sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Atração e oposição



Existem alguns pontos fundamentais que é preciso entender. Primeiro, o homem e a mulher são, por um lado, a metade um do outro e, por outro lado, polaridades opostas. O fato de serem opostos os atrai. Quanto mais distantes estiverem, mais profunda será a atração; quanto maior a diferença entre eles, maior será o charme e a beleza e a atração.

Mas é aí que está todo o problema. Quando eles se aproximam, querem ficar mais próximos ainda, querem se fundir um no outro, querem se tornar um só ser, um todo harmonioso; porém, toda atração depende da oposição, e a harmonia dependerá da dissolução dessa oposição.

A menos que o caso de amor seja muito consciente, ele vai criar uma grande angústia, um grande problema.

Todos os amantes estão numa enrascada. Essa enrascada não é pessoal; ela reside na própria natureza das coisas. Eles não se sentiriam atraídos um pelo outro - isso é chamado de "cair de amores".

Não conseguem nem dar uma razão por que sentem esse impulso em direção ao outro. Eles não têm sequer consciência das causas subjacentes; por isso uma coisa estranha acontece: os amantes mais felizes são aqueles que nunca se encontram!

Depois que se encontram, a mesma oposição que criou a atração se torna um conflito. Em cada detalhe, as atitudes deles são diferentes, as suas abordagens são diferentes. Embora falem a mesma língua, não conseguem se entender.

Um dos meus amigos estava conversando comigo sobre sua esposa e do eterno conflito entre eles. Eu disse, "Parece que vocês não se entendem".

Ele disse, "Entendê-la? Eu mal consigo ficar perto dela!" E se casaram por amor, não foi um casamento arranjado. Os pais deles eram contra; pertenciam a religiões diferentes, as sociedades em que viviam eram contra o casamento com pessoas de outras religiões.

Mas eles brigaram contra todos e se casaram, só para descobrir que a vida deles seria uma briga constante.

O modo como a mente masculina olha o mundo é diferente do da mente feminina. Por exemplo, a mente masculina está interessada em coisas longínquas: no futuro da humanidade, nas estrelas distantes, se existe vida em outros planetas.

A mente feminina simplesmente acha graça dessas tolices. Ela só está interessada no pequeno círculo em torno dela - nos vizinhos, na família, em quem está enganando a mulher, em que mulher se apaixonou pelo chofer.

O seu interesse é local e humano. Ela não está interessada em reencarnação; nem está interessada em vida após a morte. O feminino se concentra no mais pragmático, no presente, no aqui e agora.

O homem nunca está no aqui e agora. Ele está sempre em outro lugar. Ele tem preocupações estranhas: reencarnação, vida após a morte, vida em outros planetas.

Se os dois parceiros estivessem conscientes de que se trata de um encontro entre opostos, de que não existe necessidade de conflito, então há uma grande oportunidade de entender o ponto de vista diametralmente oposto e absorvê-lo.

A partir de então a vida em comum de um homem e uma mulher pode se tornar uma bela harmonia.

Do contrário, ela será uma luta contínua. Existem tréguas. A pessoa não pode viver brigando 24 horas por dia; ela precisa descansar um pouquinho, pelo menos para se preparar para a briga seguinte.

Mas um dos mais estranhos fenômenos é que, embora tenham convivido durante milhares de anos, homens e mulheres continuam sendo estranhos. Eles continuam gerando filhos, mas continuam sendo estranhos.

A perspectiva feminina e a masculina são tão contrárias uma a outra que, a menos que se faça um esforço consciente, a menos que se faça disso uma meditação, não existe esperança de que tenham uma vida pacífica.

Um dos meus maiores interesses é saber como casar a tal ponto a meditação com o ato de fazer amor que todo caso de amor se torna automaticamente uma parceria na meditação, e toda meditação torne você tão consciente que não precise mais cair de amores, mas possa se elevar no amor.

Você pode encontrar um amigo conscientemente, deliberadamente. O seu amor se aprofundará à medida que a sua meditação se aprofunda, e vice-versa; quando a meditação desabrochar, o seu amor também desabrochará. Mas num nível totalmente diferente.

Mas a maioria dos casais não está conectada na meditação. Eles nunca se sentam em silêncio durante uma hora, juntos, para sentir a consciência um do outro. Ou eles estão brigando ou fazendo amor, mas nos dois casos estão relacionados com o corpo, a parte física; a biologia, os hormônios.

Eles não estão relacionados com o âmago mais profundo um do outro. As suas almas permanecem separadas.

Nos templos, nas igrejas, nos tribunais, só os seus corpos são casados. As suas almas estão a quilômetros de distância uma da outra. Embora você esteja fazendo amor com a sua parceira, nem nesses momentos você está presente, ou ela está presente.

Talvez o homem esteja pensando na Cleópatra, em alguma atriz de cinema. E talvez seja por isso que todas as mulheres ficam com os olhos fechados: para não ver o rosto do marido, nem ser incomodada. Ela está pensando em Alexandre, o Grande; em Ivan, o Terrível; e se olhar para o marido acaba a fantasia. Ele se parece com um rato.

Até nos momentos mais belos, que deveriam ser sagrados, meditativos, de profundo silêncio - nem nesses momentos você está sozinha com o ser amado. Existe uma multidão ali. A sua mente está pensando em outra coisa, a mente do parceiro está pensando em outra pessoa.

Então o que você faz é apenas robótico, mecânico. Alguma força biológica está escravizando você, e você chama isso de amor.

Ouvi dizer que, de manhã bem cedo, um bêbado viu um homem na praia fazendo flexões de braço. O bêbado se aproximou dele, olhou mais de perto aqui e ali, e finalmente disse: "Não quero interferir numa relação tão íntima, mas eu tenho que te falar que sua namorada já foi!"

Esse parece ser o caso. Quando está fazendo amor, será que a mulher está realmente presente? Será que o homem está mesmo ali? Ou será que vocês estão apenas fazendo um ritual, algo que tem que ser feito, um dever a ser cumprido?

Se você quer um relacionamento mais harmonioso com o parceiro, terá que aprender a ser mais meditativo. Só o amor não basta. O amor sozinho é cego; a meditação lhe dá visão. A meditação lhe dá entendimento.

E depois que o amor for tanto amor quanto meditação, vocês se tornam companheiros de viagem. O relacionamento deixa de ser comum. Torna-se um companheirismo na jornada de descoberta dos mistérios da vida.

Homens solitários, mulheres solitárias acharão essa jornada muito entediante e muito longa, como já descobriram no passado. Como viram esse conflito eterno, todas as religiões decidiram que as pessoas que queriam empreender a busca religiosa deveriam renunciar ao outro - os monges deveriam praticar o celibato, as freiras deveriam praticar o celibato.

Mas em cinco mil anos de história, quantos monges e quantas freiras se tornaram almas realizadas? Pode-se contar nos dedos. E deve haver milhões de monges e freiras de todas as religiões: budistas, hindus, cristãos, muçulmanos. O que houve?

O caminho não é tão longo, o objetivo não está tão distante. Mas, mesmo que você queira ir à casa do seu vizinho, precisará das duas pernas. Se for pulando em uma perna só, que distância poderá percorrer?

Homens e mulheres juntos, numa profunda amizade, num relacionamento amoroso e meditativo, como um todo orgânico, podem atingir o objetivo a qualquer momento que quiserem.

Porque o objetivo não está fora de você; ele é o centro do ciclone, é a parte mais íntima do seu ser. Mas você só pode encontrá-lo quando está inteiro, e você não ficará inteiro sem o outro.

O homem e a mulher são duas partes do mesmo todo. Portanto, em vez de perder tempo brigando, tentem se entender. Tentem se colocar um no lugar do outro; tente ver com os olhos do homem, tente ver com os olhos da mulher.

E quatro olhos são melhores do que dois. Você tem visão total; todas as quatro direções são acessíveis para vocês.

Mas uma coisa você precisa lembrar: faça isso sem meditação e o amor está fadado ao fracasso; não existe possibilidade de ele ter sucesso. Você pode fingir e pode enganar os outros, mas não pode enganar a si mesmo. Você sabe lá no fundo que nenhuma promessa que o amor lhe fez foi cumprida.

Só com meditação o amor começa a assumir novas cores, uma nova música, novas canções, novas danças, porque a meditação lhe dá condições de compreender o oposto polar, e basta essa compreensão para o conflito desaparecer.


Osho, em "A Essência do Amor: Como Amar Com Consciência e se Relacionar Sem Medo"

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