segunda-feira, 30 de outubro de 2023

Teologia da salvação e condenação eterna



A teologia da salvação e da condenação eterna ao inferno tem raízes em várias tradições religiosas e desenvolveu-se ao longo da história. Aqui estão alguns pontos-chave sobre a origem dessa teologia:


Religiões Abraâmicas: A ideia de recompensas após a morte e punições eternas para as ações humanas está presente em várias religiões abraâmicas, como o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. A crença em um Deus que julga as ações humanas e determina o destino eterno das almas é um elemento central nessas tradições.


Cristianismo: A teologia da salvação e condenação eterna é particularmente proeminente no cristianismo, com a ênfase na crença em Jesus Cristo como o Salvador. As raízes dessa teologia podem ser traçadas até o Novo Testamento da Bíblia, com ensinamentos de Jesus sobre o Reino de Deus, a salvação e a condenação. O conceito do céu como um lugar de recompensa eterna e o inferno como um lugar de punição eterna se desenvolveu ao longo da história da teologia cristã.


Teólogos e Filósofos: Ao longo dos séculos, teólogos e filósofos cristãos, como Santo Agostinho e Tomás de Aquino, contribuíram para o desenvolvimento da teologia da salvação e condenação eterna. Suas obras influenciaram profundamente a compreensão da justiça divina e da natureza do céu e do inferno.


Reforma Protestante: Durante a Reforma Protestante no século XVI, teólogos como Martinho Lutero e João Calvino enfatizaram a doutrina da justificação pela fé, que desempenhou um papel importante na teologia da salvação. Muitas denominações protestantes mantêm doutrinas distintas sobre a salvação e a condenação.


Outras Religiões: A ideia de recompensas e punições após a morte também é encontrada em outras religiões, como o budismo, o hinduísmo e o zoroastrismo, embora essas tradições tenham suas próprias interpretações desses conceitos.

Portanto, a teologia da salvação e da condenação eterna é o resultado de um longo processo de desenvolvimento teológico e influência das tradições religiosas ao longo da história. Cada tradição religiosa pode ter suas próprias interpretações e crenças específicas em relação a esses conceitos.



PERSPECTIVA DA PSICOLOGIA

A perspectiva psicológica sobre a motivação por trás da criação de teologias que envolvem conceitos de salvação e condenação eterna é uma área complexa e multifacetada. Embora a psicologia não possa fornecer uma única resposta definitiva sobre as motivações subjacentes, ela pode oferecer algumas insights e considerações relevantes.


Controle e Poder: Alguns estudiosos argumentaram que as doutrinas de salvação e condenação eterna podem ser usadas como meios de controle e poder por instituições religiosas ou líderes religiosos. A ideia é que o medo da punição eterna pode ser uma forma eficaz de controlar as ações e crenças dos seguidores. Isso pode ser visto em algumas expressões de teologia que enfatizam a autoridade e a obediência.


Motivação para o Comportamento Moral: Por outro lado, algumas teologias veem a crença na salvação e na condenação eterna como uma motivação para o comportamento moral e ético. Acredita-se que, ao oferecer recompensas e punições após a morte, as pessoas são incentivadas a seguir princípios religiosos e morais.


Respostas às Questões Existenciais: As crenças religiosas e as teologias muitas vezes surgem como respostas a questões profundas sobre a vida, a morte e o significado. A noção de salvação e condenação eterna pode ser uma tentativa de lidar com essas questões existenciais e proporcionar um senso de propósito e significado na vida das pessoas.


Variedade de Motivações: É importante observar que diferentes religiões, denominações e tradições teológicas têm diferentes abordagens em relação a essas questões. As motivações por trás da criação de teologias específicas podem variar amplamente e podem ser influenciadas por fatores culturais, históricos e individuais.


Impacto Psicológico: As crenças sobre a salvação e a condenação eterna podem ter um impacto significativo no bem-estar psicológico das pessoas. O medo da condenação eterna, por exemplo, pode causar ansiedade e estresse em alguns indivíduos. Portanto, a psicologia também está interessada em compreender como essas crenças afetam o funcionamento psicológico das pessoas.

Em resumo, a psicologia reconhece que as motivações por trás da criação de teologias que envolvem conceitos de salvação e condenação eterna são complexas e podem variar amplamente. Elas podem incluir o controle social, motivação moral, respostas a questões existenciais e muito mais. Além disso, a psicologia estuda como essas crenças afetam as pessoas em nível individual e coletivo. Cabe a cada pessoa decidir como interpretar essas crenças em seu contexto religioso e espiritual.

O mistério do papiro da mulher de Jesus continua sem ser revelado

 



Para os que estão há anos analisando textos evangélicos não é novidade que Cristo estivesse casado e certamente fosse pai




Um fragmento de papiro do século IV, escrito em copta, a língua do antigo Egito, que já causou um grande reboliço ao ser descoberto, em 2012, acaba de ser considerado autêntico pela prestigiosa Escola de Teologia da Universidade Harvard, pela Universidade Columbia e pelo MIT.

A notícia da suposta autenticidade desse documento, embora não de seu conteúdo, atraiu uma enorme atenção dos acadêmicos depois de ele ser exposto em público numa conferência sobre língua copta que acontece em Roma, porque nele, e pela primeira vez, Jesus de Nazaré fala da “minha mulher”, o que significaria que era casado. Mas, nesse caso, quem era ela?




O papiro gnóstico deve seu nome (Evangelho da Esposa de Jesus, embora não revele sua identidade) à pesquisadora norte-americana Karen King, que está convencida de que se trata de Maria Madalena, mas só agora ele foi confirmado como original, coincidindo com o debate aberto pelo papa Francisco ao afirmar que a Igreja precisa de uma “nova teologia da mulher”.

Para nós, que há anos analisamos os textos evangélicos da Igreja, sejam os canônicos ou os apócrifos, sobretudo os gnósticos, não é nenhuma novidade que Jesus foi casado e certamente teve filhos, pois seria algo muito anormal na sociedade judaica daquela época que não fosse assim.

Nada mais precioso para um judeu do que a prole. A ponto de que, na Bíblia, Deus permite aos patriarcas, cujas esposas eram estéreis, que se deitassem com uma escrava que lhes desse um filho.

Os cristãos sempre se perguntaram por que os Evangelhos nunca falam da família de Jesus. E a resposta dos pesquisadores e historiadores foi sempre a mesma: porque para os judeus ter família era algo totalmente normal, tão normal que nem se mencionava. Todos os apóstolos, por exemplo, eram casados, e nos textos sagrados nunca se fala de suas mulheres e filhos. Só uma vez se nomeia de passagem a sogra de Pedro, a quem Jesus curou de uma doença. Mais nada.

Outro dos motivos é que a Igreja, já dos primórdios do cristianismo, rechaçou como “não canônicos” os importantes evangelhos gnósticos, um movimento filosófico e teológico que influiu sobre as primeiras comunidades cristãs e que se contrapunha à teologia da cruz e da redenção, de Paulo de Tarso. Neles, diz-se que Jesus era casado.

Ao final se impôs, já no século II, a teologia de Paulo. A Igreja queimou os evangelhos gnósticos, exceto um punhado deles, escondidos que foram por alguns monges e encontrados por pastores em 1945, no Egito, dentro de ânforas de barro lacradas, e que só agora começam a ser estudados a fundo.

Nesses textos, considerados hereges, se diz que a “mulher de Jesus” era Maria Madalena, a quem a Igreja confundiu durante séculos com uma prostituta, até que precisasse se corrigir, alterando o texto evangélico da liturgia da santa.

Nessa literatura gnóstica, como no papiro, Madalena, que poderia não ser judia, aparece como a “esposa” e “discípula” de Jesus. Trata-se de uma mulher culta e ilustrada, a quem Jesus “confiava segredos” que ocultava dos demais apóstolos, algo que despertava ciúmes em Pedro, que chega a se queixar publicamente disso ao Mestre. Existe, inclusive, o Evangelho de Maria Madalena.

Esses textos contam que Jesus “beijava a boca” de Madalena, algo que nessa filosofia tinha um duplo significado: amor sexual e transmissão de sabedoria, já que, segundo os gnósticos, a verdade se transmitia através da boca.

O papiro não nos diz quem era essa mulher de Jesus. Quem revela esse enigma com uma simples análise hermenêutica são os quatro Evangelhos canônicos, que nos contam que, durante a crucificação, Maria Madalena estava na primeira fila, enquanto todos os discípulos homens ficaram escondidos e com medo.

Madalena aparece também ungindo o cadáver do Jesus. E no domingo de Páscoa é ela a que vai de novo ao lugar da crucificação, e é para ela que aparece ressuscitado, a quem abraça com tal força que o leva a lhe dizer: “Já chega”.

O Pai e Doutor da Igreja, são Tomás de Aquino, perguntava-se, incrédulo, por que Jesus, ao ressuscitar, apareceu a Madalena e não a Pedro e aos seus apóstolos. Isso porque, além do mais, a mulher judia não era fiável nem podia atuar como testemunha em um processo judicial. Por isso, Pedro “não acredita” quando ela vai lhe dizer que Jesus havia ressuscitado, e ele mesmo se dirige ao sepulcro para comprovar isso, encontrando-o vazio.

Os quatro evangelistas colocam Maria Madalena aos pés da cruz. Os três sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) a citam junto com “outras mulheres”, mas o Evangelho de João, que foi o último e mais recente, 90 anos depois da morte de Jesus, e que conhecia bem os outros três, cita apenas Madalena. Mais ainda, oferece detalhes que unicamente ela poderia ter lhe contado em vida, como sua saída no domingo para o Gólgota “na alvorada”, quando “ainda estava muito escuro”, e que diante do sepulcro vazio “se pôs a chorar”.

E quando se encontram Jesus ressuscitado e ela ambos se tratam com uma familiaridade que na cultura judaica de então só se permitia a dois cônjuges, e nem sequer em público.

Quando o escritor José Saramago, Nobel de Literatura, leu meu livro Madalena, o Último Tabu do Cristianismo (Objetiva), no qual se defende essa tese, ele comentou com Pilar, sua esposa: “Se apareceu para ela, antes que a Pedro e até mesmo à sua mesma mãe, claro que era sua mulher”, e acrescentou: “Pilar, se quando eu morrer pudesse ressuscitar, a quem iria aparecer primeiro se não a ti?”.

O papiro copta encontrado em que Jesus fala da “minha mulher”, se for realmente autêntico, como parece, não faria mais do que corroborar o que os teólogos biblistas defendem há mais de 50 anos: que Jesus foi casado com a gnóstica Maria Madalena, a quem aparece antes mesmo que aos apóstolos, que precisaram se resignar a saber por ela da importante noticia da ressurreição.




JUAN ARIAS

https://brasil.elpais.com/brasil/2014/04/12/sociedad/1397258047_321465.html#?rel=listaapoyo

Um messias cem anos antes de Jesus



Nas cavernas de Qumrán, perto do Mar Morto, apareceram diversos manuscritos de enorme valor histórico.


Os manuscritos do Mar Morto descrevem um ‘Mestre da Justiça’, anterior a Cristo


Quando o futuro imperador Tito destrói o Segundo Templo de Jerusalém, em 70 d.C., arrasa com os candelabros de sete velas e as trombetas de Jericó, destruindo também valiosas fontes documentais da Palestina. Aquele ano ergue-se na história como um muro de silêncio para os investigadores dos textos sagrados. O documento mais antigo depois dessa data já é do ano 200, o Mishná. Com a destruição de Jerusalém, desaparecem também descrições e muitas provas da biodiversidade de seitas judaicas que povoavam a Terra Santa antes do singular sucesso do judaísmo rabínico, do qual provém o atual, e de outra seita judaica, o cristianismo.


Sem ter ideia da magnitude do que fazia, um pastor beduíno derrubou esse muro numa tarde de 1947. Na companhia de outros pastores, parentes seus, Muhammed Ahmed al-Hamed queria proteger suas cabras dos perigos do deserto porque caía a noite sobre as areias de Judá. Aventurou-se a escalar a colina e prestou atenção em duas pequenas aberturas numa rocha. Como não podia passar por elas, jogou uma pedra lá dentro. Ouviu o barulho de uma cerâmica se espatifando. Precisava voltar ali quando pudesse, pois aquilo podia ser um tesouro. E era. O pastor descobriu a primeira das muitas grutas e vasilhas de barro onde se alojavam os Manuscritos do Mar Morto, um monumental conjunto de textos escritos por volta de 250 anos antes de Cristo – mais de mil anos mais velhos que os textos bíblicos considerados mais antigos até o momento de sua descoberta. Datavam de uma época em que a Bíblia ainda não era um texto unificado, e sim uma miríade de lendas e relatos dispersos.


Os mais recentes haviam sido redigidos cerca de 100 anos antes do nascimento de jesus de nazaré. Um de cada quatro ou cinco dos dois mil documentos encontrados, correspondia a um texto bíblico: uma maravilha para saber se a sagradas escrituras que tinham sobrevivido até o século XX eram fidedignas ou se as cópias haviam deturpado o seu sentido ao longo dos séculos.


O restante era formado por hinos e salmos, textos jurídicos, referências a tesouros... E alguns textos sectários que parecem descrever aquela que os pesquisadores chamaram de seita de Qumrán, em alusão ao nome do lugar onde apareceram. A única carta que aparece, embora muitas vezes reproduzida, fala de um "Mestre da justiça" enviado por Deus para guiar os judeus atingidos pelo cólera ao redor de 196 a.C.


Contra ele, ergue-se um “Homem de Mentiras” que o leva a fugir com seus seguidores para Damasco. “Ali, adotaram ‘uma nova aliança’ e ali [...] o corpo do Mestre foi ‘deixado’. Eles esperavam que retornasse como Messias ‘no fim dos dias’.

A história soa familiar? Esse relato se refere a um messias que apareceu antes de 196 a.C. e é obra do pesquisador bíblico norte-americano Hershel Shanks em seu apaixonante livro Para Compreender Os Manuscritos do Mar Morto (Imago). Alguns autores identificam essa seita com a dos essênios, à qual João Batista talvez pertenceu.


Apesar de seu valor, os documentos sofreram todo tipo de desventuras, deteriorando-se ao passar de mercador em mercador. Também sofreram nas mãos de acadêmicos descuidados. Algumas inscrições foram apagadas à luz do Sol após permanecer dois mil anos na sombra. De alguns, restaram apenas fragmentos um pouco maiores que uma unha, mas ainda assim repletos de informação valiosa.


Quem os deixou ali, no deserto? Para alguns estudiosos, como o arqueólogo francês Roland de Vaux, eles faziam parte de uma biblioteca inserida numa espécie de mosteiro. Talvez tenham sido guardados naquelas cavernas porque as pessoas conheciam seu valor e sabiam que os romanos eram uma ameaça. “Para os judeus, o nome de Yaveh é sagrado e não pode ser destruído. Há cerimônias para enterrar os rolos da Torá que, pelo desgaste do uso, já não podem ser lidos nas sinagogas”, afirma o diretor do Santuário do Livro de Jerusalém, Adolfo Roitman. Ele é o guardião de oito desses rolos, os de melhor conservação, que descansam protegidos nessa dependência do Museu de Israel. A joia é o Livro de Isaías, de mais de sete metros de extensão, que pode ser lido em versão digital de 1.200 megapixels. A tradução de alguns rolos está disponível em espanhol.

Até há pouco tempo, muitos deles não estavam disponíveis nem sequer aos pesquisadores. Tanto segredo “obsessivo”, como o define Shanks, parecia sinal de que os textos iriam contra “os dogmas fundamentais do cristianismo e do judaísmo”. O autor, para a decepção de conspiranoicos do estilo de Código Da Vinci, descarta essa teoria. Adolfo Roitman conforma-se em dizer que, pelo menos no museu, querem “evitar a dispersão desses documentos, que haja fácil acesso e que finalmente exista transparência”.

Êxodo e exílio israelita



ÊXODO (Mito)

Um evento significativo na narrativa bíblica que se refere à fuga dos israelitas do Egito sob a liderança de Moisés. O Êxodo é descrito no Antigo Testamento da Bíblia, principalmente nos livros do Êxodo, Números e Deuteronômio.

De acordo com a Bíblia, os israelitas passaram cerca de 40 anos no deserto após sua libertação do Egito. Durante esse período, eles vagaram pelo deserto em direção à Terra Prometida, a terra de Canaã. No entanto, devido a vários eventos e desafios enfrentados pelo povo, esse período de peregrinação se estendeu por quatro décadas.

Essa história é uma parte fundamental da tradição judaica e é celebrada na festa de Pessach (ou Páscoa), que comemora a libertação dos israelitas do Egito. No entanto, é importante notar que a narrativa do Êxodo é principalmente uma história religiosa e não possui evidências arqueológicas ou históricas independentes que confirmem todos os detalhes descritos na Bíblia.

Enquanto o Exílio Babilônico é um evento posterior na história dos israelitas, o Êxodo é uma história mais antiga e religiosa que narra a origem do povo de Israel e seu relacionamento com Deus. Ambos são eventos significativos na narrativa bíblica, mas devem ser considerados separadamente.


EXÍLIO (Evento Histórico)

O exílio dos israelitas, muitas vezes referido como o Exílio Babilônico, é um evento importante na história antiga dos hebreus ou israelitas. Este evento é tradicionalmente datado no século VI a.C., quando uma parte significativa da população judaica foi deportada para a Babilônia, depois da conquista de Jerusalém pelo rei Nabucodonosor II da Babilônia.

Do ponto de vista histórico e arqueológico, há evidências que corroboram a ocorrência de tais eventos. As fontes primárias incluem inscrições antigas, como as escritas pelos próprios babilônios, que mencionam as conquistas de Nabucodonosor e as deportações de populações. Uma das inscrições mais notáveis é conhecida como o "Cilindro de Nabonido", que faz referência a eventos relacionados aos judeus.

Além disso, a Babilônia mantinha registros detalhados de suas atividades administrativas, o que incluía informações sobre os grupos de pessoas deportados para a Babilônia. Isso é confirmado em várias inscrições e documentos cuneiformes.

Os registros judaicos, como o Antigo Testamento da Bíblia, também fazem referência ao Exílio Babilônico. Os livros de Jeremias, Ezequiel e os livros dos Reis, por exemplo, fornecem informações detalhadas sobre o período e as circunstâncias do exílio.

Portanto, com base em evidências históricas, arqueológicas e literárias, há suporte científico para a ocorrência do Exílio Babilônico dos israelitas, embora os detalhes específicos possam variar de acordo com as fontes e interpretações. Isso é uma parte importante da história judaica e é reconhecido tanto em contextos acadêmicos quanto religiosos.

Teurgos - Teurgia


Os teurgos eram praticantes de teurgia, uma tradição religiosa e filosófica que floresceu no mundo greco-romano na antiguidade tardia, especialmente entre os séculos II e V d.C. A teurgia era uma forma de misticismo religioso que combinava elementos da filosofia platônica, religião egípcia, neoplatonismo e elementos mágicos e rituais.

Os teurgos acreditavam que podiam entrar em contato com os deuses e com a divindade por meio de rituais e práticas específicas, muitas vezes envolvendo invocações, oferendas e purificações. Acreditavam que, através desses rituais, poderiam alcançar uma união mais próxima com as forças divinas e obter revelações espirituais.

Por exemplo, uma das figuras mais proeminentes associadas à teurgia é Jâmblico, um filósofo neoplatônico que escreveu extensivamente sobre as práticas teúrgicas e sua relação com a filosofia. Os teurgos acreditavam que, ao praticar a teurgia, podiam purificar a alma e elevar-se espiritualmente em direção ao divino.

A teurgia também estava relacionada a uma série de escolas de pensamento, incluindo o neoplatonismo, e desempenhou um papel na fusão de tradições religiosas gregas e egípcias. No entanto, a teurgia não era uma prática amplamente aceita em todos os círculos filosóficos e religiosos da antiguidade, e teve seus críticos, incluindo figuras como o filósofo neoplatônico Porfírio.

A teurgia é um exemplo de uma tradição religiosa e mística específica que existiu na antiguidade e demonstra a diversidade de crenças e práticas naquela época. Ela desempenhou um papel na história da filosofia e religião ocidentais.

Parábolas de Jesus / Hermetismo



Mateus 13:13-16 (NVI):

"Por isso lhes falo por parábolas; porque eles, vendo, não veem; e, ouvindo, não ouvem, nem compreendem. Neles se cumpre a profecia de Isaías: 'Ainda que estejam sempre ouvindo, vocês nunca entenderão; ainda que estejam sempre vendo, nunca perceberão'. Pois o coração deste povo se tornou insensível; de má vontade ouviram com os seus ouvidos, e fecharam os seus olhos. Se assim não fosse, poderiam ver com os olhos, ouvir com os ouvidos, entender com o coração e se converter, e eu os curaria."

Neste contexto, Jesus está explicando por que ele usa parábolas em seu ensinamento. Ele está citando uma profecia de Isaías para ilustrar que, embora ele esteja ensinando abertamente por meio de parábolas, nem todos que o ouvem e veem estão realmente compreendendo as profundas verdades espirituais que ele está transmitindo. Alguns têm corações insensíveis e não estão dispostos a ouvir e compreender.

Essa passagem enfatiza a ideia de que a compreensão espiritual não é apenas uma questão de ouvir ou ver com os sentidos físicos, mas também requer abertura de coração e mente para receber e compreender a mensagem espiritual que está sendo transmitida. Portanto, aqueles que têm "ouvidos para ouvir" e estão dispostos a entender além do nível superficial são os que verdadeiramente compreendem as verdades espirituais.

Crestus / Chrestus e os Essênios



A palavra "Crestus" é mencionada em alguns escritos antigos, incluindo documentos romanos, e tem sido associada a discussões sobre as origens do cristianismo. No entanto, a relação entre "Crestus" e os Essênios é menos clara e mais controversa.

"Crestus" pode ser uma variação ou erro de ortografia da palavra "Cristo". Isso levou alguns estudiosos a sugerir que "Crestus" poderia ser uma referência a Jesus Cristo ou a debates e conflitos relacionados ao cristianismo primitivo em Roma.

A principal referência a "Crestus" vem dos escritos de Suetônio, um historiador romano do início do século II, que mencionou que o imperador Cláudio havia expulsado os judeus de Roma devido a tumultos instigados por "Chrestus". Alguns acreditam que "Chrestus" foi uma referência a Jesus Cristo, embora a grafia seja diferente. No entanto, a interpretação exata dessa passagem e a identificação de "Chrestus" com Jesus Cristo são debatidas.

Em relação aos Essênios, não há evidências sólidas que liguem diretamente os Essênios a "Crestus". Os Essênios eram um grupo religioso judaico que existiu na Palestina no mesmo período em que Jesus viveu, mas não há evidências claras de que eles tenham desempenhado um papel significativo nos eventos que cercam a vida de Jesus ou o desenvolvimento do cristianismo.

No geral, "Crestus" é uma palavra que aparece em fontes históricas antigas, mas sua relação exata com o cristianismo primitivo e sua origem são temas de debate entre os historiadores e estudiosos. A associação com os Essênios não é amplamente aceita na comunidade acadêmica.

domingo, 29 de outubro de 2023

Do LODO ao LÓTUS



A expressão "do lodo ao lótus" é uma metáfora que representa a jornada de crescimento espiritual e transformação pessoal. Ela é frequentemente associada a ensinamentos espirituais e filosóficos, como o budismo. O lodo simboliza as condições difíceis, a sujeira e as adversidades da vida, enquanto o lótus é uma flor que cresce acima da água lamacenta, representando a beleza, a pureza e a iluminação espiritual que podem surgir das situações mais desafiadoras.

Essa expressão é usada para inspirar a ideia de que, independentemente das dificuldades e sofrimentos que alguém possa enfrentar, é possível crescer espiritualmente e alcançar uma maior compreensão e paz interior, assim como a flor de lótus que floresce na água suja. Ela enfatiza a importância da superação e do desenvolvimento pessoal, transformando as experiências difíceis em oportunidades para evoluir e crescer como indivíduo.

Quais personagens bíblicos podem ser presumidamente históricos ?



A historicidade de personagens bíblicos é frequentemente debatida entre estudiosos, e a maioria dos relatos bíblicos não possui evidências científicas incontestáveis. No entanto, alguns personagens têm sido associados a eventos ou contextos históricos reais. Alguns exemplos incluem:


Rei Davi: Há evidências arqueológicas que sugerem a existência de um rei Davi que governou parte do que é agora Israel, embora os detalhes de sua vida permaneçam sujeitos a debate.


Rei Salomão: Similar a Davi, há referências arqueológicas que sugerem a existência de Salomão, embora a narrativa bíblica sobre sua riqueza e sabedoria possa ser exagerada.


Nabucodonosor II: O rei da Babilônia, mencionado na Bíblia em conexão com o exílio dos israelitas, é um personagem histórico confirmado por registros cuneiformes.


Pôncio Pilatos: O governador romano da Judeia, que desempenhou um papel no julgamento e crucificação de Jesus, é um personagem histórico conhecido, com inscrições e registros romanos que atestam sua existência.


É importante notar que a historicidade de personagens bíblicos muitas vezes depende de evidências indiretas e está sujeita a interpretações variadas. A Bíblia é uma fonte religiosa e histórica, e a confirmação científica de seus relatos varia em grau de certeza.

A dimensão do poder e influência do cristianismo no ocidente



O Cristianismo tem desempenhado um papel significativo na formação da cultura, da política e da sociedade no Ocidente ao longo dos séculos. Sua influência é notável em várias áreas:

Religião: O Cristianismo é a religião predominante na maioria dos países ocidentais, e suas igrejas desempenham um papel central na vida espiritual e moral de muitas comunidades.


Educação: O Cristianismo desempenhou um papel fundamental na fundação de muitas das mais antigas e prestigiosas universidades no Ocidente, como a Universidade de Oxford e a Universidade de Cambridge no Reino Unido. Mesmo hoje, muitas instituições de ensino têm raízes religiosas e valores cristãos.


Arte e Cultura: O Cristianismo influenciou profundamente a arte e a cultura ocidentais, com inúmeras obras de arte, arquitetura e música baseadas em temas religiosos. Pense nas catedrais góticas, nas pinturas renascentistas e nas composições de música sacra.


Política: A influência do Cristianismo na política varia de país para país, mas em muitas nações ocidentais, os valores e a ética cristã desempenharam um papel importante na formação das leis e das políticas públicas.


Ética e Moral: Os ensinamentos morais e éticos do Cristianismo têm sido fundamentais na moldagem das normas sociais e na tomada de decisões éticas em uma variedade de contextos.


Caridade e Assistência Social: Muitas instituições de caridade e organizações de assistência social têm raízes cristãs, e a ética cristã da compaixão e da caridade tem sido uma força motriz por trás de muitos esforços para ajudar os necessitados.

No entanto, é importante notar que a influência do Cristianismo tem evoluído e mudado ao longo dos tempos, e as sociedades ocidentais são cada vez mais diversas em termos religiosos e filosóficos. Outras crenças e sistemas de valores também desempenham papéis importantes na vida do Ocidente, e as influências seculares e laicas têm crescido em muitas áreas.

Em resumo, o Cristianismo tem uma dimensão significativa de poder e influência no Ocidente, mas essa influência é parte de um quadro mais amplo de pluralismo religioso e cultural.

A ordem, a matemática, a coerência e a beleza da criação



Pi, a sequência de Fibonacci e a proporção áurea são conceitos matemáticos e geométricos que muitos consideram notáveis devido à sua beleza e harmonia matemática. Embora esses conceitos sejam fascinantes e tenham aplicações em várias áreas da matemática e da ciência, eles não são, por si só, evidências científicas ou matemáticas da existência de uma causa primária ou de uma inteligência divina por trás da criação.

Pi (π): Pi é uma constante matemática que representa a relação entre a circunferência de um círculo e seu diâmetro. Embora seja um número irracional com infinitas casas decimais, e sua sequência não se repete, isso é uma característica da matemática, não necessariamente uma evidência de uma causa primária.


Sequência de Fibonacci: A sequência de Fibonacci é uma sequência matemática na qual cada número é a soma dos dois números anteriores. Ela ocorre em diversos contextos na natureza, como em padrões de crescimento de plantas e na disposição de sementes em um girassol. Embora seja uma sequência matemática fascinante, sua existência não é uma evidência direta da existência de uma causa primária.


Proporção Áurea: A proporção áurea, representada pela letra grega φ (phi), é uma constante matemática que surge em proporções geométricas que muitos consideram esteticamente agradáveis. Ela também é observada em várias manifestações na natureza, como conchas, flores e obras de arte. Novamente, isso é um exemplo de uma propriedade matemática notável, mas não é uma evidência direta de uma causa primária.

Esses conceitos matemáticos e geométricos são belos e intrincados, e muitos veem neles uma ordem e uma harmonia que podem ser interpretadas como evidências de um projeto ou de uma inteligência subjacente à criação. No entanto, essa interpretação é subjetiva e filosófica. A ciência, como disciplina, não postula ou requer a existência de uma causa primária ou de uma inteligência divina para explicar esses conceitos matemáticos e fenômenos naturais. Portanto, enquanto eles podem ser vistos como indícios de uma ordem no universo, essa interpretação permanece uma questão de perspectiva e crença pessoal, não uma prova científica.

TUDO ISSO É ALEATÓRIO?

Não, quando digo que esses conceitos matemáticos e fenômenos naturais não são evidências de uma causa primária ou de uma inteligência divina, não estou sugerindo que eles existem aleatoriamente ou por acaso. Pelo contrário, esses conceitos matemáticos e fenômenos naturais existem como manifestações de padrões e leis naturais que governam o universo.

A matemática é uma linguagem que descreve e modela esses padrões e leis naturais de maneira precisa. Muitos dos fenômenos que observamos na natureza, como a sequência de Fibonacci e a proporção áurea, seguem padrões matemáticos devido à ordem intrínseca do universo. A ciência se concentra em entender e descrever esses padrões e leis naturais, mas ela não faz afirmações sobre a existência ou inexistência de uma causa primária ou de uma inteligência divina por trás deles.

A interpretação de tais padrões como evidências de uma inteligência divina é uma questão de crença pessoal e filosofia. Muitas pessoas veem ordem, beleza e significado nos padrões matemáticos e naturais do universo e consideram isso como uma manifestação da inteligência divina. Outras podem adotar uma perspectiva puramente naturalista e ver esses padrões como resultados das leis naturais e da evolução do universo, sem invocar uma inteligência divina.

Portanto, a questão central é como interpretar esses padrões, e essa interpretação é uma questão pessoal e filosófica, não uma questão científica. A ciência se concentra em descrever e compreender os fenômenos naturais, enquanto as interpretações metafísicas desses fenômenos são objeto de filosofia, religião e teologia.

CRIADOR OU ORDEM NATURAL DO UNIVERSO?

A questão de se a existência de matemática, lógica e ordem no universo implica a existência de uma inteligência criadora é uma questão filosófica e teológica. Não é uma conclusão direta da ciência. A ciência se concentra em descrever e explicar os fenômenos naturais por meio de observação, medição e análise, mas não aborda diretamente questões sobre a existência ou inexistência de uma inteligência divina.

Há várias interpretações possíveis da ordem e da matemática no universo:

Teístas: Muitos teístas acreditam que a ordem e a matemática no universo são evidências de uma inteligência divina ou de um criador. Eles veem a existência de leis naturais, padrões matemáticos e ordem como um reflexo da obra de Deus.


Naturalistas: Alguns naturalistas, por outro lado, argumentam que a ordem e a matemática no universo são resultados da evolução das leis naturais e da auto-organização do cosmos. Eles não veem a necessidade de postular a existência de uma inteligência divina para explicar esses fenômenos.


Filósofos e cientistas: Filósofos e cientistas têm diferentes perspectivas sobre essa questão. Alguns argumentam que a existência de ordem e matemática no universo é uma questão em aberto e que não podemos tirar conclusões definitivas sobre uma causa primária com base nessas observações.

A interpretação sobre se a ordem e a matemática no universo implicam ou não uma inteligência criadora é uma questão de crença e filosofia pessoal. A ciência não fornece uma resposta definitiva para essa questão, pois ela não lida diretamente com questões metafísicas ou teológicas. Cada pessoa pode chegar a suas próprias conclusões com base em suas crenças e perspectivas pessoais.

A compilação bíblica, pergaminhos antigos e os papiros




A Bíblia é um compêndio de textos religiosos que foi compilado ao longo de séculos, e a datação da primeira publicação da Bíblia é um assunto complexo. A Bíblia é composta por dois principais conjuntos de textos: o Antigo Testamento e o Novo Testamento.

Antigo Testamento: A maior parte do Antigo Testamento consiste em textos que foram escritos e compilados ao longo de muitos séculos antes do nascimento de Jesus Cristo. Os textos mais antigos, como os livros do Pentateuco (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), datam de séculos a.C. e foram originalmente escritos em rolos de pergaminho, não em papiros. A versão hebraica das escrituras judaicas é chamada de Tanakh. No entanto, a tradução dos textos hebraicos para o grego, conhecida como Septuaginta, é uma das primeiras versões da Bíblia e foi concluída no século III a.C.

Novo Testamento: O Novo Testamento é uma coleção de textos cristãos que inclui os quatro Evangelhos, as epístolas (cartas) e o livro de Apocalipse, entre outros. A maioria dos livros do Novo Testamento foi escrita no primeiro século d.C. Os textos do Novo Testamento foram originalmente escritos em papiros e em pergaminhos. A compilação e a aceitação dos livros do Novo Testamento como autoritários ocorreram ao longo dos primeiros séculos do cristianismo.

A Bíblia, como a conhecemos hoje, foi o resultado de uma série de concílios e decisões ao longo da história da cristandade. A primeira compilação completa da Bíblia, que incluía o Antigo e o Novo Testamento, é atribuída ao Concílio de Cartago, realizado no final do século IV d.C. Porém, a seleção dos livros que seriam incluídos na Bíblia já estava bem avançada em concílios anteriores, como o Concílio de Hipona, em 393 d.C. e o Concílio de Cartago, em 397 d.C.

Portanto, a Bíblia é o resultado da compilação de textos religiosos antigos que foram escritos e compilados ao longo de vários séculos e que, posteriormente, foram reunidos em um único volume. A aceitação desses textos como autoritários e canônicos foi um processo gradual que ocorreu na história da religião cristã.




PAPIROS:

Os papiros correspondentes aos Evangelhos bíblicos são fragmentos de manuscritos antigos que contêm partes dos textos dos Evangelhos do Novo Testamento da Bíblia. Alguns desses papiros são considerados verdadeiros e autênticos, e eles têm sido objetos de estudo crítico por parte de acadêmicos e pesquisadores. Aqui estão alguns dos papiros mais conhecidos:

Papiro P52 (Papiro Rylands 457):Conteúdo: Um fragmento muito pequeno do Evangelho de João, especificamente João 18:31-33 e 37-38.
Data da descoberta: Foi encontrado no Egito em 1920.
Local da descoberta: O papiro foi adquirido no Egito por um negociante de antiguidades e está agora na Biblioteca John Rylands, em Manchester, Reino Unido. É considerado um dos mais antigos fragmentos do Novo Testamento e data do início do segundo século.


Papiro P45 (Papiro de Chester Beatty I):Conteúdo: Um manuscrito que contém partes dos quatro Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João).
Data da descoberta: Foi encontrado no Egito na década de 1930.
Local da descoberta: Os fragmentos de P45 estão divididos entre a Biblioteca Chester Beatty em Dublin, na Irlanda, e a Biblioteca Bodleian em Oxford, no Reino Unido. É datado do início do terceiro século.


Papiro P66 (Papiro de Bodmer II):Conteúdo: Um manuscrito quase completo do Evangelho de João.
Data da descoberta: Foi encontrado no Egito em 1952.
Local da descoberta: O papiro pertence à Fundação Martin Bodmer, em Cologny, na Suíça, e é datado do final do segundo século.


Papiro P75 (Papiro Bodmer XIV-XV):Conteúdo: Um manuscrito que contém partes dos Evangelhos de Lucas e João.
Data da descoberta: Foi encontrado no Egito em 1952.
Local da descoberta: O papiro pertence à Fundação Martin Bodmer e está em Cologny, Suíça. É datado do final do segundo século.

Esses papiros são considerados importantes para a pesquisa acadêmica porque fornecem evidências textuais antigas dos Evangelhos do Novo Testamento. No entanto, é importante observar que, mesmo com essas descobertas, muitos manuscritos do Novo Testamento são cópias posteriores, e o trabalho dos estudiosos envolve a comparação e a análise desses manuscritos para reconstruir os textos originais da Bíblia. Além disso, a autenticidade e a datação precisas de alguns papiros ainda são tópicos de pesquisa e debate na comunidade acadêmica.

Os papiros mencionados são fragmentos de manuscritos contendo partes dos textos bíblicos e são importantes para a pesquisa textual e acadêmica, mas eles não foram a base da compilação da Bíblia como um todo. A Bíblia foi compilada a partir de manuscritos mais antigos, como pergaminhos e códices, que precedem os papiros que foram descobertos em datas mais recentes. Esses papiros são valiosos para estudiosos, pois fornecem evidências textuais adicionais e ajudam na reconstrução das versões mais antigas dos textos bíblicos.

Krishna existiu?



A historicidade de Krishna, semelhante à historicidade de outras figuras religiosas antigas, é uma questão complexa e debatida, e não existe uma comprovação científica definitiva de sua existência. Krishna é uma figura central na mitologia hindu e é descrito em uma série de textos antigos, incluindo o Mahabharata, o Bhagavad Gita e o Puranas, que são considerados escrituras sagradas para os hindus.

A falta de evidências contemporâneas diretas, como registros históricos ou arqueológicos, torna a questão da historicidade de Krishna uma área de debate. Alguns estudiosos e devotos religiosos acreditam que Krishna foi uma figura histórica que viveu na antiguidade e desempenhou um papel importante na cultura e na religião da Índia. Eles interpretam os relatos mitológicos como representações simbólicas de eventos reais.

Outros estudiosos adotam uma abordagem mais cética e veem as histórias de Krishna como lendas e mitos criados ao longo do tempo. Eles argumentam que as narrativas sobre Krishna podem ser uma combinação de eventos históricos e elementos mitológicos, com a figura de Krishna se desenvolvendo ao longo dos séculos.

Em última análise, a questão da historicidade de Krishna não foi definitivamente resolvida e continua sendo objeto de debate e discussão. A visão predominante no hinduísmo é que Krishna é uma figura histórica e divina, enquanto a visão acadêmica é mais variada, com diferentes estudiosos e abordagens. A crença em Krishna desempenha um papel importante na espiritualidade e na religião hindu, independentemente das questões de historicidade.


A VISÃO DOS HINDUS:

A visão dos hindus sobre Krishna varia. Krishna é uma figura complexa na mitologia hindu e nas escrituras, e sua natureza é interpretada de várias maneiras por diferentes tradições e escolas de pensamento dentro do hinduísmo. Aqui estão algumas das perspectivas comuns sobre Krishna:

Avatar Divino: Para muitos hindus, Krishna é considerado uma encarnação divina (avatar) do deus Vishnu. Nesse contexto, ele é visto como uma figura histórica que realmente existiu e realizou feitos divinos. Os relatos sobre a vida de Krishna, como os encontrados no Mahabharata e no Bhagavad Gita, são considerados históricos e espirituais.


Deidade Suprema: Em algumas tradições hindus, Krishna é adorado como a deidade suprema, e seus ensinamentos e feitos são vistos como histórias literais que transmitiram conhecimento espiritual e moral.


Narrativas Mitológicas: No entanto, muitos hindus também interpretam as histórias de Krishna como narrativas mitológicas ricas em simbolismo e significados espirituais e morais. Nessas interpretações, a ênfase está na mensagem espiritual e ética que as histórias de Krishna transmitem, em vez de considerá-las registros históricos literais.


Diversidade de Crenças: O hinduísmo é uma tradição religiosa diversa, e as crenças e interpretações podem variar amplamente entre os praticantes. Muitos hindus têm uma compreensão pessoal de sua fé e podem adotar diferentes perspectivas em relação a Krishna e outras figuras religiosas.

Em resumo, a visão dos hindus sobre Krishna varia de acordo com suas crenças individuais, tradições religiosas e filosofias. Alguns veem Krishna como uma figura histórica e divina, enquanto outros consideram as histórias de Krishna como narrativas mitológicas com significados espirituais e morais profundos. A diversidade de crenças é uma característica marcante do hinduísmo.

Buda existiu?




Não existe uma comprovação científica definitiva da existência histórica de Siddhartha Gautama, conhecido como Buda. A vida de Buda e seus ensinamentos são amplamente aceitos com base em fontes históricas, literárias e religiosas, mas a falta de evidências materiais diretas torna a questão de sua historicidade um tópico de discussão acadêmica.

As principais fontes que informam a vida de Buda incluem textos budistas, como os sutras, jatakas e textos canônicos. Além disso, há referências em textos de outras tradições religiosas e históricas. O mais antigo deles é o Cânone Pali, uma coleção de escrituras budistas preservadas na língua Pali, que é considerada uma das fontes mais confiáveis para a história de Buda. Também há referências a Buda em textos de várias culturas que tiveram contato com o budismo ao longo da história.

Apesar de não haver evidências contemporâneas da existência de Buda, a tradição budista tem mantido viva sua memória e seus ensinamentos por mais de dois milênios. A historicidade de Buda é amplamente aceita entre budistas e muitos estudiosos, mas a falta de evidências materiais diretas torna a questão da historicidade uma área de investigação constante e debate.

Em última análise, a questão da existência histórica de Buda é uma questão de fé e interpretação, com base nas evidências disponíveis nas fontes tradicionais e históricas. Ela não pode ser estabelecida com a mesma certeza que a existência de figuras históricas para as quais existem evidências materiais mais abundantes.

Verdadeiro poder




O verdadeiro poder vem da aceitação da realidade das coisas e de seu movimento natural e da busca, nessa realidade, de algo que está além dela e que a transcende. Esta, metafísica, é verdadeira semente, a que floresce da terra, com o reconhecimento da ciência do mundo. Que trás, em si, a presença de algo maior que o mundo: a eternidade que predomina sobre o transitório, sobre nós mesmos, sobre tudo.



Egard Leite Ferreira Neto

Diferenças e contradições teológicas entre os evangelhos


Os Evangelhos Sinóticos são os três primeiros livros do Novo Testamento da Bíblia - Mateus, Marcos e Lucas. Eles são chamados "sinóticos" porque apresentam muitas semelhanças e paralelos em suas narrativas sobre a vida, os ensinamentos e os eventos relacionados a Jesus Cristo. Esses Evangelhos são frequentemente estudados em conjunto devido às suas semelhanças e à relação entre eles.


As principais características dos Evangelhos Sinóticos incluem:


Similaridades na narrativa: Os Evangelhos Sinóticos frequentemente contêm narrativas semelhantes de muitos eventos na vida de Jesus, embora com algumas variações de detalhes. Isso sugere que os autores usaram fontes comuns ou se influenciaram mutuamente.


Parábolas e ensinamentos: Os ensinamentos e parábolas de Jesus aparecem em todos os três Evangelhos Sinóticos, embora possam ser apresentados de maneira ligeiramente diferente.


Sequência cronológica: Os Evangelhos Sinóticos seguem uma sequência cronológica semelhante na narrativa da vida de Jesus, embora com algumas diferenças.


Ênfase nas ações de Jesus: Os Evangelhos Sinóticos enfatizam as ações, milagres e curas realizados por Jesus como parte de sua missão.


Compartilhamento de fontes: Muitos estudiosos acreditam que os autores dos Evangelhos Sinóticos usaram uma ou mais fontes comuns, como o Evangelho de Marcos, para compor seus próprios textos.


Diferenças literárias e teológicas: Embora compartilhem semelhanças, os Evangelhos Sinóticos também têm diferenças literárias e teológicas que refletem as preocupações e as audiências específicas de seus autores.


Em contraste, o Evangelho de João, que é o quarto Evangelho do Novo Testamento, é frequentemente chamado de Evangelho "não sinótico" devido às suas diferenças substanciais em termos de conteúdo, estilo literário e abordagem teológica em relação aos Evangelhos Sinóticos.


Os Evangelhos Sinóticos são fontes fundamentais para a compreensão da vida e dos ensinamentos de Jesus Cristo no contexto do cristianismo primitivo. Eles desempenham um papel crucial na tradição cristã e são amplamente estudados e lidos por cristãos e estudiosos da Bíblia.


DIFERENÇAS NOTÁVEIS:


Há várias diferenças notáveis entre o Evangelho de João e os Evangelhos Sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas), especialmente em relação às palavras e ensinamentos atribuídos a Jesus. Aqui estão algumas das diferenças mais marcantes:


O discurso de Jesus: No Evangelho de João, os discursos de Jesus tendem a ser mais longos e teologicamente elaborados do que nos Evangelhos Sinóticos. Por exemplo, em João, encontramos os chamados "Eu Sou" discursos, nos quais Jesus faz declarações enfáticas sobre sua divindade, como "Eu sou o pão da vida" (João 6:35) e "Eu sou o caminho, a verdade e a vida" (João 14:6). Esses tipos de declarações não são encontrados nos Evangelhos Sinóticos.


Escassez de parábolas: Enquanto os Evangelhos Sinóticos contêm muitas parábolas usadas por Jesus para ensinar, o Evangelho de João tem apenas uma parábola, a do bom pastor (João 10:1-18). João tende a se concentrar mais em declarações diretas de Jesus.


Ênfase na divindade de Jesus: O Evangelho de João coloca uma forte ênfase na divindade de Jesus e em sua relação com Deus Pai. A linguagem usada em João enfatiza a natureza divina de Jesus de maneira mais explícita do que nos Evangelhos Sinóticos.


Abordagem cronológica e geográfica diferente: João tem uma abordagem cronológica e geográfica diferente em relação aos eventos da vida de Jesus. Por exemplo, João coloca a limpeza do templo no início de seu Evangelho, enquanto nos Sinóticos, essa cena ocorre mais tarde.


A Última Ceia: A narrativa da Última Ceia em João difere dos Sinóticos em vários aspectos. Por exemplo, o lava-pés e os discursos de despedida de Jesus são detalhados em João, mas não nos Sinóticos.


Milagres selecionados: João destaca sete milagres específicos, conhecidos como "sinais," que são diferentes dos milagres encontrados nos Sinóticos. Além disso, em João, os milagres são frequentemente usados para ilustrar aspectos teológicos específicos.

---------------------------

Duas passagens que se comparadas, evidenciam uma gritante diferença:


Lucas 18:18-19

"Um dos líderes lhe perguntou: 'Bom mestre, o que devo fazer para herdar a vida eterna?' Jesus lhe disse: 'Por que você me chama de bom? Ninguém é bom, a não ser um, que é Deus.'"


João 14:8-9

"Felipe disse: 'Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta.' Jesus respondeu: 'Há tanto tempo estou convosco, e ainda não me conheceste, Felipe? Quem me viu, viu o Pai. Como dizes tu: Mostra-nos o Pai?'"

Em Lucas, Jesus é um homem humilde que destaca sua natureza humana, falível, corruptível.
Em João, ao contrário, Jesus se define como o próprio Deus, ou seja, infalível, incorruptível, um ser perfeito.

--------------------------

Essas são apenas algumas das diferenças mais evidentes entre o Evangelho de João e os Evangelhos Sinóticos. Elas refletem diferentes ênfases teológicas, estilos literários e tradições interpretativas entre os autores dos Evangelhos. Essas diferenças têm gerado debates e discussões dentro da teologia cristã ao longo da história.

Quem foi Moisés, o mito fundador do povo judeu




Para as culturas e civilizações ocidentais, fortemente embasadas pela tradição judaico-cristã, poucos têm importância tão fundamental quanto Moisés, líder que teria vivido há cerca de 3,5 mil anos e cuja trajetória é a própria fundação do judaísmo.


Historicamente, contudo, nem mesmo a existência de Moisés é 100% comprovada. Entretanto, sendo sua trajetória o vivenciado por uma só pessoa, seja ele uma construção mítica a partir de histórias de um povo, é inegável sua influência sobre a humanidade.


"Moisés pode ter sido uma pessoa real, de carne e osso, ou pode ser a síntese de grandes lideranças de um tempo determinado, que serve de referência para outras lideranças", pontua o rabino Uri Lam, da congregação israelita Templo Beth-El, de São Paulo.


Nesse sentido, Lam cita o filósofo, rabino e médico judeu Moisés Maimônides (1135 ou 1138-1204), em cuja lápide, em Israel, está a seguinte inscrição: "de Moisés a Moisés, nunca houve outro como Moisés". "Seja como for, a sua origem histórica, assim como a de tantas outras grandes figuras do passado remoto, acaba sendo reconstruída de forma simbólica, religiosa e espiritual, como criação da memória coletiva judaica, de geração em geração", enfatiza o rabino.




"O texto bíblico é a primeira referência, que a cada geração ganha novas nuances, interpretações e leituras, assim como a figura de Moisés é ressignificada e reconstruída e justamente desta forma se mantem viva e influente na história da humanidade", acrescenta.


"Encontrar o Moisés histórico, se possível, talvez contribua em algo para enriquecer o nosso conhecimento a respeito dele e de sua época. Mas vejo como mais importante o modo como cada geração pensa e repensa, de acordo com o seu contexto histórico, a figura de Moisés como a grande referência de liderança, com seus defeitos e qualidades e sua capacidade de desenvolvimento ao longo da vida. Também simbólica: 120 anos aponta para o limite de uma vida plenamente vivida, de acordo com a tradição judaica."


Sim, segundo a tradição judaica, Moisés teria vivido 120 anos.


"Ele é considerado o líder maior da tradição judaica. Toda semana, em cada sinagoga do mundo, o ritual judaico inclui como seu centro a leitura da lei de Moisés, o Pentateuco, a Torá", comenta o estudioso José Luiz Goldfarb, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e diretor de cultura judaica do clube A Hebraica.


"Toda sinagoga tem o rolo, em pergaminho, no estilo antigo, onde a gente tem esse fundamento que é a palavra de Moisés. Essa palavra é a história do mundo, desde a criação até a morte de Moisés, incluindo o relato dele no Egito, na corte do faraó, e depois libertando o povo rumo à terra prometida", acrescenta Goldfarb. "Esse texto vai até a morte de Moisés. Termina com ele se despedindo e deixando o povo para começar a terra prometida."


Nesses livros — Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio —, que formam a Torá e são o princípio do Antigo Testamento da Bíblia cristã, estão os fundamentos de todas as leis e costumes. "É o que baliza a vida judaica de um modo geral", diz Goldfarb. "Temos de frisar que Moisés é, de fato, considerado o líder que orienta, que organiza, que dá os rumos de toda a tradição judaica e de todo o povo de Israel."


Segundo a tradição, Moisés teria sido o autor dos cinco livros da Torá. "Neles, temos o fundamento de todas as leis, os costumes, que vão sendo interpretados de geração a geração e que balizam a vida judaica de um modo geral", sintetiza Goldfarb. "Ou seja: Moisés é considerado de fato o líder que orienta, que organiza, que dá os rumos de toda a tradição judaica e de todo o povo de Israel."


"Mas esse relato de Moisés é de mais de 1 mil anos antes de Cristo, e as bases históricas e arqueológicas que temos são muito mais recentes", comenta Goldfarb. "A parte anterior é mítica, uma história que a gente incorpora como fundamento de nossa tradição mas não corresponde a nada que até o momento tenhamos encontrado em uma base material, com comprovação histórica."


Ele contextualiza: os textos atribuídos a Moisés foram canonizados por volta do ano 300 a.C., mas a redação dos mesmos deve ter sido feita nos 600 anos anteriores. "Ou seja: se trata de um texto que foi transmitido, provavelmente em pedaços, pela história oral, em regiões diferentes de Israel, e num determinado momento foram consolidados num único livro", argumenta.


"Isso não impede que, do ponto de vista da religião, a gente tenha o material como algo estruturante, que nos forma, que nos mantem unidos e, de certa forma, com a referência a um único texto, a um único Moisés, ainda que a gente possa dizer cientificamente que não haja relatos desse Moisés."


"Nada exatamente nos garante que Moisés tenha sido um personagem histórico que de fato viveu toda a narrativa da Torá", comenta Goldfarb.

O Moisés histórico


Segundo a narrativa bíblica, Moisés teria nascido no Egito, filho de um casal da tribo judaica de Levi. O texto sagrado aponta que, quando ele nasceu, foi mantido escondido por três meses e, então, colocado em um cesto no Rio Nilo. A filha do faraó, então, teria encontrado o bebê e encarregado uma ama — que seria sua mãe natural — de criá-lo.


Ele teria sido, portanto, criado e educado na corte, como um príncipe. Aos 80 anos, entretanto, ele teria se tornado, encarregado por Deus, o libertador de seu povo, conduzindo-o para a "terra prometida", Canaã, antiga denominação da região correspondente à área do atual Estado de Israel, de parte da Jordânia, do Líbano e de parte da Síria.


"Há muitas teorias sobre quem teria sido o Moisés histórico, mas nenhuma conclusão definitiva", afirma o rabino Lam. "Do ponto de vista tradicional, se levarmos em conta o que está registrado no livro bíblico 1 Reis, de que o êxodo do Egito, liderado por Moisés, ocorreu 480 anos antes do rei Salomão construir o primeiro Templo Sagrado em Jerusalém, por volta do ano 1000 antes da Era Comum, o êxodo teria ocorrido por volta do ano 1480 antes da Era Comum, liderado por Moisés, então com 80 anos. Logo, Moisés, que segundo a Torá viveu por 120 anos, teria nascido em 1560 antes da Era Comum e falecido em 1440."





"Segundo outra tradição rabínica, Moisés teria vivido entre 1391 e 1271 antes da Era Comum. Segundo uma terceira posição, a do historiador e estudioso da Bíblia Israel Knohl, professor da Universidade Hebraica de Jerusalém e no Instituto Shalom Hartman, em Jerusalém, a escravidão do povo de Israel no Egito provavelmente começou no final do reinado de Ramsés II e o êxodo ocorreu cerca de 400 anos depois, por volta de 1175 antes da Era Comum, quando Moisés teria 80 anos; daqui se supõe que Moisés tenha vivido entre os anos 1255 e 1135", explica o rabino.


Isto posto, se nem o período em que ele viveu é confirmado, o restante das informações biográficas também é permeado de dúvidas. "Se só temos como estimar que Moisés teria vivido entre 3,1 mil e 3,5 mil anos atrás, sua origem histórica também não é clara", concorda Lam.


"Tradicionalmente, ele nasceu no Egito, filho de uma família da tribo de Levi, já durante o tempo em que os israelitas eram escravos. Há quem diga, porém, que ele teria sido um conselheiro egípcio do faraó. Outros, que Moisés viria de Mose, cujo significado seria 'filho', lembrando que o nome Moshé foi dado pela filha do faraó. Mas a tradição judaica entende que Moshé vem de uma palavra da raiz hebraica e seu sentido é 'eu o tirei das águas', referindo-se ao fato de a filha do faraó ter, segundo o texto bíblico, retirado o bebê Moisés das águas do rio Nilo e o criado como o seu filho, o seu 'moshé'."


O rabino acrescenta que, na falta de relatos históricos, o que sabemos sobre quem foi Moisés se baseia "nos relatos bíblicos e na leitura rabínica".


"Foi o maior dos líderes e profetas do povo judeu em todos os tempos, aquele que liderou o êxodo do Egito e a perambulação de 40 anos pelo deserto, enfrentando povos inimigos, adversidades pelo caminho e crises dentro do próprio povo, até ser sucedido por Josué, filho de Nun, e morrer sem entrar na terra prometida", define. "Mas, historicamente, a partir do que se costuma chamar de história, embora haja muita especulação, não há como definir quem foi Moisés."


No meio disso tudo, difícil cravar o que ocorreu historicamente e o que acabou sendo perpetuado como uma construção, uma narrativa mítica fundadora de uma religião. "Tantas histórias que podem ter sido reais, do ponto de vista histórico… Ou não", comenta o rabino.


"Tampouco vejo que se trata de algo lendário, no sentido de uma espécie de não-verdade, mas sim de campos de significados religiosos, espirituais, psicológicos e simbólicos, que carregam lições de humanidade, de crescimento pessoal, de desenvolvimento de liderança que servem de inspiração até os dias atuais. Portanto, verdadeiros."


"Racionalmente, o que vamos entender é que Moisés foi um grande líder, o iniciador de fato de um povo, na medida que esse povo sai do Egito. Mas isso por volta de 1,2 mil anos antes de Cristo, mais ou menos", situa o historiador, filósofo e teólogo Gerson Leite de Moraes, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Contexto


Mas para entender essa construção mítica do personagem é preciso retroceder ainda mais no tempo. E entender o que faziam esses hebreus antigos em território egípcio, afinal. E, principalmente, por que eles decidiriam ou precisaram empreender essa fuga heroica.


É uma história que remonta às origens daquilo que entendemos como civilização, aliás. "Aquilo que a gente poderia chamar de antepassados dos israelitas eram os que habitavam uma região do crescente fértil, uma meia lua cortada por uma série de rios importantes, o Tigre, o Eufrates…", explica Moraes. É a Mesopotâmia.


Segundo o professor, muito provavelmente esses antepassados eram povos semitas, seminômades, criadores de ovelhas que "durante todo o segundo milênio antes de Cristo circulavam pelas margens semidesérticas daquele entorno".


Em algum momento entre os século 19 a.C. e 16 a.C., algumas figuras de destaque acabaram se tornando importantes a ponto de ganharem menções, registros, primeiro na história oral, depois em textos. "É o caso de Abraão", pontua Moraes.


"Isso vai ser importante quando Israel, lá na frente, for contar a história e seus mitos fundamentais. Eles vão recuperar isso: Deus chamou um homem de nome Abraão, ele se estabeleceu ali, criou seus filhos e sua descendência seria o início da formação dos israelitas."


"Mas num determinado momento, essa grande família enfrentou a fome. O grupo decidiu então migrar para o Egito", prossegue o acadêmico. "Lá eles ficaram 400 anos. Só que algo que no início era muito favorável, com o passar do tempo deixou de ser interessante. Porque depois de 400 anos, esse povo está submetido a um regime de servidão: estamos falando de algo em torno do século 13 antes de Cristo."


Moraes endossa o que acreditam certos pesquisadores: que não era um regime de escravidão, mas sim a servidão. Que os antepassados dos israelitas que ali viviam eram obrigados a prestarem serviços ao faraó em troca de poderem usar a terra e terem segurança.


"Aos poucos, esse povo começa a querer sair do Egito e voltar a ocupar aquilo que eles entendem ser a terra prometida por Deus. É aí que aparece a figura de Moisés", diz Moraes.


"A Bíblia vai chamar de escravidão, mas muito provavelmente o que temos é um regime de servidão. Só que esse regime vai se tornando cada vez mais opressor, o que aumenta o desejo de sair da terra. Aquela família semítica que em algum momento desceu para o Egito já se tornou um grupo de muitos segmentos", relata ele.


Muito provavelmente isso tudo ocorreu durante o reinado do faraó Ramsés 2o. (1303 a.C. - 1213 a.C.). De acordo com Moraes, "foi um processo complexo de tomada de consciência desse grupo semita".


Moisés, criado como príncipe, teria assumido o papel de líder, com uma narrativa repleta de sinais divinos e contornos míticos. "Nesse processo de saída do Egito reside o fato fundante, aquilo que determina a identidade de um povo", analisa o teólogo e historiador.


A demora dos 40 anos se justifica, historicamente: a região de Canaã, antes terra desse povo, já estava ocupada por outros grupos. Era preciso estratégia e força militar para retomar a posse.


"Eles saem do Egito como uma verdadeira confederação tribal, feita de muitos núcleos familiares. Ficam perambulando e não entram [no destino almejado] porque não têm força militar para entrar. O relato bíblico se aproveita disso para mostrar a liderança de Moisés e tudo aquilo que envolve sua figura", comenta.


Nesse processo, três fatos são fundamentais: a partida, em si, do Egito, depois de uma série de catástrofes, apresentadas como sinais da intervenção de Deus; a célebre passagem pelo mar Vermelho, muito explorada imageticamente mas que, segundo estudiosos contemporâneos, teria sido uma engenhosa obra de tática militar; e o momento em que Moisés supostamente recebe de Deus — e apresenta ao povo — a tábua dos Dez Mandamentos, uma constituição em que, nas palavras de Moraes, "estabelece princípios de adoração e de convivência".

Identidades e verdades


Na falta de evidências arqueológicas ou registros materiais, há várias possibilidades de entender sobre quem foi Moisés. Ele pode ter sido um grande líder, que foi capaz de unir seu povo insatisfeito e empreender essa viagem de volta às origens, como a tradição consolidou.


Também pode ser a junção de vários líderes, em um processo mais longo — e o tempo acabou sedimentando todas as características em uma só figura.


Outra hipótese é que ele tenha sido um egípcio de fato, derrubando a narrativa de que ele teria sido adotado pela família do faraó — nesse entendimento, ele era, na verdade, filho legítimo da dinastia dominante.


É o que defendeu, por exemplo, o psiquiatra Sigmund Freud (1856-1939), no livro Moisés e o Monoteísmo. "Muita gente defendia a ideia de que Moisés não fosse necessariamente um israelita, um judeu. Mas um egípcio, alguém de dentro da própria dinastia que, de alguma maneira acabou se solidarizando com aquele grupo e conduzindo-o", aponta Moraes.


"É uma teoria que gera polêmica até hoje, porque os judeus têm dificuldade com isso. Como assim, o grande líder não ser um israelita? De uma maneira geral, Moisés é 'propriedade' dos judeus."


Outro ponto interessante que corrobora a tese de que o relato bíblico é mítico é o fato de que a narrativa em si não é uma história original.


"O relato de seu nascimento pode ser comparado com a epopeia de Sargão da Acádia [antigo rei sumério], um grande conquistador mesopotâmico do século 25 antes de Cristo", comenta Moraes. "Essa epopeia serve como referência para emoldurar o nascimento de Moisés."


Segundo a narrativa, quando Sargão nasceu ele foi abandonado às escondidas por sua mãe e posto em uma cesta de junco calafetada. Deixado em um rio, foi levado até o mundo divino, onde uma deusa o teria acolhido e amado.


"Ao tratarem Moisés dessa forma, pretendiam inscrevê-lo como o grande libertador de Israel, no rol dos grandes personagens da história", compara o historiador. "Quem apresenta Moisés dessa forma está copiando uma longa tradição que vem de muito tempo antes e isso tem a finalidade de mostrar sua predestinação."


Evidentemente que, diante da precaridade documental, o que fica de "verdade" sobre Moisés é o relato que chegou aos nossos dias. "Dá para cravar quando nasceu? Se era egípcio? Não se sabe. Muito difícil bater o martelo. O que nossa cultura faz é, já que temos acesso ao que ele foi por meio da literatura sagrada, a gente compra o relato do jeito que ele é. Mas uma pesquisa mais aprofundada mostra que não dá para ter tanta certeza", diz Moraes.


E essas construções permeiam toda a narrativa. No famoso episódio da travessia do mar Vermelho, por exemplo, o imaginário consagrou a ideia de um ato mágico em que duas colunas de água se abrem e o povo passa no meio.


Trabalho científico publicado em 2010 pelo Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica dos Estados Unidos, em parceria com a Universidade de Colorado, no periódico Plos One, concluiu que o episódio pode ter sido decorrente de ventos extremamente fortes soprados ao longo de uma noite em uma região onde um afluente do Nilo se funde com uma lagoa costeira do mar. E o episódio "milagroso" poderia ter ocorrido ali.


Uma interpretação mais consolidada é que a travessia mítica tenha ocorrido em uma região marcada por uma cadeia de lagos rasos, repletos de juncos tolerantes à água salgada.


"Os judeus fugiram e as rodas das carroças dos soldados egípcios que os perseguiam ficaram atoladas, não permitindo que eles seguissem adiante. Foi uma estratégia militar", comenta Moraes.


Para o pesquisador, "criou-se a ideia de que Deus esteve com o povo mas há toda uma polêmica sobre o ato miraculoso". "O milagre talvez esteja na estratégia bem sucedida, em como um povo de trabalhadores braçais conseguiu ludibriar um exército profissional. Isto é de fato miraculoso", aponta ele.


De qualquer forma, o relato se fez necessário como "fato fundante" do novo povo. "Sem isso, não seria possível a constituição do povo de Israel", afirma o historiador.


"A confederação tribal que sai do Egito precisa crer que Deus está com eles, que eles recebem uma lei de Deus, que quer ser o Deus deles, e eles serão o povo desse Deus. Então, está tudo certo. A visão religiosa precisa ter esses elementos todos porque são elementos que agregam, que dão identidade", analisa Moraes.


Moisés é protagonista e também é produto disso. "O que aconteceu com ele é envolto nesse processo de constituição identitária de um povo. Ele existiu, foi um líder importante, conduziu esse povo, se colocou como uma espécie de legislador", contextualiza. "Tudo o mais registrado sobre ele entra no terreno da fé."



https://www.bbc.com/portuguese/geral-63011899

Edison Veiga
De Bled (Eslovênia) para a BBC News Brasil

O que a ciência diz sobre Moisés, as dez pragas, o êxodo e a travessia do mar Vermelho


Uma das principais figuras religiosas do mundo, o profeta Moisés e sua história fundamentam há séculos a fé de bilhões de pessoas - e intrigam cientistas em igual medida. A Bíblia diz que Moisés foi escolhido por Deus para liderar a saída dos hebreus do Egito, onde eram escravos, rumo à terra prometida de Canaã. Após o reino ser atingido pelas dez pragas, o faraó Ramsés 2º admite sua libertação, pedida por Moisés. Durante o êxodo, um dos momentos mais marcantes, segundo o relato bíblico, é a abertura do mar Vermelho pelo profeta para que seu povo fugisse da perseguição do faraó, que havia se arrependido de sua decisão. É nesta jornada que Moisés recebe de Deus as tábuas dos dez mandamentos. Após vagar 40 anos no deserto, os hebreus chegam a seu destino, mas Moisés falece no fim do caminho, depois de avistar Canaã ao longe. Esta história está na base não só do Cristianismo, como também do Judaísmo, e Moisés também é reconhecido pelo Islamismo e outras religiões.

Ela também inspirou diversas interpretações artísticas no cinema, no teatro e na televisão. Entre as produções mais recentes, está o filme Êxodo: Deuses e Reis (2014), dirigido por Ridley Scott. Atualmente no ar, a novela Os Dez Mandamentos, da TV Record, vem atraindo o interesse do público brasileiro e obtendo altos índices de audiência para a emissora. De forma inédita, o folhetim foi líder de audiência na Grande São Paulo durante a exibição de todo o capítulo em que Moisés abre o mar Vermelho, na última terça-feira, com pico de 31 pontos no Ibope e média de 28,1 pontos (cada ponto equivale a 67 mil domicílios), tornando-se o programa mais visto no país neste dia. 


Estes resultados fizeram a Record anunciar uma segunda novela bíblica para substituir a atual produção e uma continuação de Os Dez Mandamentos para o próximo ano. Mas seria o texto bíblico ficção ou um reflexo de fatos históricos? Seus acontecimentos têm correspondência em registros históricos desta sociedade antiga? Quais evidências foram encontradas em investigações científicas realizadas ao longo das últimas décadas? 


MOISÉS


Moisés era hebreu, mas não escravo, segundo a Bíblia, porque foi encontrado em um cesto em rio pela filha do faraó, que o adotou.


O egiptolólogo Jim Hoffmeier, autor de Israel Antigo no Sinai (Oxford University Press, 2005) explica que esta prática era comum no Egito Antigo e que persiste de certa forma até os dias de hoje. "Era uma forma antiga de colocar uma criança à mercê do destino determinado pelos deuses. Hoje, colocamos bebês em cestos e os deixamos na porta de igrejas", afirma Hoffmeier. 


A história da primeira infância de Moisés ainda compartilha muitas semelhanças com um antigo mito da Babilônia de um rei chamado Sargon, que foi encontrado em um cesto boiando em um rio. Entre 600 e 300 a.C., escribas judeus em Jerusalém registraram as lendas e histórias antigas de seu povo, para que fossem passadas de geração em geração. 


Eles teriam se baseado no mito de Sargon para criar a história de Moisés? É uma teoria possível, pois os judeus foram capturados pelos babilônios em 587 a.C e mantidos em exílio por algum tempo. Neste momento, o mito de Sargon poderia ter servido de base para o relato sobre o profeta. Hoffmeier ainda explica que seria normal a adoção de Moisés pela filha do rei. Registros deixados pelos faraós mostram que os palácios tinham creches onde os filhos da realeza eram educados e que crianças estrangeiras também eram trazidas para participar.


"Nesta época em que supomos que viveu Moisés, crianças que não faziam parte da nobreza passaram a poder integrar estas instituições, assim como os filhos de reis estrangeiros, que eram levados para elas para aprender a ler e escrever", diz Hoffmeier. Teria sido simples para filha do faraó, segundo o especialista, colocar um bebê encontrado por ela em uma destas creches. Estudiosos do tema ainda questionam se os hebreus eram de fato escravos neste período do Egito Antigo, pois, além do texto bíblico, não existe provas históricas ou arqueológicas disso. "Havia semitas, alguns dos quais poderiam chamar a si mesmos de hebreus, que faziam parte de grupos de trabalho. Eles não eram propriedade de um indivíduo. Eles viviam em vilarejos de trabalhadores", afirma Carol Meyes, professora de estudos bíblicos da Universidade Duke, nos Estados Unidos. O rabino Burton L. Visotzky, professor do Seminário Teológico Judaico, em Nova York, afirma que, apesar da Bíblia determinar claramente que os hebreus eram escravos que foram libertados, "há muito pouca evidência desta escravidão" além deste texto. "A lição final do (livro bíblico) Êxodo é que a liberdade vem da aceitação da soberania de Deus." 


AS PRAGAS 

Na Bíblia, as dez pragas são um ato de Deus, que age por meio da natureza. São elas: As águas do rio Nilo viram sangue;Rãs cobrem a terra;Piolhos atormentam a população;Moscas escurecem os céus;O gado morre;Chagas afligem homens e animais;Uma chuva de granizo destrói plantações;Nuvens de gafanhotos consomem cultivos;Trevas encobrem o Sol por três dias;Os primogênitos morrem.Especialistas de diversas áreas, como climatologistas, oceanógrafos e vulcanólogos, sugerem haver evidências de uma série de eventos naturais que poderiam explicar estas pragas.


O epidemiologista especializado em desastres naturais John Marr, autor de um artigo sobre o assunto publicado no jornal americano New York Times, que que serviu de base para um documentário da BBC, acredita que as pragas podem ter sido causadas pela proliferação de um micro-organismo, o Pfiesteria piscicida, nas águas do Nilo, o que teria envenenado os peixes e levado uma série de eventos trágicos.

Esta teoria explica as seis primeiras pragas. Em 1999, ocorreu uma catástrofe ambiental na cidade americana de New Burn, no Estado da Carolina do Norte. Ao acordar, seus habitantes viram que um rio local haviam ficado vermelho. Mais de um bilhão de peixes morreram. Pessoas que trabalhavam próximo do curso d'água ficaram cobertas por feridas.

A causa foi poluição, após milhões de litros de excrementos dos animais serem despejados na água em uma fazenda de porcos localizada à beira do rio. A contaminação causou uma mutação genética no Pfiesteria, que fez com que o micro-organismo passasse de inócuo a letal. Para Marr, o micro-organismo teria matado os peixes, o que teria feito com que o rio assumisse um tom avermelhado. A poluição teria forçado as rãs a invadir a terra, onde elas morreriam, gerando uma multiplicação de moscas e piolhos - que teriam perdido seus predadores naturais. Por sua vez, as moscas poderiam ter transmitido doenças virais para os animais, levando-os à morte.


O cientista ainda aponta que "pragas" como gafanhotos e chuvas de granizo continuam a assolar o Oriente Médio até hoje. O golpe final - a morte dos primogênitos - poderia ser um resultado direto da combinação da tradição local e tentativas de lidar com as outras pragas. Os cultivos que resistiram aos gafanhotos e ao granizo poderiam ter sido colhidos e armazenados ainda úmidos, criando as condições perfeitas para a proliferação de toxinas mortais. Em uma posição social privilegiada, os primogênitos teriam sido alimentados com duas porções dos grãos contaminados.


Outra teoria dá conta de que as pragas teriam sido causadas pela erupção de um vulcão. Em maio de 1980, o monte Santa Helena, no noroeste dos Estados Unidos, entrou em erupção, matando tudo em um raio de quase 38 km. As cinzas expelidas na atmosfera ainda escureceram os céus num raio de 160 km. Marr argumenta que cinzas de um vulcão poderiam ter dado início a uma proliferação de algas, com efeito tóxico, no rio Nilo, desencadeando os mesmos eventos que teriam sido causados pelo Pfisteria.


Esta teoria parece frágil diante do fato de não existirem vulcões ativos no Egito, mas a ilha grega de Santorini fica a 800 km ao norte do delta do Nilo. No século 16 a.C., a ilha foi destruída por uma grande erupção, milhares de vezes mais potente que uma bomba nuclear e uma das mais fortes dos últimos 10 mil anos. Os efeitos deste evento poderiam ter atingido o Egito? Quando a erupção ocorreu, o vento soprava na direção sudeste, rumo ao reino egípcio. Amostras das cinzas foram coletadas do fundo do oceano, e sua maior concentração foi encontrada na direção do delta do Nilo.

O oceanógrafo Jean-Daniel Stanley, do Instituto Smithsonian, em Washington, nos Estados Unidos, coletou amostras de lama e lodo para verificar se as cinzas teriam chegado tão longe e identificou no Egito fragmentos vulcânicos ligados a esta erupção. "Deve ter sido uma experiência aterrorizante. Primeiro, teria sido ouvida a explosão. Depois, as pessoas teriam sentido a queda das cinzas jogadas no ar", diz ele. 

Mas como isso poderia ter levado às pragas? Mike Rampino, especialista em modelos climatológicos da New York University, simulou com a ajuda de um programa de computador os efeitos da erupção em Santorini. Suas cinzas teriam bloqueado o Sol e levado a escuridão ao delta do Nilo. Isso teria sido acompanhado por eventos climáticos adversos relacionados a erupções, como tempestades de raios e granizo.


A erupção também teria levado a uma queda de 2ºC na temperatura, o que teria reduzido as chuvas e feito o nível dos rios baixar e sua água se estagnar. Junto com minerais tóxicos das cinzas trazidos pela chuva, isso teria provocado um grande impacto no Nilo e gerado as condições ideais para a proliferação de pragas. 

O ÊXODO


Segundo a Bíblia, quando os hebreus deixaram o Egito, o faraó mudou de ideia e enviou 600 bigas para perseguir os escravos. Este número seria um exagero bíblico? Em 1997, no sítio arqueológico onde ficava a cidade de Ramsés 2º, arqueólogos descobriram as fundações de um estábulo, com espaço suficiente para ao menos 500 cavalos e suas bigas.


O texto bíblico diz ainda que Deus guiou os hebreus em sua jornada com uma coluna de fumaça durante o dia e de fogo à noite. Se este êxodo ocorreu no século 16 a.C., estas colunas poderiam ser explicadas pela erupção em Santorini? Apesar da ilha grega estar a 800 km de distância, a coluna de fumaça saída do vulcão poderia ter atingido até 64 km de altura acima do nível do mar. 


O climatologista Mike Rampino diz que isso permitiria que ela fosse vista desde o Egito. Durante p dia, as cinzas poderiam ter sido confundidas com fumaça e, à noite, a eletricidade estática na atmosfera poderia ter gerado raios no céu. 


A TRAVESSIA 

Trata-se do episódio mais famoso - e controverso - do êxodo hebreu. Ao ler a Bíblia em hebraico, é possível notar que a palavra "vermelho" foi traduzida de forma errada. Nesta versão, Moisés e seu povo cruzam o "yam suph", ou "mar de junco (tipo de planta)". "Esta é uma história estranha. Você pode imaginar que cruzar o Mar Vermelho seria uma tarefa muito difícil, mas fazer o mesmo em um mar de junco seria algo bem diferente. Esta é uma área de pântano e é provavelmente o local da travessia", diz o egiptólogo David Rohl, ex-diretor do Instituto de Estudos de Ciências Interdisciplinares e autor de Êxodo: Mito ou História (Thinking Media Man, 2015).

Mas como explicar o relato de que o mar teria retornado a seu estado original e afogado os soldados do faraó? "Se estamos falando de um pântano raso composto por juncos, haveria ali no máximo dois ou três metros de profundidade. Então, este tipo de fenômeno seria fisicamente possível", afirma Rohl. "Na verdade, isso já foi testemunhado nos últimos cem anos. O exército egípcio pode não ter sido completamente dizimado. Muitos cavalos teriam morrido e as bigas ficado presas na lama."

Mas e quanto à famosa imagem do cânion formado pela elevação da água? Isso teria qualquer correspondência na realidade? Simulações da erupção de Santorini mostram que o colapso da ilha gerou um enorme tsunami de 182 metros de altura, que viajou a 640 km/h. O geólogo e especialista em tsunamis Floyd McCoy, da Universidade do Havaí, nos Estados Unidos, diz que essa foi uma das maiores ondas já registradas na história e provavelmente atingiu o Egito.


"Acredite ou não, encontramos evidências dela no fundo do oceano. Tsunamis de fato rasparam o fundo do Mediterrâneo e moveram sedimentos. Podemos encontrar estes sedimentos - e isso nos dá uma ideia de sua direção", diz McCoy. "Um modelo computacional nos mostrou ondas irradiando por todo o Mediterrâneo e atingindo o delta do Nilo." Esse tsunami poderia ter dividido as águas do "mar de juncos"? Ao analisar as ondas pouco antes de quebrarem, percebemos que a água se retrai da costa. Um mega tsunami teria feito o mesmo com bilhões de litros de água - não apenas da costa, mas de rios e lagos conectados ao litoral - fazendo com que a terra "secasse" por até duas horas. "Um tsunami de dois metros provoca uma mudança rápida do nível do mar de mesma proporção e viaja por vários quilômetros terra adentro", diz Costas Synolakis, especialista neste fenômeno da Universidade da Califórnia do Sul. "A força destrutiva de um mega tsunami seria mais do que suficiente para destruir um exército." 


Outra evidência torna esta teoria plausível. Em 1994, a ilha de Mindoro, nas Filipinas, foi atingida por um tsunami e um terremoto. O tremor abrir uma grande rachadura no fundo de um lado localizado a 1,5 km da costa. Uma testemunha contou na época que viu a água do lago escorrer como em uma cachoeira, sendo tragada até revelar o fundo. 


O tsunami ainda percorreu 1,5 km de um rio, levando consigo uma embarcação de 6 mil toneladas. A mega onda que atingiu o delta do Nilo foi mil vezes mais devastadora do que este fenômeno recente. Outra teoria formulada por cientistas americanos ainda dá conta que o movimento dos ventos poderia ter aberto uma passagem de terra nas águas, o que permitiria a travessia. 


Os resultados, divulgados na publicação científica Plos One, foram baseados em simulações de computador, nas quais os pesquisadores mostram como um vento forte vindo do leste e soprando ao longo da noite poderia ter provocado a retração das águas no local onde um rio antigo se encontrava com uma lagoa costeira no delta do Nilo. Quando o vento perdeu força, as águas teriam voltado ao normal.


"A simulação vai de encontro ao relato do êxodo", diz o líder do estudo, Carl Drews, do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica dos Estados Unidos. A pesquisa faz parte de um projeto científico mais amplo que avalia o impacto de ventos em corpos de água e, ao identificar o local no sul do Mediterrâneo onde a travessia teria ocorrido, pode ajudar arqueólogos na busca por novas evidências.


Fonte:

https://noticias.uol.com.br/ciencia/ultimas-noticias/bbc/2015/11/12/o-que-a-ciencia-diz-sobre-moises-as-dez-pragas-o-exodo-e-a-travessia-do-mar-vermelho.htm