A individuação não é uma separação do coletivo, mas uma maneira de se posicionar nele de forma autêntica, trazendo um equilíbrio entre a individualidade e o pertencimento social. É um caminho contínuo de desenvolvimento e realização pessoal.

quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Inteligência emocional é adestramento para fracos?





Detalhe de “Alcibíades sendo ensinado por Sócrates”, de François-André Vincent.| Foto: Wikimedia Commons/Domínio público




“A fortaleza implica vulnerabilidade; sem essa vulnerabilidade, não existe sequer a possibilidade de fortaleza. Um anjo não pode ser forte, porque não é vulnerável. Ser forte significa ter capacidade para receber um ferimento. O homem pode ser forte porque pode ser ferido.” (Josef Pieper, Virtudes Fundamentais)





Preparando uma aula um dia desses, me deparei com um conteúdo, na disciplina de Filosofia da 1.ª série do ensino médio, que me chamou a atenção: inteligência emocional. Esse nome já me soa, ao mesmo tempo, contraditório e redundante, mas OK. O material didático dizia o seguinte: “Inteligência emocional é a capacidade de reconhecer, compreender e gerenciar as próprias emoções, além de reconhecer e compreender as emoções dos outros. Embora não possamos gerenciar diretamente as emoções alheias, é fundamental entender que elas nos afetam, assim como nossas emoções afetam os demais. Ela envolve autoconsciência, autorregulação, motivação, empatia e habilidades sociais”.




Reconhecer e controlar as próprias emoções é algo comum às pessoas adultas e maduras, educadas pela longa experiência




Para começar, a mim parece que a “capacidade de reconhecer, compreender e gerenciar as próprias emoções” chama-se maturidade, que, segundo Nietzsche, “consiste em ter reencontrado a seriedade que, em criança, se colocava nos jogos”. E diz Sêneca, sobre a velhice (fase própria da maturidade): “Portanto, ninguém pode fazer mal ao sábio ou ser-lhe útil, posto que criaturas divinas nem desejam ajuda, nem podem sofrer dano; ora, o sábio está contíguo e próximo aos deuses; exceto pela condição mortal, é semelhante a um deus [...]. Assim, ele resiste a tudo, ao rigor do inverno e às intempéries do clima, a febres e doenças e a outras casualidades, e não forma juízo tão positivo sobre alguém a ponto de achar que tal pessoa tenha feito algo com sabedoria, o que se dá unicamente com o sábio”.




Ou seja, reconhecer e controlar as próprias emoções é algo comum às pessoas adultas e maduras, educadas pela longa experiência. Se deram um novo nome, associado a uma série de clichês psicológicos, a uma virtude própria da vida adulta responsável, tudo bem para mim; só precisamos ter ciência de que não se trata de algo novo. E para as competências/habilidades associadas a ela, vale, novamente, citar o material didático: a autoconsciência é “a habilidade de reconhecer e entender suas próprias emoções”; a autorregulação “é a capacidade de gerenciar suas emoções de maneira saudável”; a motivação “refere-se ao desejo interno de atingir objetivos pessoais e profissionais”; a empatia “é a capacidade de entender e compartilhar os sentimentos dos outros”; e as habilidades sociais “são as competências necessárias para interagir de maneira eficaz com os outros”. Sinceramente, caro leitor, isso me parece uma tentativa de revestir de novidade algo antigo, retirando-lhe toda a profundidade.




De acordo com um texto no LinkedIn, “o termo ʻinteligência emocionalʼ foi cunhado por Daniel Goleman na década de 90 do século passado ao lançar seu livro homônimo (Inteligência Emocional – A teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente), que obteve grande sucesso mundial”. Entretanto, diz o autor do texto, atualmente o conceito se tornou mais genérico, “sendo [a inteligência emocional] entendida atualmente como a capacidade de lidar bem com pessoas no ambiente de trabalho, particularmente com colaboradores e colegas de equipe”. Ou seja, virou conversa de palestra motivacional e dos famigerados coaches. E o site Penser termina sua explanação, dizendo que a inteligência emocional “não se trata apenas de administrar as próprias emoções negativas e positivas, mas também de utilizá-las a seu favor. Além disso, os pilares da inteligência emocional também incluem a compreensão dos sentimentos e emoções do outro, o que, como consequência, vai influenciar na construção de relacionamentos mais saudáveis”.

Na verdade, toda essa parafernália pseudoconceitual poderia ser resumida no famosíssimo aforismo grego conhece-te a ti mesmo, que Platão, através de Sócrates, nos apresenta tão brilhantemente em seu Primeiro Alcibíades. O jovem belo e abastado, cujas aspirações políticas, pretendia ele, deveriam ser prontamente atendidas, pois era de linhagem nobre e isso bastava para ser um bom governante, teve suas expectativas frustradas pelo mestre, que lhe explicou a impossibilidade de governar bem a cidade sem, primeiro, aprender a “cuidar de si”; e que o cuidado de si deveria ser precedido pelo “conhecimento de si”. E arremata, após uma série de ponderações magistrais:




“Sócrates – E com relação à alma, meu caro Alcibíades, se ela quiser conhecer-se a si mesma, não precisará também olhar para a alma e, nesta, a porção em que reside a sua virtude específica, a inteligência, ou para o que lhe for semelhante?

Alcibíades – Parece-me que sim, Sócrates.

Sócrates – Haverá, porventura, na alma alguma parte mais divina do que a que se relaciona com o conhecimento e a reflexão?

Alcibíades – Não há.

Sócrates – É a parte da alma que mais se assemelha ao divino; quem a contemplar e estiver em condições de perceber o que nela há de divino, Deus e o pensamento, com muita probabilidade ficará conhecendo a si mesmo.

Alcibíades – É certo.

Sócrates – Sem dúvida, porque os verdadeiros espelhos são mais claros do que o espelho dos olhos, mais puros e mais brilhantes; do mesmo modo, a divindade da melhor parte de nossa alma é mais pura e mais luminosa.

Alcibíades – É o que parece, Sócrates.

Sócrates – Olhando, portanto, para essa divindade, e usando-a à guisa do melhor espelho das coisas humanas para a conhecimento da virtude da alma, é a maneira mais acertada de nos vermos e reconhecermos a nós mesmos.

Alcibíades – É certo.”



Essas reformulações meramente instrumentais de conceitos tão profundos e antigos não passam de uma espécie de adestramento contemporâneo para espíritos que ignoram completamente as virtudes cardeais



Como diz Lord Digory, personagem de C.S. Lewis em A Última Batalha, que fecha As Crônicas de Nárnia: “está tudo em Platão!”





Ao fim e ao cabo, tenho a impressão de que essas reformulações meramente instrumentais (capacidade de lidar bem com pessoas no ambiente de trabalho, influenciar na construção de relacionamentos mais saudáveis etc.) de conceitos tão profundos e antigos não passam de uma espécie de adestramento contemporâneo para espíritos que ignoram completamente as virtudes cardeais. A prudência, a justiça, a temperança e a fortaleza dão conta, pelo menos de modo primário, de todos esses desafios morais e emocionais que enfrentamos. Mas existe uma necessidade, no mundo atual, de que nossa personalidade, respeitada no contexto antigo, seja amputada em favor da construção de uma sociedade à imagem e semelhança de adestradores medíocres, quando não de ideólogos sedentos por poder.



Como professor, não pude deixar de fazer esse contraponto aos meus alunos – de modo menos contundente, por óbvio; afinal de contas, trato com adolescentes –, depois de apresentar-lhes o conteúdo do material didático, e gerar um interessante debate sobre esse tema. Uma pulguinha atrás da orelha não faz mal a ninguém, não é mesmo?

Paulo Cruz

terça-feira, 19 de novembro de 2024

Inveja nossa de cada dia...




“O belo é sempre espantoso...”
Baudelaire

“O Amor não inveja”
I Coríntios 13

“...a Criatividade é a causa mais profunda da Inveja”
Melanie Klein


“...o Talento é imperdoável”
Diderot

“ A inveja habita no fundo de um
vale onde jamais se vê o sol.
Nenhum vento o atravessa;
Ali reinam a tristeza e o frio
Jamais se acende o fogo,
Há sempre trevas espessas
...A palidez cobre seu rosto,
Seu corpo é descarnado,
o olhar não se fixa em parte alguma.
Tem os dentes manchados de tártaro,
O seio esverdeado pela bile,
A língua úmida de veneno.
Ela ignora o sorriso,
Salvo aquele que é excitado pela visão da dor
...Assiste com despeito aos sucessos dos homens,
E este espetáculo a corrói;
Ao dilacerar os outros, ela se dilacera a si mesma,
E este é o seu suplício.”
Ovídio


No Paraíso Perdido de Milton, vemos recontado o drama do Éden, no qual Satã com inveja do Deus Criador e na tentativa de estragar o gozo da vida celestial declara guerra e cai, construindo com outros caídos o inferno como rival do céu e tornando-se a força destrutiva que visa destruir o que Deus cria. Desde Santo Agostinho a vida vem sendo descrita como uma força criativa em oposição à inveja, tida como força destrutiva. Desta forma reconhece-se a inveja - expressão da maldade, como uma das emoções primárias no ser humano, desde o pecado original, quando o homem escolhe dar ouvidos à serpente.


De lá para cá seguimos acompanhando sua manifestação como força motriz de diversos dramas e personagens, sejam eles reais ou fruto do imaginário: Caim matando Abel, a madrasta da Branca de Neve pedindo seu coração para comê-lo, Yago enganando Otelo, Caifás pedindo a pena máxima para Cristo, Mussolini aprisionando Gramsci por toda a vida por discursar melhor que ele no parlamento italiano. Inveja e destruição, o casal infernal, unido e atuante, desde que o mundo é mundo.


Do mesmo modo que sua manifestação, o conceito de que a inveja é um sentimento negativo também é universal, nos circuitos psicológicos e psicanalíticos atribui-se a ela inclusive, dependendo da intensidade, o caráter de sintoma patológico.


O invejoso é, em geral, alguém que não é capaz de tolerar o prazer do outro, sua fruição, assim não consegue suportar também que algo de bom lhe seja dado por esse outro. Não pode usufruir esse outro, não reconhece ou admite de má vontade as qualidades alheias, o valor de outra pessoa e se mostra incapaz de experimentar e de expressar gratidão. O invejoso não reconhece que o outro tenha algo de bom a lhe oferecer e não é capaz de receber informações ou ajuda, pois tem grandes dificuldades com o saber do outro, saber que o faz sentir-se sempre humilhado – não tolera ver, ouvir ou vivenciar coisas novas e prazerosas, experiências positivas e pensamentos interessantes que venham de outra pessoa. Não é capaz de aguentar e assimilar a ideia da felicidade alheia.


Nesse sentido, o indivíduo que empalidece frente a felicidade alheia pode atuar de forma destrutiva, chegando ao ponto de fazer o outro de fato entristecer-se. (Mezan, 1987)


Nessa compreensão, podemos dizer que a inveja sempre se apresenta como um sentimento que esteriliza a curiosidade e, portanto, acaba por determinar uma espécie de indigência psíquica.


Se para Melanie Klein a inveja é uma manifestação primitiva do psiquismo ligada à agressividade e a um desenvolvimento capenga do narcisismo para a plena percepção do outro - falha essa que gera no sujeito a sensação de que nada pode ser por ele apropriado, nada lhe pertence por direito, tornando-se o invejoso vítima perene de um sentimento de falta arrasador, diante da qual tudo que é seu se mostra inadequado e insuficiente, enquanto que tudo que é alheio surge como melhor –para Nietzsche, em sua tipologia, quando fala do “fraco”, do “escravo” ou do “doente”, os caracteriza antes de qualquer outra coisa como ressentidos e invejosos. Na concepção do filosofo, o “fraco” não se apresenta apenas como uma antítese do “forte”, mas como alguém que tem uma ferida aberta no peito, algo que o sangra dia e noite: a inveja. O invejoso não aparece, ele se esconde, se resguarda em seu nome como numa capa, ninguém sabe quem ele é, pois nunca fez de fato nada, como um inseto que muda de cor para se parecer com a paisagem. Segundo Nietzsche, a inveja e a covardia são irmãs.


Diderot foi o primeiro a qualificar a inveja pelo que mais a incomoda – o talento. O invejoso não inveja o outro por ter dinheiro ou bens materiais, inveja pelo talento que ele mesmo não possui. Vemos muito isso ilustrado no mundo cultural e acadêmico: um livro não publicado, uma ideia censurada, uma crítica ácida descabida, um não injustificado, uma proibição sem sentido.


O invejoso nunca debate, nunca discute ou se abre para comparar opiniões, em geral agride e se esconde evitando o confronto aberto num terreno de disputa justa, pois tem medo do confronto, mesmo sabendo que não perderá nada, já que nada tem a perder – afinal é ciente que o talento do invejado é o algo que ele não tem. Esse nada que habita o cerne do invejoso é o que alimenta e perpetua sua inveja.


A verdade é que seja o sujeito invejoso vítima de um desenvolvimento psíquico falho, ou de uma fraqueza de caráter, leva uma vida dolorosa de constante e abjeta comparação com o outro – cativo de um sentimento perene de insuficiência, o invejoso nunca é feliz. Em geral se trata de alguém de difícil convívio social e com seus entes queridos, cuja presença é marcada por comportamentos agressivos e por um olhar de constante crítica, assim como também é constante sua recusa em revelar e vivenciar afeto. O ódio inconsciente costuma ser tão violento que o leva a atacar o outro o tempo todo, visando destruir aquilo que neste outro existe e que ele não encontra em si mesmo. O invejoso é espoliador, não inveja o que precisa para si, mas algo que precisa tirar do outro. (Joseph, 1992)


Nossa sociedade contemporânea, caracterizada pela ética de mercado, parece ter encontrado numa neurose o combustível para sua existência e manutenção. Ao nos tornarmos seres de comparação, assinamos nosso contrato com o descontentamento e angústia perpétuos.


A política consumista se nutre das imensas e irreais expectativas daqueles que se sentem vazios de si mesmos e perpetua um estado invejoso tanto nas escolhas de estilo de vida, quanto nos relacionamentos. A tragédia habita no fato de que se a inveja – que diferente da voracidade não visa incorporação, mas destruição – se tornar um aspecto dominante em nossa maneira de viver no e de ver o mundo, colecionaremos relações disfuncionais, recheadas de afastamentos e intrigas e isso em todas as dimensões relacionais. A inveja materializa o vazio do cotidiano, intensifica o sentimento de desilusão, torna o criar, um destruir, unindo de forma bizarra dois conceitos excludentes e nos condenando ao nada existencial.


Muito se tem falado a respeito da nossa Era do Vazio, tempo de imediatismo, tempo de individualismo hedonista, tempo de apatia, tempo de sedução generalizada sem eros nenhum, tempo de legitimação de todas as formas de vida sem que haja de fato um sentimento de viver em nenhuma delas, tempo de banalização da violência social, da co-existência fake de contrários, tempo de inversão de ideais e de analgesia emocional completa, de uma mente gravemente alterada, incapaz de conter coisa alguma – tempo de um sujeito incapaz de aprender seus próprios sentimentos na relação com o outro porque não tolera que o outro exista. Em toda parte reina uma solidão doentia e uma dificuldade de ser transportado para fora de si mesmo. NÃO HÁ PONTES.

Na era do vazio, a ilusão predomina sobre o fato, não apenas mascarando o fato, mas o substituindo. O consumismo é performático, fetichista, se torna um ser poderoso que ao ser colocado sobre o indivíduo o transforma, o preenche, pelo menos até o próximo “sonho de consumo”.


A própria produção artística de nossos dias denota uma incrível redução da vida interior (Kristeva, 1993). Quem hoje ainda tem alma? As patologias do vazio revelam a perda progressiva da capacidade de simbolizar, seu sintoma na arte se expressa no foco temático contemporâneo na relação primordial do homem com tudo que nega a existência, no transitório, na precariedade e parcialidade de todas as perspectivas.


Tanto nas salas de aula quanto nas clínicas psicológicas e psiquiátricas constata-se a inibição da curiosidade por tudo aquilo que vem do outro em indivíduos marcadamente invejosos, cujo mundo mental é empobrecido. Essa falta de interesse pelo que os cerca reflete-se numa indiferença com relação ao funcionamento de suas próprias mentes, de seus pensamentos e estados emocionais, o que os leva sempre a um saber abstrato e a uma racionalidade estéril e onipotente. A falta de curiosidade pode ser entendida como uma defesa contra a inveja, evitando o impacto com experiências novas e com elas as dores da inveja, da sensação de vazio e do rancor.


Sem curiosidade e abertura para o mundo não há possibilidade de criação. Espoliar o ser da possibilidade de criar é retirar dele a própria vida. Sendo assim, a inveja é um sentimento que ao não suportar a diferença e a criação, ataca as fontes da vida. Logo, como manifestação psíquica da maldade, a inveja não tolera a alteridade, pois o outro exige de nós uma atitude criativa que nos possibilite a experiência. (Merleau-Ponty, 1971)


Encerro essa reflexão desafiando os que ainda seguem despertos a jamais dormirem e a buscarem maneiras de semear no deserto para um resgate do homem no homem.




“Sim, o seu olhar é sem inveja: e é por isso que o honrais?
Preocupa-se pouco com as vossas honras;
Tem o olho da águia, olha para o que está longe,
Não vos vê!... Apenas vê os astros e as estrelas!”
Nietzsche

FONTE: https://psicopadas.blogspot.com/2013/10/inveja-nossa-de-cada-dia.html?m=1

A metamorfose de Kafka




A Metamorfose de Franz Kafka é uma daquelas obras que nos faz refletir longamente após a sua leitura. Não é apenas a história de um homem que se acorda transformado em inseto, mas uma profunda reflexão filosófica sobre a alienação, a identidade e o absurdo da existência humana.




Do ponto de vista existencialista, a transformação de Gregor Samsa pode ser vista como uma metáfora do sentimento de estar preso numa vida que já não reconhecemos como a nossa. Quantas vezes nos sentimos estranhos na nossa própria pele, desconectados de quem somos, meros espetadores da nossa própria vida ou do que os outros esperam de nós? Gregor, ao tornar-se um inseto, representa esse sentimento extremo de desumanização, de se tornar algo que já não se encaixa no mundo, nem mesmo na sua própria família.




Kafka confronta-nos com uma ideia-chave da filosofia existencialista: o isolamento do indivíduo. Gregor, na sua nova forma, é incapaz de comunicar, de ser compreendido ou aceito. Este isolamento não é apenas físico, é existencial. É aqui que ressoa o pensamento de Jean-Paul Sartre e a sua ideia de que «o inferno são os outros». Gregor é rejeitado e temido, e embora continue a ser o mesmo por dentro, a sua aparência condena-o à solidão e ao esquecimento.




Além disso, A Metamorfose fala-nos também do absurdo, um conceito que Albert Camus desenvolve na sua filosofia. A transformação de Gregor não tem explicação nem sentido, e é precisamente esse o objetivo. Num mundo absurdo, as coisas acontecem sem razão aparente e nós, enquanto seres humanos, somos obrigados a enfrentá-las sem ter respostas. Gregor não se pergunta por que se tornou um inseto; ele tenta simplesmente adaptar-se, continuar a sua vida. Mas, no final, o absurdo esmagá-o.




Gregor perde o seu valor aos olhos da família no momento em que já não pode trabalhar nem satisfazer as expectativas sociais. A sua transformação física reflete uma verdade mais profunda: somos vulneráveis a perder o nosso lugar no mundo quando deixamos de cumprir os papéis que nos impõem.




A metamorfose é um aviso sobre a fragilidade da identidade e a desconexão entre o ser humano e o seu ambiente. Kafka recorda-nos que, neste mundo cheio de normas, expectativas e julgamentos, a verdadeira tragédia reside em perder o vínculo com a nossa própria humanidade e, nesse processo, ser esquecidos ou afastados por aqueles que deveriam compreender-nos.




A obra de Kafka deixa-nos uma questão inquietante:




Quanto da nossa identidade é definida pelos outros?




*Quentin Machado**

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Cannabis e Ayahuasca




A interação entre cannabis fumada e ayahuasca, ao serem combinadas, oferece uma dinâmica bioquímica e energética complexa que envolve tanto os efeitos psicoativos de cada planta quanto suas propriedades espirituais, segundo muitas tradições. Ambas as plantas são consideradas "plantas de poder" em diversos contextos espirituais e xamânicos, mas apresentam efeitos bem distintos, tanto em seus mecanismos bioquímicos quanto nas experiências que proporcionam.

Aspectos Bioquímicos

1. Cannabis: Quando fumada, a cannabis ativa receptores canabinoides CB1 e CB2, principalmente no sistema nervoso central e periférico. Seu principal componente psicoativo, o THC (tetraidrocanabinol), induz alterações de percepção, relaxamento e euforia, além de modificar o processamento de tempo e espaço. Esses efeitos podem também trazer um certo grau de introspecção, embora essa experiência possa variar amplamente entre os indivíduos.


2. Ayahuasca: A ayahuasca, feita a partir da combinação de plantas como o cipó Banisteriopsis caapi e as folhas de Psychotria viridis (ou outra fonte de DMT), induz um estado alterado de consciência mais profundo. A Psychotria viridis contém o DMT (dimetiltriptamina), enquanto o cipó é rico em inibidores da monoamina oxidase (IMAOs). Os IMAOs impedem a rápida degradação do DMT no organismo, permitindo que ele tenha um efeito prolongado no cérebro, onde se liga aos receptores de serotonina, particularmente o receptor 5-HT2A. Esse efeito propicia uma experiência psicodélica intensa e geralmente introspectiva, acompanhada de visões e profundas reflexões espirituais.


3. Interação entre Cannabis e Ayahuasca: Bioquimicamente, misturar cannabis com ayahuasca pode intensificar os efeitos de ambas, devido à interação dos sistemas endocanabinoide e serotoninérgico. Estudos sugerem que o THC pode aumentar os níveis de serotonina, o que, combinado com o DMT, pode resultar em um estado de maior intensidade psicodélica e emocional. No entanto, a cannabis também é conhecida por aumentar a ansiedade em certas doses, e, em combinação com os efeitos profundos da ayahuasca, isso pode intensificar a experiência de maneira imprevisível, podendo aumentar tanto a sensação de bem-estar quanto a de desconforto.

Aspectos Energéticos e Espirituais

No plano energético e espiritual, cada planta é considerada como uma "medicina" com espíritos e energias distintos. A cannabis, na tradição espiritual, é frequentemente vista como uma planta de cura e relaxamento, capaz de conectar o usuário com estados meditativos e reflexivos mais sutis. A ayahuasca, por outro lado, é conhecida como "a mãe", ou a "rainha das plantas" em diversas tradições indígenas sul-americanas, e promove uma experiência de cura mais intensa e, muitas vezes, confrontadora.

Quando combinadas, há quem relate que a cannabis suaviza as revelações muitas vezes "duras" da ayahuasca, criando uma experiência mista de introspecção mais leve, menos confrontadora. No entanto, outros mencionam que essa combinação pode dispersar a energia ritualística, desfavorecendo o mergulho profundo e claro nos ensinamentos que a ayahuasca propicia. Assim, enquanto a ayahuasca tende a levar o participante a um estado mais centrado e claro, a cannabis pode tanto suavizar a jornada como, para alguns, confundir a experiência, especialmente em doses mais altas.

Potenciais Riscos e Considerações

É importante ressaltar que essa combinação pode amplificar emoções e pensamentos, o que pode ser desafiador para quem não está preparado emocionalmente. Em contextos rituais, muitas vezes o uso de cannabis junto à ayahuasca não é incentivado, pois a tradição considera que isso pode "turbinar" o efeito psicoativo de forma caótica, reduzindo a clareza que a ayahuasca pode proporcionar. A orientação espiritual de um facilitador experiente é frequentemente recomendada para garantir que a experiência seja conduzida de forma segura e integrada.

sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Despedidas



Uma das despedidas mais difíceis ocorre quando amamos uma pessoa e, ao mesmo tempo, vemos que não é possível construir um relacionamento saudável com ela. É um momento de profunda introspecção, onde o coração e a mente debatem se devem ficar ou partir. 

Pois bem, ficar significaria continuar esperando as mudanças que não vêm, tolerar ações que nos machucam, aceitar o mínimo esforço, perder-nos na tentativa de não perdê-lo. Às vezes, a esperança nos liga a situações insustentáveis.

Apegamo-nos à ideia de que as coisas vão melhorar, mas a realidade é que nem sempre é assim. Coragem é reconhecer quando é hora de deixar ir. Sabemos que partir vai doer; mas será o caminho que nos levará à cura. 

A dor da despedida é inevitável, mas também é o primeiro passo para a cura. Ao nos distanciarmos daquilo que nos machuca, permitimos que nossas feridas cicatrizem. É um ato de amor próprio e autocuidado. Em vez disso, ficar apenas continuará a abrir a ferida cada vez mais. Permanecer em um relacionamento tóxico ou insatisfatório prolonga o sofrimento. 

Cada dia que passamos nessa situação, a ferida se aprofunda. É como se estivéssemos abrindo uma ferida repetidamente. Às vezes você opta por ir embora, não por falta de amor por aquela pessoa, mas pelo seu amor próprio que te move a cuidar de si mesmo. E com amor você vai embora. 

A decisão de partir não é um ato de falta de amor para com o outro, mas um ato de amor para consigo mesmo. Isto é: “Eu me amo o suficiente para não me permitir continuar sofrendo”. E nesse amor próprio encontramos forças para nos despedirmos, ficarmos em PAZ e seguirmos em frente. Lembre-se que cada despedida é uma oportunidade de crescer, aprender e transformar. 

Às vezes, o maior ato de amor é abrir mão daquilo que não nos nutre mais, para abrir espaço para escolher a si mesmo e quem sabe se abrir a novas experiências futuras...