Algumas pessoas têm medo de amar, outras medo de serem amadas, e outras ainda, julgando ter medo de amar, na verdade têm, isso sim, medo de ser amadas.
Pessoas que se individualizaram de tal forma que se habituaram a contar apenas consigo mesmas e com os seus próprios cuidados. E que, perante a possibilidade de algo novo, alguém que lhes queira bem e as ame, reagem de forma contrária. Talvez por não saberem amar, não saibam receber amor, menosprezem os sentimentos alheios, pisando com palavras o coração de quem lhes quer bem.
Chegam a ser cruéis, sem perceber que fazem sangrar quem está ali, apenas querendo dar amor... Alguém que deseja que seu amor seja compreendido em toda a sua amplitude e magnitude... Mas para quem vive no seu próprio mundo, onde mal tem contato físico, pois está habituado a viver no mundo virtual, é difícil perceber o amor real e concreto.
Medo, talvez; insegurança, talvez o que profere para quem o ama seja o que de fato lhe cabe; talvez gire em torno apenas de seu próprio eixo; talvez seja egoísta; talvez não seja como disse durante uma vida inteira: que nunca foi amado.
Porque teve tantos corações em suas mãos e machucou todos... Segurou-os em suas mãos e deixou sua marca, em todos os sentidos, mas a maior marca foi a da indiferença...
Todos nós precisamos de alguém e há sempre alguém que precise de nós. E este verbo – precisar – não é sinônimo de necessitar, não cabe seu sinônimo aqui, é mais como partilhar…
Podemos até acreditar que estamos bem assim, sem ninguém, com a nossa vida que consideramos boa e planejada, mas há sempre algo que pode se adicionar e trazer uma enorme valia.
Receber o amor é como saber gastar (gastar o amor de quem o está dando). É necessário fazer com que o investimento recebido renda frutos, juros e dividendos, para novos investimentos e lucros humanos.
Há quem saiba fazer isso (ou seja, saiba receber). Há quem não saiba e gaste (o amor recebido) de uma só vez, sem qualquer noção do quanto custou para quem o deu.
O problema de receber o amor é fundamental, porque ele determina o prosseguimento ou não da doação. O núcleo do problema está na forma pela qual cada pessoa recebe o amor, modelando-o, lapidando-o, conservando-o e amando-o...
De que vale um amor maior que o mundo, se a forma pela qual ele é recebido é diminuta? Se quem o recebe o inferioriza tanto que o faz escorrer pelos dedos feito areia...
Um amor de pequena estatura doado a alguém pode ser recebido como a dádiva suprema. Soará, então, enorme!
Daí que amar está também, além de dar, em saber receber. É difícil saber receber quando desconhecemos o significado da palavra amor.
Eu não fui uma pessoa amada por todos; também tenho minha história, com mais coisas perdidas do que adquiridas. Mas isso não fez com que eu me fechasse e não soubesse dar amor. Não vivo trancada num mundo onde as coisas não são reais...
Saber receber, embora pareça passivo, é ativo. Receber, se possível, avaliando a intensidade com que é dado e, se for mais possível ainda, retribuir na exata medida. Saber receber é tão importante quanto doar amor.
Se todos soubessem receber, não haveria a graça infinita dos desencontros do amor, que geram os encontros.
Receber o amor é tão difícil quanto amar! Amar desobriga, enquanto receber o amor parece prender as pessoas, tutelá-las e aprisioná-las, quando deveria ser exatamente o contrário. Pois saber receber é tão grandioso e difícil quanto saber dar. Saber receber é apenas deixar que o outro lhe entregue o sentimento...
Não saber receber o amor é egoísmo, achar que por ser amado está sendo invadido, pressionado, coagido. Na verdade, isso é covardia.
Maior covardia é despertar o amor quando não se tem a intenção de amar...
Temos que deixar de nos convencer (e enganar a nós mesmos) de que não sabemos amar, e assumir a possibilidade de, na verdade, não estarmos preparados para ser amados. Ou mais do que isso: não nos sentirmos confortáveis com a ideia de que alguém nos ame.
Machucar e proferir palavras que magoam não vão ensinar você a amar; vão deixá-lo sozinho, cada vez mais enterrado no seu mundo... E com certeza absoluta, você precisa e gosta do contato físico, você tem necessidade dele...
Tanto que, quando está na presença física, se torna outra pessoa. Quem será bipolar no final das contas? Quem será que precisa de terapia para entender seus sentimentos? Quem será que tem medo de expor o que sente? Quem será que não sabe mais o que pensar e está perdido, completamente perdido, e só não se deu conta ainda?
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Texto ajustado com ortografia e pontuação corrigidas.
Autora desconhecida
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