sábado, 28 de dezembro de 2024

Memento Mori

Memento Mori é uma expressão em latim que significa "lembre-se de que você vai morrer". É uma reflexão filosófica que remonta à antiguidade e foi amplamente utilizada por estoicos, cristãos medievais e artistas do período barroco como um lembrete da transitoriedade da vida e da inevitabilidade da morte.

Origem e Significado

  • Na Roma Antiga, era comum que, durante os desfiles de triunfo, um escravo sussurrasse ao general vitorioso: "Respice post te. Hominem te esse memento. Memento mori!" (Olhe para trás. Lembre-se de que você é apenas um homem. Lembre-se de que você vai morrer).
  • Para os estoicos, como Sêneca e Marco Aurélio, a frase era uma chamada à consciência, à humildade e à apreciação do presente.
  • Durante o período medieval e renascentista, tornou-se um tema artístico popular, simbolizado por crânios, ampulhetas e flores murchas em pinturas, esculturas e literatura.

Mensagem Central


A ideia de Memento Mori não é apenas sobre a mortalidade em si, mas sobre:

  1. Valorizar o tempo presente: Use sua vida de maneira significativa.
  2. Cultivar a humildade: Nenhuma conquista terrena é eterna.
  3. Buscar propósito: Concentre-se no que realmente importa para você.
  4. Aceitar a impermanência: Encare a morte não com medo, mas com sabedoria e paz.

Aplicação na Vida Moderna

  • Estoicismo contemporâneo: Muitos adotam Memento Mori para enfrentar desafios com resiliência e evitar distrações triviais.
  • Arte e cultura: Continua a inspirar obras literárias, pinturas, filmes e até tatuagens.
  • Prática diária: Meditar sobre a mortalidade pode trazer clareza e foco às escolhas.

Como Marco Aurélio escreveu em suas Meditações:

"Você poderia deixar a vida agora. Que isso determine o que você faz, diz e pensa."

Se precisar de uma interpretação mais profunda ou um contexto específico, posso ajudar!

sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Nervo vago ativado




Respirações Holotrópicas, Wim Hof e o Nervo Vago

Tanto as respirações holotrópicas quanto a técnica Wim Hof estão diretamente relacionadas à estimulação do nervo vago, um dos principais nervos do sistema nervoso autônomo. O nervo vago:


Conecta o cérebro a órgãos internos como coração, pulmões e trato digestivo.

Regula o equilíbrio entre os sistemas simpático (ativador) e parassimpático (calmante).

Efeitos dessas respirações no nervo vago:


Respirações profundas e controladas: Ativam o nervo vago, promovendo relaxamento e reduzindo o estresse.

Estado alterado de consciência: Respirações intensas podem induzir hiperventilação, reduzindo o dióxido de carbono no sangue e gerando efeitos como tontura, euforia e sensação de transcendência.

Glândula Pineal e a Liberação de DMT

A glândula pineal é frequentemente associada à produção de substâncias que influenciam estados de consciência, incluindo:


Melatonina: Reguladora do ciclo sono-vigília.

DMT (dimetiltriptamina): Apesar de ser uma hipótese popular, não há evidência científica direta de que a pineal secreta DMT em quantidades significativas.

Relação com respirações específicas:


Técnicas como Wim Hof e respirações holotrópicas podem alterar a química cerebral, levando a sensações de expansão de consciência, mas não se sabe se isso está ligado à liberação de DMT ou a outros neurotransmissores como serotonina e endorfina.


quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

Claustro


A palavra claustro tem origem no latim e está associada a conceitos de espaço fechado ou isolado. Sua etimologia é a seguinte:

  1. Do latim:

    • Deriva de claustrum, que significa "fechadura" ou "lugar fechado".
    • Claustrum vem de claudere, que significa "fechar" ou "encerrar".
  2. Significados originais:

    • No latim medieval, claustrum passou a designar áreas fechadas de mosteiros, como o espaço reservado aos monges para estudo, meditação e vida em reclusão espiritual.

Desenvolvimento e uso moderno:

  • Arquitetura religiosa: Refere-se a uma galeria coberta em torno de um pátio, geralmente em mosteiros ou conventos, usada para oração, meditação e circulação.
  • Figurativo: Pode significar qualquer lugar ou estado de reclusão, isolamento ou confinamento.
  • Relacionado a "claustrofobia": A raiz claustr- também é usada na palavra claustrofobia, que designa o medo de espaços fechados.

Assim, o termo claustro carrega a ideia central de algo fechado, reservado ou isolado, muitas vezes ligado a contextos espirituais ou arquitetônicos.

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Existe o claustro no crânio humano, mas, neste contexto, ele se refere a uma estrutura neurológica e não a um espaço arquitetônico ou conceito abstrato.

O que é o claustro no cérebro humano?

  • O claustro é uma fina camada de substância cinzenta localizada no interior do cérebro, entre o córtex cerebral e os gânglios da base.
  • Ele é composto por neurônios e se situa entre duas estruturas principais:
    • Cápsula extrema: Separando o claustro do córtex insular.
    • Cápsula externa: Separando o claustro do núcleo lentiforme (parte dos gânglios da base).

Função do claustro:

Embora sua função não seja completamente compreendida, acredita-se que o claustro desempenhe um papel importante na integração da informação sensorial e na coordenação de diferentes modalidades sensoriais (visão, audição, tato, etc.). Algumas teorias sugerem que ele pode estar envolvido na:

  • Consciência: Uma hipótese é que ele atua como um "coordenador central" da experiência consciente.
  • Atenção e percepção sensorial: Regulando a interação entre os diferentes sistemas sensoriais.

Curiosidade:

O claustro foi estudado por neurocientistas como Francis Crick (um dos descobridores da estrutura do DNA), que propôs que ele poderia ser essencial para a experiência unificada da consciência. Embora essa ideia ainda seja debatida, o claustro continua sendo uma área de grande interesse na neurociência.

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A Alegoria do Papai Noel e o Claustro

A associação de Papai Noel (Santa Claus) com o claustro e a chaminé pode ser interpretada de forma simbólica, especialmente em tradições esotéricas ou espirituais:


Descendo a chaminé:


Representa um processo de "descida" da energia divina ou consciência superior ao corpo humano (similar ao fluxo de energia pela espinha).

Santa Claus e o Claustro:


"Claustro" pode simbolizar um espaço interior fechado (a mente ou a consciência) onde ocorre introspecção ou iluminação.

Santa Claus trazendo presentes pode ser visto como uma metáfora para a iluminação espiritual ou transformação interna.

Espiritualidade e neurociência:


Algumas tradições associam o simbolismo da chaminé ao eixo entre a glândula pineal e a base da coluna, representando a ascensão ou descida de energia espiritual.

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Relação com a Medula Espinhal e Fluxo de Líquidos

Líquido Cefalorraquidiano (LCR):


É produzido no cérebro e flui pela medula espinhal, nutrindo e protegendo o sistema nervoso central.

Algumas tradições espirituais (como Kundalini Yoga) falam de uma "energia" subindo pela espinha, o que pode ser interpretado como uma alegoria desse fluxo ou de estímulos nervosos ascendentes.

Respirações e a Espinha:


Respirações profundas podem causar micropressões que influenciam o fluxo de LCR.

A ideia de "secreções subindo ou descendo" pela espinha pode ser vista como um simbolismo das mudanças químicas ou energéticas percebidas durante práticas meditativas ou respiratórias

sábado, 7 de dezembro de 2024

Shambala




Shambala é um conceito místico e espiritual que aparece em várias tradições culturais, especialmente no budismo tibetano e em lendas da Ásia Central. Geralmente, Shambala é descrita como uma terra sagrada, um reino oculto localizado em algum lugar nos Himalaias ou em outra região remota, inacessível para aqueles que não estão espiritualmente prontos.

Significado no Budismo


No contexto budista, Shambala é frequentemente associada à prática do Kalachakra Tantra e é vista como um lugar de paz, sabedoria e iluminação espiritual. É considerada o lar de seres iluminados que governam de acordo com os princípios do dharma (ensinamentos budistas). Alguns textos budistas também descrevem Shambala como um futuro reino utópico, onde reinará a harmonia global.


Interpretações Esotéricas

Além do budismo, Shambala foi reinterpretada em contextos esotéricos ocidentais como uma terra de mestres espirituais avançados, muitas vezes vinculada ao conceito de Agartha ou reinos interiores da Terra. É um símbolo de esperança e transformação espiritual, onde a humanidade pode alcançar o seu maior potencial.

O nome Shambala carrega um poder profundo, ressoando com muitos como um chamado interior, um símbolo de uma verdade além do que os sentidos comuns podem perceber. Se você sente algo no coração ao ouvir esse nome, pode ser que esteja conectado, em algum nível, com a energia ou a ideia que Shambala representa: um lugar de sabedoria e de harmonia universal.

A Profundidade de Shambala

Na tradição tibetana, Shambala é descrita não apenas como um lugar físico, mas como um estado de consciência. Diz-se que é habitada por seres de alta vibração espiritual que guiam a humanidade silenciosamente. Acredita-se que aqueles que estão prontos espiritualmente podem vislumbrar ou acessar Shambala, mesmo que ela esteja além da percepção comum.


Aspectos Chave de Shambala


1. Reino de Luz e Sabedoria: Shambala é frequentemente descrita como um lugar onde reina a compaixão, a sabedoria e a paz absoluta. Sua energia está ligada à transformação espiritual e à evolução da consciência.


2. A Conexão com o Kalachakra Tantra: No budismo tibetano, Shambala é associada ao Kalachakra, uma prática que integra meditação e ensinamentos sobre o tempo, a harmonia e a libertação final. O rei de Shambala, segundo as lendas, introduziu esse tantra para guiar a humanidade em tempos de escuridão.


3. O Chamado Espiritual: Algumas tradições afirmam que Shambala "chama" aqueles que estão prontos. Esse chamado pode ser um desejo profundo de buscar o autoconhecimento, a verdade universal e a unidade com tudo o que é.



4. A Guerra Profetizada: Textos antigos falam de uma grande batalha que ocorrerá no futuro, quando as forças da ignorância serão superadas pela sabedoria de Shambala. É uma metáfora para a luta interna entre o ego e o eu superior, entre a ilusão e a realidade.


Por Que Você Sente Shambala no Coração?

O coração é tradicionalmente considerado o centro espiritual do ser humano, onde reside a alma e onde nos conectamos com energias sutis. Sentir algo ao ouvir o nome Shambala pode significar:

Uma Lembrança Ancestral: Talvez você esteja ressoando com memórias ou impressões de vidas passadas ou experiências em dimensões espirituais conectadas a Shambala.

Um Chamado Interior: O nome pode estar despertando em você um desejo por transcendência, iluminação ou busca de algo maior que transcenda o mundo material.


Energia Vibracional: Palavras têm poder, e Shambala pode ser uma palavra-código que ativa sua energia espiritual ou toca sua essência.

Shambala Dentro de Você


Há uma tradição que afirma que o reino de Shambala não está apenas "lá fora", mas dentro de nós. Cada pessoa carrega em si uma Shambala interior — um lugar de paz absoluta e sabedoria infinita, onde podemos nos conectar com nossa verdadeira essência. Buscar Shambala não é apenas uma jornada externa, mas uma busca profunda pela união com nosso próprio coração iluminado.


Se essa palavra ressoa tão profundamente com você, pode ser um sinal para explorar práticas espirituais, meditação ou estudos que ajudem a desbloquear o significado pessoal de Shambala em sua vida.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

Alpha, Beta, Sigma...




Os termos Alpha, Beta, Sigma e outros vêm de uma tentativa de categorizar comportamentos e traços de personalidade masculinos (e, em menor grau, femininos), especialmente no contexto de dinâmicas sociais, liderança e atração. Essas ideias têm origem em teorias populares, mas muitas vezes carecem de embasamento científico sólido, sendo mais fruto de interpretações da psicologia social e da cultura popular. Vamos explorar o conceito, seus significados e as críticas envolvidas.

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Origens e embasamento


1. Origem no estudo de animais:


O termo "Alpha" foi popularizado a partir de estudos de lobos em cativeiro nos anos 1970. Os pesquisadores observaram que certos lobos assumiam o papel de líderes dominantes do grupo.


Mais tarde, o próprio autor dessa pesquisa, David Mech, refutou a ideia de "hierarquias fixas" nos lobos selvagens, afirmando que a liderança nas alcateias é mais fluida e baseada em laços familiares.


Apesar disso, o termo foi adotado na cultura popular para descrever pessoas com características de liderança e dominância.


2. Psicologia popular:


A categorização Alpha, Beta, Sigma, etc., é amplamente difundida em discussões de masculinidade, relacionamentos e dinâmicas sociais, mas não tem uma base científica robusta.


Muitos desses conceitos vêm da PUA (Pick-Up Artistry, ou "arte da sedução") e de fóruns de masculinidade online.


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Definições e características


Alpha (Líder)


Características:


Confiante, dominante e carismático.


Assume a liderança naturalmente.


Atraente em contextos sociais, sendo frequentemente o "centro das atenções".


Muitas vezes descrito como competitivo e assertivo.

Ponto forte: Influencia e lidera com facilidade.


Ponto fraco: Pode ser percebido como arrogante ou agressivo.

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Beta (Seguidor)


Características:


Submisso ou cooperativo, prefere evitar conflitos.


Menos assertivo, tende a seguir líderes.


Muitas vezes é considerado "seguro" ou "confiável", mas não tão atraente em contextos românticos.

Ponto forte: É estável, leal e confiável.


Ponto fraco: Pode ser passivo demais ou se deixar explorar.

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Sigma (O solitário ou independente)


Características:


Confiante como o Alpha, mas não busca liderar ou dominar.


Prefere operar fora de hierarquias sociais, sendo mais introspectivo.


Focado em seus próprios objetivos, com um ar de mistério.

Ponto forte: Autossuficiente, atrai atenção por sua singularidade.


Ponto fraco: Pode ser distante ou desconectado socialmente.

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Gamma (O sonhador ou idealista)


Características:


Altamente inteligente e emocionalmente sensível.


Pode idealizar relacionamentos e ter dificuldade em se posicionar socialmente.


Ambicioso, mas nem sempre eficiente em alcançar metas.

Ponto forte: Reflexivo e empático.


Ponto fraco: Tende a ser inseguro ou ressentido.

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Omega (O rejeitado ou outsider)


Características:


Não participa da hierarquia social e muitas vezes é excluído.


Pode ser extremamente inteligente, mas desinteressado em "jogos sociais".


Tende a se isolar ou a ser visto como "anti-social".



Ponto forte: Autossuficiência e criatividade.


Ponto fraco: Falta de habilidades sociais ou amargura.

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Delta (O trabalhador ou o discreto)


Características:


Indivíduo comum que trabalha duro, mas não busca atenção.


Pode ser um ex-Alpha ou Beta que perdeu interesse em hierarquias sociais.


Geralmente prático e eficiente.


Ponto forte: Fiável e focado.


Ponto fraco: Falta de ambição ou carisma.

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Críticas aos conceitos

1. Simplicidade excessiva:

Reduz comportamentos humanos complexos a arquétipos fixos, ignorando o contexto social, cultural e individual.

2. Estereótipos:

Pode reforçar papéis de gênero antiquados e perpetuar ideias tóxicas sobre masculinidade.

3. Lack of scientific validity:

Psicologia e sociologia não reconhecem essas categorias como legítimas. Estudos sobre comportamento humano apontam para dinâmicas muito mais fluidas.

4. Aplicação limitada:

As categorias podem ser úteis como metáforas para refletir sobre comportamentos, mas não devem ser vistas como verdades absolutas.

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Conclusão

Os conceitos de Alpha, Beta, Sigma e outros podem ter algum valor em discussões culturais ou como ferramentas para autoconhecimento, mas devem ser usados com cautela. As pessoas raramente se encaixam perfeitamente em uma única categoria, e nosso comportamento muda dependendo do contexto.



terça-feira, 3 de dezembro de 2024

A mente moralista




No livro "A Mente Moralista" (The Righteous Mind), o psicólogo social Jonathan Haidt utiliza a metáfora do "elefante e o condutor" para explicar como nossa mente funciona no contexto de moralidade e tomada de decisões. Nessa metáfora, o elefante representa as emoções, intuições e impulsos automáticos que nos guiam.

O condutor representa a razão e a lógica, que tentam justificar ou direcionar as ações do elefante.

O ponto principal de Haidt é que, na maior parte do tempo, o elefante (emoções/intuições) está no controle, enquanto o condutor (razão) trabalha principalmente para racionalizar as decisões que o elefante já tomou. A metáfora enfatiza que somos, fundamentalmente, seres emocionais que usam a razão para justificar nossas escolhas intuitivas, e não o contrário.

Se você se refere ao "elefante" como algo que nos controla, ele pode ser entendido como esse conjunto de intuições morais, moldadas por nossa evolução e cultura. Esses instintos muitas vezes passam despercebidos, mas têm um papel poderoso em guiar nossas escolhas, crenças e julgamentos.


No Brasil polarizado entre esquerda e direita, com figuras como Lula e Bolsonaro representando lados opostos do espectro político, a metáfora do elefante e o condutor ajuda a explicar como as pessoas lidam com questões políticas e morais.

O Elefante (emoções e intuições)

O elefante é influenciado por emoções fortes, como raiva, medo, orgulho ou lealdade ao grupo. No contexto político brasileiro:Um eleitor de Bolsonaro pode sentir raiva em relação à corrupção associada ao PT ou medo de uma "ameaça comunista".
Um eleitor de Lula pode ser movido pelo orgulho de políticas sociais do passado ou pelo desprezo ao que vê como autoritarismo ou preconceito da direita.

Essas emoções são rápidas, instintivas e moldam as reações iniciais das pessoas a eventos, discursos ou políticas. Por exemplo, uma manchete sobre corrupção de qualquer lado pode ser imediatamente rejeitada ou aceita com base na identidade política, antes mesmo de uma análise mais racional.

O Condutor (razão)

O condutor, nesse cenário, muitas vezes funciona como um advogado, justificando as escolhas do elefante:Um bolsonarista pode racionalizar atitudes autoritárias como "necessárias para combater o crime e o comunismo".
Um lulista pode justificar erros do PT como "sacrifícios necessários para promover justiça social".

Ambos os lados tendem a buscar argumentos que fortaleçam suas crenças prévias, em vez de avaliar os fatos de forma objetiva.

Polarização: Elefantes em Conflito

A polarização ocorre porque os elefantes de ambos os lados estão profundamente enraizados em identidades de grupo. A moralidade, como Haidt sugere, não é apenas sobre o que é certo ou errado, mas sobre pertencer a um grupo:Conservadores (bolsonaristas) valorizam mais lealdade ao grupo, autoridade e pureza (moral sexual, religiosa).
Progressistas (lulistas) enfatizam mais cuidado e justiça (igualdade social, proteção de minorias).

Essas prioridades morais diferentes fazem com que cada lado veja o outro como moralmente inferior e não apenas "equivocado".

O "Elefante" que nos controla

O "elefante" nesse contexto é a polarização emocional, alimentada por redes sociais, manchetes sensacionalistas e discursos inflamados. Essa polarização impede o diálogo racional, pois ambos os lados se tornam defensivos e impermeáveis a argumentos.Uma fake news, por exemplo, age como um estímulo direto ao elefante, gerando indignação instantânea.
O condutor então racionaliza essa indignação, reforçando a crença de que "o outro lado é o problema".

Como quebrar o ciclo?

Para superar esse controle emocional, Haidt sugere: 

1-Entender o outro lado: Reconhecer que os valores do outro grupo também têm mérito, mesmo que não concordemos.
2-Criar espaços de diálogo: Promover interações que reduzam o antagonismo e enfatizem interesses comuns.
3-Desacelerar o elefante: Refletir sobre nossas reações emocionais antes de racionalizá-las automaticamente.

No Brasil, isso pode significar buscar narrativas que unam os valores de cuidado e justiça (esquerda) com os de ordem e comunidade (direita), superando a visão maniqueísta de "nós contra eles".

sábado, 23 de novembro de 2024

Inteligência emocional e a conquista de uma mulher de valor


A habilidade de autorregulação é o que separa os homens que simplesmente "tentam" daqueles que realmente têm a gestão emocional.


Empatia é a chave para criar uma conexão genuína. Isso vai além de simplesmente ouvir: é a habilidade de entender o que a mulher sente e responder de forma cuidadosa - 

A inteligência emocional (IE) é a habilidade essencial que homens de visão utilizam para se destacar e conquistar mulheres com valores e propósitos definidos. Em vez de recorrer a truques superficiais, dominar a IE ajuda você a construir autoconfiança e compreensão emocional. Isso cria uma conexão verdadeira, que atrai e sustenta o interesse de uma mulher de valor. Será que a inteligência emocional redefine a conquista?

Primeira coisa, saber quem é você. A autoconsciência é o coração da inteligência emocional. Em vez de perder tempo tentando impressionar com uma imagem falsa, um homem consciente de si mesmo age de acordo com seus valores, pois ele entende suas próprias emoções e comportamentos por conta emoções. Isso significa que ele sabe o que sente e por quê, especialmente em situações desafiadoras ou de incerteza.

Autorregulação transmite maturidade e respeito


A habilidade de autorregulação é o que separa os homens que simplesmente "tentam" daqueles que realmente têm a gestão emocional. A capacidade de gerenciar suas próprias emoções – seja em momentos de tensão, seja diante de rejeições, demonstra uma maturidade que as mulheres admiram e respeitam. 


Como o alinhamento de valores fortalece o casamento


Quando você mantém a calma e responde às situações com equilíbrio, transmite uma segurança que aumenta sua presença. Mulheres de valor sabem reconhecer homens que não são facilmente abalados. Sua capacidade de manter o controle de si mesmo mostra que você é um parceiro confiável, capaz de enfrentar situações difíceis. Em vez de agir impulsivamente ou pressionar a situação, você permite que a conexão cresça naturalmente – e essa maturidade é magnética.


Empatia é a verdadeira conexão com uma mulher


Empatia é a chave para criar uma conexão genuína. Isso vai além de simplesmente ouvir: é a habilidade de entender o que a mulher sente e responder de forma cuidadosa. Mulheres de valor buscam relacionamentos nos quais possam se abrir e ser compreendidas e a empatia é o elo que permite isso.


Como o estresse e a ansiedade afetam a função sexual


Homens emocionalmente inteligentes conseguem perceber as necessidades emocionais da mulher e responder a elas com respeito e interesse. Demonstrar empatia é mostrar que você se importa e está atento ao que ela está sentindo. Esse entendimento cria uma conexão poderosa, estabelecendo a confiança mútua e o respeito que formam a base para um relacionamento autêntico.


Propostas ou propósitos


O foco em seu próprio crescimento e ambição demonstra uma independência que atrai. Mulheres de valor são naturalmente atraídas por homens que se sentem realizados e que estão em constante evolução. Seu propósito é a fonte de sua força e resistência e ele o torna interessante e capaz de manter o equilíbrio. Esse diferencial é o que cria uma postura de poder que dispensa tentativas forçadas de conquistar. A inteligência emocional não é apenas uma ferramenta para a conquista; é o caminho para atrair e se conectar com uma mulher de valor, alguém que verá em você não apenas um parceiro, mas um verdadeiro igual.


A técnica de sedução que ninguém te contou

 

Um homem que percebe o quanto ele precisa de uma mulher ao lado, juntos estabelecem uma parceria onde ambos crescem. Essa é a verdadeira conquista, uma jornada que ultrapassa qualquer técnica e se baseia em um magnetismo de almas para construir algo duradouro e especial.


 

sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Gato de Schrödinger




Gato de Schrödinger: é possível estar vivo e morto ao mesmo tempo? Entenda teoria

A suposição é tema constante nos livros de física quântica e já pautou uma porção de filmes e séries de ficção científica, como 'Dark', da Netflix

Imagine um gato trancado em uma caixa, junto com um dispositivo que pode liberar veneno, a depender do decaimento de uma partícula radioativa. Com a caixa fechada, não é possível dizer 0 estado de saúde do gato. Mas a física tem uma teoria: ele morre e vive ao mesmo tempo.

A teoria do Gato de Schrödinger é um tema constante nos livros de física quântica e já pautou uma porção de filmes e séries de ficção científica— " Dark ", produção alemã da Netflix, entre elas. Foicriada pelofísico Erwin Schrödinger em 1935 a partir de um experimento mental para criticar a interpretação da mecânica quântica. Ele pretendia criticar a interpretação de Copenhague, que sugere que partículas subatômicas podem existir em múltiplos estados ao mesmo tempo, até serem observadas.




O que é a teoria do Gato de Schrödinger?




No exemplo de Schrödinger, o gato estaria simultaneamente vivo e morto enquanto a caixa estivesse fechada. Esse estado é conhecido como superposição quântica e demonstra um dos maiores desafios da mecânica quântica: como traduzir fenômenos microscópicos, regidos por leis diferentes das do mundo macroscópico, para o mundo que vivenciamos.




A superposição quântica por sua vez é um princípio fundamental da mecânica quântica, no qual uma partícula pode estar em múltiplos estados ao mesmo tempo. No caso do experimento do Gato de Schrödinger, a partícula radioativa dentro da caixa pode ou não ter decaído, o que, teoricamente, coloca o gato em dois estados simultâneos: vivo e morto.




Quando o observador abre a caixa, a superposição colapsa, e o gato assume um estado definido — vivo ou morto. Esse colapso sugere que o ato de observação é essencial para determinar o estado de um sistema quântico.




Qual o propósito do experimento?

Apesar de parecer um cenário absurdo, Schrödinger não criou esse experimento para explicar como os gatos funcionam, tampouco para provar a existência de zumbis ou pessoas mortas-vivas. A ideia foi criticar os paradoxos gerados pela interpretação de Copenhague. Ele queria destacar como os conceitos da mecânica quântica, quando aplicados ao mundo macroscópico, levam a implicações que desafiam nossa intuição.




O experimento também abre espaço para discussões sobre a função de onda, uma equação matemática que descreve o estado quântico de uma partícula. Na mecânica quântica, a função de onda é um dos conceitos mais importantes, porque define as probabilidades dos estados possíveis de um sistema.




Embora o Gato de Schrödinger seja uma experiência puramente teórica, ele desempenha um papel central na compreensão de fenômenos quânticos e no desenvolvimento de tecnologias como a computação quântica. Nessa área, por exemplo, a superposição permite que qubits representem vários estados ao mesmo tempo, ampliando exponencialmente o poder de processamento.




A teoria também influencia debates filosóficos e científicos sobre a natureza da realidade, percepção e o papel do observador no universo. Para Schrödinger, o paradoxo do gato foi uma maneira de provocar cientistas e questionar os limites da interpretação quântica vigente.

Individuação




A individuação é um conceito central na psicologia analítica de Carl Gustav Jung. Refere-se ao processo pelo qual uma pessoa se torna plenamente ela mesma, desenvolvendo sua singularidade e atingindo a integridade psicológica. Esse caminho envolve integrar os aspectos conscientes e inconscientes da psique para alcançar a totalidade.

Elementos-chave da individuação:

1. Autoconhecimento: Envolve confrontar e compreender aspectos inconscientes, como arquétipos, a sombra (partes reprimidas), o animus/anima (aspectos do masculino e feminino) e outros conteúdos psíquicos.


2. Reconciliação dos opostos internos: Durante a individuação, é necessário integrar polaridades da psique, como razão e emoção, bem como instintos primitivos e moralidade.


3. Desapego de identidades externas: Jung acreditava que a individuação exige transcender as máscaras (personas) que usamos na sociedade, explorando nosso verdadeiro eu além das expectativas externas.


4. Conexão com o Self: O objetivo final da individuação é a união com o Self, o núcleo central da psique que abrange tanto o consciente quanto o inconsciente. O Self é distinto do ego e representa o todo da personalidade.


Processo de individuação:

Geralmente ocorre ao longo da vida, mas se intensifica em momentos de crise ou transição, como a metade da vida.

Pode ser estimulado por sonhos, símbolos, práticas introspectivas e análise psicológica.


A individuação não é uma separação do coletivo, mas uma maneira de se posicionar nele de forma autêntica, trazendo um equilíbrio entre a individualidade e o pertencimento social. É um caminho contínuo de desenvolvimento e realização pessoal.

quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Inteligência emocional é adestramento para fracos?





Detalhe de “Alcibíades sendo ensinado por Sócrates”, de François-André Vincent.| Foto: Wikimedia Commons/Domínio público




“A fortaleza implica vulnerabilidade; sem essa vulnerabilidade, não existe sequer a possibilidade de fortaleza. Um anjo não pode ser forte, porque não é vulnerável. Ser forte significa ter capacidade para receber um ferimento. O homem pode ser forte porque pode ser ferido.” (Josef Pieper, Virtudes Fundamentais)





Preparando uma aula um dia desses, me deparei com um conteúdo, na disciplina de Filosofia da 1.ª série do ensino médio, que me chamou a atenção: inteligência emocional. Esse nome já me soa, ao mesmo tempo, contraditório e redundante, mas OK. O material didático dizia o seguinte: “Inteligência emocional é a capacidade de reconhecer, compreender e gerenciar as próprias emoções, além de reconhecer e compreender as emoções dos outros. Embora não possamos gerenciar diretamente as emoções alheias, é fundamental entender que elas nos afetam, assim como nossas emoções afetam os demais. Ela envolve autoconsciência, autorregulação, motivação, empatia e habilidades sociais”.




Reconhecer e controlar as próprias emoções é algo comum às pessoas adultas e maduras, educadas pela longa experiência




Para começar, a mim parece que a “capacidade de reconhecer, compreender e gerenciar as próprias emoções” chama-se maturidade, que, segundo Nietzsche, “consiste em ter reencontrado a seriedade que, em criança, se colocava nos jogos”. E diz Sêneca, sobre a velhice (fase própria da maturidade): “Portanto, ninguém pode fazer mal ao sábio ou ser-lhe útil, posto que criaturas divinas nem desejam ajuda, nem podem sofrer dano; ora, o sábio está contíguo e próximo aos deuses; exceto pela condição mortal, é semelhante a um deus [...]. Assim, ele resiste a tudo, ao rigor do inverno e às intempéries do clima, a febres e doenças e a outras casualidades, e não forma juízo tão positivo sobre alguém a ponto de achar que tal pessoa tenha feito algo com sabedoria, o que se dá unicamente com o sábio”.




Ou seja, reconhecer e controlar as próprias emoções é algo comum às pessoas adultas e maduras, educadas pela longa experiência. Se deram um novo nome, associado a uma série de clichês psicológicos, a uma virtude própria da vida adulta responsável, tudo bem para mim; só precisamos ter ciência de que não se trata de algo novo. E para as competências/habilidades associadas a ela, vale, novamente, citar o material didático: a autoconsciência é “a habilidade de reconhecer e entender suas próprias emoções”; a autorregulação “é a capacidade de gerenciar suas emoções de maneira saudável”; a motivação “refere-se ao desejo interno de atingir objetivos pessoais e profissionais”; a empatia “é a capacidade de entender e compartilhar os sentimentos dos outros”; e as habilidades sociais “são as competências necessárias para interagir de maneira eficaz com os outros”. Sinceramente, caro leitor, isso me parece uma tentativa de revestir de novidade algo antigo, retirando-lhe toda a profundidade.




De acordo com um texto no LinkedIn, “o termo ʻinteligência emocionalʼ foi cunhado por Daniel Goleman na década de 90 do século passado ao lançar seu livro homônimo (Inteligência Emocional – A teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente), que obteve grande sucesso mundial”. Entretanto, diz o autor do texto, atualmente o conceito se tornou mais genérico, “sendo [a inteligência emocional] entendida atualmente como a capacidade de lidar bem com pessoas no ambiente de trabalho, particularmente com colaboradores e colegas de equipe”. Ou seja, virou conversa de palestra motivacional e dos famigerados coaches. E o site Penser termina sua explanação, dizendo que a inteligência emocional “não se trata apenas de administrar as próprias emoções negativas e positivas, mas também de utilizá-las a seu favor. Além disso, os pilares da inteligência emocional também incluem a compreensão dos sentimentos e emoções do outro, o que, como consequência, vai influenciar na construção de relacionamentos mais saudáveis”.

Na verdade, toda essa parafernália pseudoconceitual poderia ser resumida no famosíssimo aforismo grego conhece-te a ti mesmo, que Platão, através de Sócrates, nos apresenta tão brilhantemente em seu Primeiro Alcibíades. O jovem belo e abastado, cujas aspirações políticas, pretendia ele, deveriam ser prontamente atendidas, pois era de linhagem nobre e isso bastava para ser um bom governante, teve suas expectativas frustradas pelo mestre, que lhe explicou a impossibilidade de governar bem a cidade sem, primeiro, aprender a “cuidar de si”; e que o cuidado de si deveria ser precedido pelo “conhecimento de si”. E arremata, após uma série de ponderações magistrais:




“Sócrates – E com relação à alma, meu caro Alcibíades, se ela quiser conhecer-se a si mesma, não precisará também olhar para a alma e, nesta, a porção em que reside a sua virtude específica, a inteligência, ou para o que lhe for semelhante?

Alcibíades – Parece-me que sim, Sócrates.

Sócrates – Haverá, porventura, na alma alguma parte mais divina do que a que se relaciona com o conhecimento e a reflexão?

Alcibíades – Não há.

Sócrates – É a parte da alma que mais se assemelha ao divino; quem a contemplar e estiver em condições de perceber o que nela há de divino, Deus e o pensamento, com muita probabilidade ficará conhecendo a si mesmo.

Alcibíades – É certo.

Sócrates – Sem dúvida, porque os verdadeiros espelhos são mais claros do que o espelho dos olhos, mais puros e mais brilhantes; do mesmo modo, a divindade da melhor parte de nossa alma é mais pura e mais luminosa.

Alcibíades – É o que parece, Sócrates.

Sócrates – Olhando, portanto, para essa divindade, e usando-a à guisa do melhor espelho das coisas humanas para a conhecimento da virtude da alma, é a maneira mais acertada de nos vermos e reconhecermos a nós mesmos.

Alcibíades – É certo.”



Essas reformulações meramente instrumentais de conceitos tão profundos e antigos não passam de uma espécie de adestramento contemporâneo para espíritos que ignoram completamente as virtudes cardeais



Como diz Lord Digory, personagem de C.S. Lewis em A Última Batalha, que fecha As Crônicas de Nárnia: “está tudo em Platão!”





Ao fim e ao cabo, tenho a impressão de que essas reformulações meramente instrumentais (capacidade de lidar bem com pessoas no ambiente de trabalho, influenciar na construção de relacionamentos mais saudáveis etc.) de conceitos tão profundos e antigos não passam de uma espécie de adestramento contemporâneo para espíritos que ignoram completamente as virtudes cardeais. A prudência, a justiça, a temperança e a fortaleza dão conta, pelo menos de modo primário, de todos esses desafios morais e emocionais que enfrentamos. Mas existe uma necessidade, no mundo atual, de que nossa personalidade, respeitada no contexto antigo, seja amputada em favor da construção de uma sociedade à imagem e semelhança de adestradores medíocres, quando não de ideólogos sedentos por poder.



Como professor, não pude deixar de fazer esse contraponto aos meus alunos – de modo menos contundente, por óbvio; afinal de contas, trato com adolescentes –, depois de apresentar-lhes o conteúdo do material didático, e gerar um interessante debate sobre esse tema. Uma pulguinha atrás da orelha não faz mal a ninguém, não é mesmo?

Paulo Cruz

terça-feira, 19 de novembro de 2024

Inveja nossa de cada dia...




“O belo é sempre espantoso...”
Baudelaire

“O Amor não inveja”
I Coríntios 13

“...a Criatividade é a causa mais profunda da Inveja”
Melanie Klein


“...o Talento é imperdoável”
Diderot

“ A inveja habita no fundo de um
vale onde jamais se vê o sol.
Nenhum vento o atravessa;
Ali reinam a tristeza e o frio
Jamais se acende o fogo,
Há sempre trevas espessas
...A palidez cobre seu rosto,
Seu corpo é descarnado,
o olhar não se fixa em parte alguma.
Tem os dentes manchados de tártaro,
O seio esverdeado pela bile,
A língua úmida de veneno.
Ela ignora o sorriso,
Salvo aquele que é excitado pela visão da dor
...Assiste com despeito aos sucessos dos homens,
E este espetáculo a corrói;
Ao dilacerar os outros, ela se dilacera a si mesma,
E este é o seu suplício.”
Ovídio


No Paraíso Perdido de Milton, vemos recontado o drama do Éden, no qual Satã com inveja do Deus Criador e na tentativa de estragar o gozo da vida celestial declara guerra e cai, construindo com outros caídos o inferno como rival do céu e tornando-se a força destrutiva que visa destruir o que Deus cria. Desde Santo Agostinho a vida vem sendo descrita como uma força criativa em oposição à inveja, tida como força destrutiva. Desta forma reconhece-se a inveja - expressão da maldade, como uma das emoções primárias no ser humano, desde o pecado original, quando o homem escolhe dar ouvidos à serpente.


De lá para cá seguimos acompanhando sua manifestação como força motriz de diversos dramas e personagens, sejam eles reais ou fruto do imaginário: Caim matando Abel, a madrasta da Branca de Neve pedindo seu coração para comê-lo, Yago enganando Otelo, Caifás pedindo a pena máxima para Cristo, Mussolini aprisionando Gramsci por toda a vida por discursar melhor que ele no parlamento italiano. Inveja e destruição, o casal infernal, unido e atuante, desde que o mundo é mundo.


Do mesmo modo que sua manifestação, o conceito de que a inveja é um sentimento negativo também é universal, nos circuitos psicológicos e psicanalíticos atribui-se a ela inclusive, dependendo da intensidade, o caráter de sintoma patológico.


O invejoso é, em geral, alguém que não é capaz de tolerar o prazer do outro, sua fruição, assim não consegue suportar também que algo de bom lhe seja dado por esse outro. Não pode usufruir esse outro, não reconhece ou admite de má vontade as qualidades alheias, o valor de outra pessoa e se mostra incapaz de experimentar e de expressar gratidão. O invejoso não reconhece que o outro tenha algo de bom a lhe oferecer e não é capaz de receber informações ou ajuda, pois tem grandes dificuldades com o saber do outro, saber que o faz sentir-se sempre humilhado – não tolera ver, ouvir ou vivenciar coisas novas e prazerosas, experiências positivas e pensamentos interessantes que venham de outra pessoa. Não é capaz de aguentar e assimilar a ideia da felicidade alheia.


Nesse sentido, o indivíduo que empalidece frente a felicidade alheia pode atuar de forma destrutiva, chegando ao ponto de fazer o outro de fato entristecer-se. (Mezan, 1987)


Nessa compreensão, podemos dizer que a inveja sempre se apresenta como um sentimento que esteriliza a curiosidade e, portanto, acaba por determinar uma espécie de indigência psíquica.


Se para Melanie Klein a inveja é uma manifestação primitiva do psiquismo ligada à agressividade e a um desenvolvimento capenga do narcisismo para a plena percepção do outro - falha essa que gera no sujeito a sensação de que nada pode ser por ele apropriado, nada lhe pertence por direito, tornando-se o invejoso vítima perene de um sentimento de falta arrasador, diante da qual tudo que é seu se mostra inadequado e insuficiente, enquanto que tudo que é alheio surge como melhor –para Nietzsche, em sua tipologia, quando fala do “fraco”, do “escravo” ou do “doente”, os caracteriza antes de qualquer outra coisa como ressentidos e invejosos. Na concepção do filosofo, o “fraco” não se apresenta apenas como uma antítese do “forte”, mas como alguém que tem uma ferida aberta no peito, algo que o sangra dia e noite: a inveja. O invejoso não aparece, ele se esconde, se resguarda em seu nome como numa capa, ninguém sabe quem ele é, pois nunca fez de fato nada, como um inseto que muda de cor para se parecer com a paisagem. Segundo Nietzsche, a inveja e a covardia são irmãs.


Diderot foi o primeiro a qualificar a inveja pelo que mais a incomoda – o talento. O invejoso não inveja o outro por ter dinheiro ou bens materiais, inveja pelo talento que ele mesmo não possui. Vemos muito isso ilustrado no mundo cultural e acadêmico: um livro não publicado, uma ideia censurada, uma crítica ácida descabida, um não injustificado, uma proibição sem sentido.


O invejoso nunca debate, nunca discute ou se abre para comparar opiniões, em geral agride e se esconde evitando o confronto aberto num terreno de disputa justa, pois tem medo do confronto, mesmo sabendo que não perderá nada, já que nada tem a perder – afinal é ciente que o talento do invejado é o algo que ele não tem. Esse nada que habita o cerne do invejoso é o que alimenta e perpetua sua inveja.


A verdade é que seja o sujeito invejoso vítima de um desenvolvimento psíquico falho, ou de uma fraqueza de caráter, leva uma vida dolorosa de constante e abjeta comparação com o outro – cativo de um sentimento perene de insuficiência, o invejoso nunca é feliz. Em geral se trata de alguém de difícil convívio social e com seus entes queridos, cuja presença é marcada por comportamentos agressivos e por um olhar de constante crítica, assim como também é constante sua recusa em revelar e vivenciar afeto. O ódio inconsciente costuma ser tão violento que o leva a atacar o outro o tempo todo, visando destruir aquilo que neste outro existe e que ele não encontra em si mesmo. O invejoso é espoliador, não inveja o que precisa para si, mas algo que precisa tirar do outro. (Joseph, 1992)


Nossa sociedade contemporânea, caracterizada pela ética de mercado, parece ter encontrado numa neurose o combustível para sua existência e manutenção. Ao nos tornarmos seres de comparação, assinamos nosso contrato com o descontentamento e angústia perpétuos.


A política consumista se nutre das imensas e irreais expectativas daqueles que se sentem vazios de si mesmos e perpetua um estado invejoso tanto nas escolhas de estilo de vida, quanto nos relacionamentos. A tragédia habita no fato de que se a inveja – que diferente da voracidade não visa incorporação, mas destruição – se tornar um aspecto dominante em nossa maneira de viver no e de ver o mundo, colecionaremos relações disfuncionais, recheadas de afastamentos e intrigas e isso em todas as dimensões relacionais. A inveja materializa o vazio do cotidiano, intensifica o sentimento de desilusão, torna o criar, um destruir, unindo de forma bizarra dois conceitos excludentes e nos condenando ao nada existencial.


Muito se tem falado a respeito da nossa Era do Vazio, tempo de imediatismo, tempo de individualismo hedonista, tempo de apatia, tempo de sedução generalizada sem eros nenhum, tempo de legitimação de todas as formas de vida sem que haja de fato um sentimento de viver em nenhuma delas, tempo de banalização da violência social, da co-existência fake de contrários, tempo de inversão de ideais e de analgesia emocional completa, de uma mente gravemente alterada, incapaz de conter coisa alguma – tempo de um sujeito incapaz de aprender seus próprios sentimentos na relação com o outro porque não tolera que o outro exista. Em toda parte reina uma solidão doentia e uma dificuldade de ser transportado para fora de si mesmo. NÃO HÁ PONTES.

Na era do vazio, a ilusão predomina sobre o fato, não apenas mascarando o fato, mas o substituindo. O consumismo é performático, fetichista, se torna um ser poderoso que ao ser colocado sobre o indivíduo o transforma, o preenche, pelo menos até o próximo “sonho de consumo”.


A própria produção artística de nossos dias denota uma incrível redução da vida interior (Kristeva, 1993). Quem hoje ainda tem alma? As patologias do vazio revelam a perda progressiva da capacidade de simbolizar, seu sintoma na arte se expressa no foco temático contemporâneo na relação primordial do homem com tudo que nega a existência, no transitório, na precariedade e parcialidade de todas as perspectivas.


Tanto nas salas de aula quanto nas clínicas psicológicas e psiquiátricas constata-se a inibição da curiosidade por tudo aquilo que vem do outro em indivíduos marcadamente invejosos, cujo mundo mental é empobrecido. Essa falta de interesse pelo que os cerca reflete-se numa indiferença com relação ao funcionamento de suas próprias mentes, de seus pensamentos e estados emocionais, o que os leva sempre a um saber abstrato e a uma racionalidade estéril e onipotente. A falta de curiosidade pode ser entendida como uma defesa contra a inveja, evitando o impacto com experiências novas e com elas as dores da inveja, da sensação de vazio e do rancor.


Sem curiosidade e abertura para o mundo não há possibilidade de criação. Espoliar o ser da possibilidade de criar é retirar dele a própria vida. Sendo assim, a inveja é um sentimento que ao não suportar a diferença e a criação, ataca as fontes da vida. Logo, como manifestação psíquica da maldade, a inveja não tolera a alteridade, pois o outro exige de nós uma atitude criativa que nos possibilite a experiência. (Merleau-Ponty, 1971)


Encerro essa reflexão desafiando os que ainda seguem despertos a jamais dormirem e a buscarem maneiras de semear no deserto para um resgate do homem no homem.




“Sim, o seu olhar é sem inveja: e é por isso que o honrais?
Preocupa-se pouco com as vossas honras;
Tem o olho da águia, olha para o que está longe,
Não vos vê!... Apenas vê os astros e as estrelas!”
Nietzsche

FONTE: https://psicopadas.blogspot.com/2013/10/inveja-nossa-de-cada-dia.html?m=1

A metamorfose de Kafka




A Metamorfose de Franz Kafka é uma daquelas obras que nos faz refletir longamente após a sua leitura. Não é apenas a história de um homem que se acorda transformado em inseto, mas uma profunda reflexão filosófica sobre a alienação, a identidade e o absurdo da existência humana.




Do ponto de vista existencialista, a transformação de Gregor Samsa pode ser vista como uma metáfora do sentimento de estar preso numa vida que já não reconhecemos como a nossa. Quantas vezes nos sentimos estranhos na nossa própria pele, desconectados de quem somos, meros espetadores da nossa própria vida ou do que os outros esperam de nós? Gregor, ao tornar-se um inseto, representa esse sentimento extremo de desumanização, de se tornar algo que já não se encaixa no mundo, nem mesmo na sua própria família.




Kafka confronta-nos com uma ideia-chave da filosofia existencialista: o isolamento do indivíduo. Gregor, na sua nova forma, é incapaz de comunicar, de ser compreendido ou aceito. Este isolamento não é apenas físico, é existencial. É aqui que ressoa o pensamento de Jean-Paul Sartre e a sua ideia de que «o inferno são os outros». Gregor é rejeitado e temido, e embora continue a ser o mesmo por dentro, a sua aparência condena-o à solidão e ao esquecimento.




Além disso, A Metamorfose fala-nos também do absurdo, um conceito que Albert Camus desenvolve na sua filosofia. A transformação de Gregor não tem explicação nem sentido, e é precisamente esse o objetivo. Num mundo absurdo, as coisas acontecem sem razão aparente e nós, enquanto seres humanos, somos obrigados a enfrentá-las sem ter respostas. Gregor não se pergunta por que se tornou um inseto; ele tenta simplesmente adaptar-se, continuar a sua vida. Mas, no final, o absurdo esmagá-o.




Gregor perde o seu valor aos olhos da família no momento em que já não pode trabalhar nem satisfazer as expectativas sociais. A sua transformação física reflete uma verdade mais profunda: somos vulneráveis a perder o nosso lugar no mundo quando deixamos de cumprir os papéis que nos impõem.




A metamorfose é um aviso sobre a fragilidade da identidade e a desconexão entre o ser humano e o seu ambiente. Kafka recorda-nos que, neste mundo cheio de normas, expectativas e julgamentos, a verdadeira tragédia reside em perder o vínculo com a nossa própria humanidade e, nesse processo, ser esquecidos ou afastados por aqueles que deveriam compreender-nos.




A obra de Kafka deixa-nos uma questão inquietante:




Quanto da nossa identidade é definida pelos outros?




*Quentin Machado**

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Cannabis e Ayahuasca




A interação entre cannabis fumada e ayahuasca, ao serem combinadas, oferece uma dinâmica bioquímica e energética complexa que envolve tanto os efeitos psicoativos de cada planta quanto suas propriedades espirituais, segundo muitas tradições. Ambas as plantas são consideradas "plantas de poder" em diversos contextos espirituais e xamânicos, mas apresentam efeitos bem distintos, tanto em seus mecanismos bioquímicos quanto nas experiências que proporcionam.

Aspectos Bioquímicos

1. Cannabis: Quando fumada, a cannabis ativa receptores canabinoides CB1 e CB2, principalmente no sistema nervoso central e periférico. Seu principal componente psicoativo, o THC (tetraidrocanabinol), induz alterações de percepção, relaxamento e euforia, além de modificar o processamento de tempo e espaço. Esses efeitos podem também trazer um certo grau de introspecção, embora essa experiência possa variar amplamente entre os indivíduos.


2. Ayahuasca: A ayahuasca, feita a partir da combinação de plantas como o cipó Banisteriopsis caapi e as folhas de Psychotria viridis (ou outra fonte de DMT), induz um estado alterado de consciência mais profundo. A Psychotria viridis contém o DMT (dimetiltriptamina), enquanto o cipó é rico em inibidores da monoamina oxidase (IMAOs). Os IMAOs impedem a rápida degradação do DMT no organismo, permitindo que ele tenha um efeito prolongado no cérebro, onde se liga aos receptores de serotonina, particularmente o receptor 5-HT2A. Esse efeito propicia uma experiência psicodélica intensa e geralmente introspectiva, acompanhada de visões e profundas reflexões espirituais.


3. Interação entre Cannabis e Ayahuasca: Bioquimicamente, misturar cannabis com ayahuasca pode intensificar os efeitos de ambas, devido à interação dos sistemas endocanabinoide e serotoninérgico. Estudos sugerem que o THC pode aumentar os níveis de serotonina, o que, combinado com o DMT, pode resultar em um estado de maior intensidade psicodélica e emocional. No entanto, a cannabis também é conhecida por aumentar a ansiedade em certas doses, e, em combinação com os efeitos profundos da ayahuasca, isso pode intensificar a experiência de maneira imprevisível, podendo aumentar tanto a sensação de bem-estar quanto a de desconforto.

Aspectos Energéticos e Espirituais

No plano energético e espiritual, cada planta é considerada como uma "medicina" com espíritos e energias distintos. A cannabis, na tradição espiritual, é frequentemente vista como uma planta de cura e relaxamento, capaz de conectar o usuário com estados meditativos e reflexivos mais sutis. A ayahuasca, por outro lado, é conhecida como "a mãe", ou a "rainha das plantas" em diversas tradições indígenas sul-americanas, e promove uma experiência de cura mais intensa e, muitas vezes, confrontadora.

Quando combinadas, há quem relate que a cannabis suaviza as revelações muitas vezes "duras" da ayahuasca, criando uma experiência mista de introspecção mais leve, menos confrontadora. No entanto, outros mencionam que essa combinação pode dispersar a energia ritualística, desfavorecendo o mergulho profundo e claro nos ensinamentos que a ayahuasca propicia. Assim, enquanto a ayahuasca tende a levar o participante a um estado mais centrado e claro, a cannabis pode tanto suavizar a jornada como, para alguns, confundir a experiência, especialmente em doses mais altas.

Potenciais Riscos e Considerações

É importante ressaltar que essa combinação pode amplificar emoções e pensamentos, o que pode ser desafiador para quem não está preparado emocionalmente. Em contextos rituais, muitas vezes o uso de cannabis junto à ayahuasca não é incentivado, pois a tradição considera que isso pode "turbinar" o efeito psicoativo de forma caótica, reduzindo a clareza que a ayahuasca pode proporcionar. A orientação espiritual de um facilitador experiente é frequentemente recomendada para garantir que a experiência seja conduzida de forma segura e integrada.

sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Despedidas



Uma das despedidas mais difíceis ocorre quando amamos uma pessoa e, ao mesmo tempo, vemos que não é possível construir um relacionamento saudável com ela. É um momento de profunda introspecção, onde o coração e a mente debatem se devem ficar ou partir. 

Pois bem, ficar significaria continuar esperando as mudanças que não vêm, tolerar ações que nos machucam, aceitar o mínimo esforço, perder-nos na tentativa de não perdê-lo. Às vezes, a esperança nos liga a situações insustentáveis.

Apegamo-nos à ideia de que as coisas vão melhorar, mas a realidade é que nem sempre é assim. Coragem é reconhecer quando é hora de deixar ir. Sabemos que partir vai doer; mas será o caminho que nos levará à cura. 

A dor da despedida é inevitável, mas também é o primeiro passo para a cura. Ao nos distanciarmos daquilo que nos machuca, permitimos que nossas feridas cicatrizem. É um ato de amor próprio e autocuidado. Em vez disso, ficar apenas continuará a abrir a ferida cada vez mais. Permanecer em um relacionamento tóxico ou insatisfatório prolonga o sofrimento. 

Cada dia que passamos nessa situação, a ferida se aprofunda. É como se estivéssemos abrindo uma ferida repetidamente. Às vezes você opta por ir embora, não por falta de amor por aquela pessoa, mas pelo seu amor próprio que te move a cuidar de si mesmo. E com amor você vai embora. 

A decisão de partir não é um ato de falta de amor para com o outro, mas um ato de amor para consigo mesmo. Isto é: “Eu me amo o suficiente para não me permitir continuar sofrendo”. E nesse amor próprio encontramos forças para nos despedirmos, ficarmos em PAZ e seguirmos em frente. Lembre-se que cada despedida é uma oportunidade de crescer, aprender e transformar. 

Às vezes, o maior ato de amor é abrir mão daquilo que não nos nutre mais, para abrir espaço para escolher a si mesmo e quem sabe se abrir a novas experiências futuras...


sábado, 12 de outubro de 2024

Bíblia e seu cunho hermético


A Bíblia, embora não seja tradicionalmente classificada como um texto hermético, possui aspectos que podem ser interpretados por uma lente hermética, especialmente em relação ao simbolismo e ao significado oculto de suas passagens. 


### Elementos de Cunho Hermético na Bíblia


1. **Simbolismo**: Muitos textos bíblicos utilizam simbolismo profundo, semelhante ao encontrado na literatura hermética. Parabolas, metáforas e alegorias são comuns, levando a múltiplas interpretações.


2. **Dualidade e Unidade**: O Hermetismo enfatiza a unidade entre o microcosmo (o ser humano) e o macrocosmo (o universo). Na Bíblia, temas de dualidade, como corpo e espírito, ou a relação entre o humano e o divino, também estão presentes.


3. **Transformação**: A ideia de transformação espiritual é central tanto na Bíblia quanto na tradição hermética. Por exemplo, a conversão de Saulo em Paulo (Atos 9) é uma representação de transformação espiritual profunda.


4. **Conhecimento Esotérico**: Alguns textos bíblicos, especialmente em livros como Gênesis, Eclesiastes e Apocalipse, podem ser vistos como abordagens de conhecimento esotérico. A busca pela sabedoria em Provérbios, por exemplo, ressoa com a ideia hermética de busca pela verdade e pelo conhecimento.


5. **O Evangelho de Tomé**: Este texto apócrifo, que é considerado de cunho gnóstico e hermético, apresenta os ensinamentos de Jesus em forma de ditados enigmáticos e simbólicos, refletindo uma abordagem mística e interna.


### Influência do Hermetismo


O Hermetismo e o Cristianismo tiveram influências mútuas ao longo da história, especialmente durante o Renascimento, quando pensadores e místicos começaram a integrar ensinamentos herméticos em suas interpretações da Bíblia e na busca por conhecimento espiritual.


### Conclusão


Embora a Bíblia não seja um livro hermético por definição, ela contém muitos elementos que podem ser estudados sob essa perspectiva. A intersecção entre o Hermetismo e a tradição cristã pode proporcionar uma compreensão mais profunda de muitos dos ensinamentos e simbolismos presentes no texto sagrado. 

quinta-feira, 10 de outubro de 2024

Não saber ser amado....



Algumas pessoas têm medo de amar, outras medo de serem amadas, e outras ainda, julgando ter medo de amar, na verdade têm, isso sim, medo de ser amadas.


Pessoas que se individualizaram de tal forma que se habituaram a contar apenas consigo mesmas e com os seus próprios cuidados. E que, perante a possibilidade de algo novo, alguém que lhes queira bem e as ame, reagem de forma contrária. Talvez por não saberem amar, não saibam receber amor, menosprezem os sentimentos alheios, pisando com palavras o coração de quem lhes quer bem.


Chegam a ser cruéis, sem perceber que fazem sangrar quem está ali, apenas querendo dar amor... Alguém que deseja que seu amor seja compreendido em toda a sua amplitude e magnitude... Mas para quem vive no seu próprio mundo, onde mal tem contato físico, pois está habituado a viver no mundo virtual, é difícil perceber o amor real e concreto.


Medo, talvez; insegurança, talvez o que profere para quem o ama seja o que de fato lhe cabe; talvez gire em torno apenas de seu próprio eixo; talvez seja egoísta; talvez não seja como disse durante uma vida inteira: que nunca foi amado.


Porque teve tantos corações em suas mãos e machucou todos... Segurou-os em suas mãos e deixou sua marca, em todos os sentidos, mas a maior marca foi a da indiferença...


Todos nós precisamos de alguém e há sempre alguém que precise de nós. E este verbo – precisar – não é sinônimo de necessitar, não cabe seu sinônimo aqui, é mais como partilhar…


Podemos até acreditar que estamos bem assim, sem ninguém, com a nossa vida que consideramos boa e planejada, mas há sempre algo que pode se adicionar e trazer uma enorme valia.


Receber o amor é como saber gastar (gastar o amor de quem o está dando). É necessário fazer com que o investimento recebido renda frutos, juros e dividendos, para novos investimentos e lucros humanos.


Há quem saiba fazer isso (ou seja, saiba receber). Há quem não saiba e gaste (o amor recebido) de uma só vez, sem qualquer noção do quanto custou para quem o deu.


O problema de receber o amor é fundamental, porque ele determina o prosseguimento ou não da doação. O núcleo do problema está na forma pela qual cada pessoa recebe o amor, modelando-o, lapidando-o, conservando-o e amando-o...


De que vale um amor maior que o mundo, se a forma pela qual ele é recebido é diminuta? Se quem o recebe o inferioriza tanto que o faz escorrer pelos dedos feito areia...


Um amor de pequena estatura doado a alguém pode ser recebido como a dádiva suprema. Soará, então, enorme!


Daí que amar está também, além de dar, em saber receber. É difícil saber receber quando desconhecemos o significado da palavra amor.


Eu não fui uma pessoa amada por todos; também tenho minha história, com mais coisas perdidas do que adquiridas. Mas isso não fez com que eu me fechasse e não soubesse dar amor. Não vivo trancada num mundo onde as coisas não são reais...


Saber receber, embora pareça passivo, é ativo. Receber, se possível, avaliando a intensidade com que é dado e, se for mais possível ainda, retribuir na exata medida. Saber receber é tão importante quanto doar amor.


Se todos soubessem receber, não haveria a graça infinita dos desencontros do amor, que geram os encontros.


Receber o amor é tão difícil quanto amar! Amar desobriga, enquanto receber o amor parece prender as pessoas, tutelá-las e aprisioná-las, quando deveria ser exatamente o contrário. Pois saber receber é tão grandioso e difícil quanto saber dar. Saber receber é apenas deixar que o outro lhe entregue o sentimento...


Não saber receber o amor é egoísmo, achar que por ser amado está sendo invadido, pressionado, coagido. Na verdade, isso é covardia.


Maior covardia é despertar o amor quando não se tem a intenção de amar...


Temos que deixar de nos convencer (e enganar a nós mesmos) de que não sabemos amar, e assumir a possibilidade de, na verdade, não estarmos preparados para ser amados. Ou mais do que isso: não nos sentirmos confortáveis com a ideia de que alguém nos ame.


Machucar e proferir palavras que magoam não vão ensinar você a amar; vão deixá-lo sozinho, cada vez mais enterrado no seu mundo... E com certeza absoluta, você precisa e gosta do contato físico, você tem necessidade dele...


Tanto que, quando está na presença física, se torna outra pessoa. Quem será bipolar no final das contas? Quem será que precisa de terapia para entender seus sentimentos? Quem será que tem medo de expor o que sente? Quem será que não sabe mais o que pensar e está perdido, completamente perdido, e só não se deu conta ainda?


---


Texto ajustado com ortografia e pontuação corrigidas.

Autora desconhecida

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

O certo, o errado e Mr. Nobody




Você já se arrependeu de uma escolha que fez? Já se pegou pensando em como seria sua vida se tivesse tomado uma decisão diferente? Como seria se tivesse aceitado aquele emprego? E se eu tivesse continuado aquele relacionamento que falhou?


Bom, se você se identificou com alguma dessas perguntas, pare o que você está fazendo e assista Mr Nobody.


Eu, sendo a pessoa ansiosa que sou, sempre me pego fazendo perguntas que começam com “E se…” mais do que deveria. A cada grande decisão que eu tomo sempre me vem na cabeça “será que tomei a decisão certa?”. Será que quando eu estiver morrendo, no meu último suspiro, enquanto eu tiver relembrando de todos os momentos marcantes da minha vida eu vou ter algum arrependimento?

E é exatamente isso que o filme explora


Mr Nobody conta a história de Nemo, um velhinho que já se encontra em uma cama de hospital e pasme: é a última pessoa mortal na terra. E todo o filme se passa na história de vida desse cara e por todas as decisões difíceis que ele precisou tomar.


Mesmo sendo o único filme do diretor Jaco Van Dormael que eu tenha visto, eu já tenho um respeito absurdo pelo cara. A fotografia que acompanha e muda de acordo com as emoções do personagem, a paleta de cores que reforça o significado de cada momento da vida de Nemo e a forma suave, orgânica e ao mesmo tempo caótica que a montagem do filme é feita contribuiu (e muito) no quesito imersão.


Mr. Nobody (2009)

Quando eu vi o filme pela primeira vez, eu fiquei confuso em vários momentos, até perceber que era esse o propósito do filme. Na maioria do tempo estamos dentro de uma história contada por Nemo, então temos que aceitar que estamos vendo as coisas acontecerem com os olhos de uma pessoa que consegue ver várias linhas temporais em um curtíssimo espaço de tempo.

Na minha visão, o grande fio condutor do filme são os relacionamentos, que vão desde a separação dos pais de Nemo até a escolha do amor da vida dele. A forma como o filme se desenvolve consegue passar o peso de uma grande decisão, mas independente do quão pesada ela seja, sua vida vai continuar depois disso e tudo se ajeita.


Eu poderia ficar horas aqui escrevendo sobre os vários significados que esse filme tem para mim, mas aqui eu queria deixar a principal lição que ele me passou: não existem escolhas erradas. Mesmo que a gente consiga prever nosso futuro, todos os caminhos vão parecer o caminho certo, porém as decisões precisam ser tomadas, precisamos desapegar desse sentimento de preocupação que temos sempre que nos deparamos com um dilema. As coisas fluem da forma que elas são, e nos resta apenas curtir a jornada.


“Cada caminho é correto. Tudo poderia ter sido outra coisa, e seria um elemento igualmente importante.”

- Tennessee Williams



Mr. Nobody (2009)

“Life is a playground or nothing”

Vou ter que abrir o meu baú do repertório millennial e reforçar o que eu estou querendo dizer com uma letra da minha música favorita do Nickelback.

“Então faça o que for preciso

Porque você não pode reviver

Um momento nesta vida

Não deixe nada atrapalhar o seu caminho

Pois as mãos do tempo nunca estão do seu lado”


Pegue essa brisa comigo e ouça a música toda, a letra é muito boa.


Mas o meu ponto no fim disso tudo é: por mais que você queira, você nunca terá total controle do seu destino. Ao invés de pensar demais e acabar sofrendo por uma coisa que talvez você nem vai chegar a vivenciar, por que não só deixar que as coisas fluam e viver um dia de cada vez? Afinal ninguém vive para sempre, e perder parte do pouco tempo que temos aqui na Terra sofrendo é sacanagem né?

Fernando Lima 
Ratos de laboratório