domingo, 29 de outubro de 2023

Diferenças e contradições teológicas entre os evangelhos


Os Evangelhos Sinóticos são os três primeiros livros do Novo Testamento da Bíblia - Mateus, Marcos e Lucas. Eles são chamados "sinóticos" porque apresentam muitas semelhanças e paralelos em suas narrativas sobre a vida, os ensinamentos e os eventos relacionados a Jesus Cristo. Esses Evangelhos são frequentemente estudados em conjunto devido às suas semelhanças e à relação entre eles.


As principais características dos Evangelhos Sinóticos incluem:


Similaridades na narrativa: Os Evangelhos Sinóticos frequentemente contêm narrativas semelhantes de muitos eventos na vida de Jesus, embora com algumas variações de detalhes. Isso sugere que os autores usaram fontes comuns ou se influenciaram mutuamente.


Parábolas e ensinamentos: Os ensinamentos e parábolas de Jesus aparecem em todos os três Evangelhos Sinóticos, embora possam ser apresentados de maneira ligeiramente diferente.


Sequência cronológica: Os Evangelhos Sinóticos seguem uma sequência cronológica semelhante na narrativa da vida de Jesus, embora com algumas diferenças.


Ênfase nas ações de Jesus: Os Evangelhos Sinóticos enfatizam as ações, milagres e curas realizados por Jesus como parte de sua missão.


Compartilhamento de fontes: Muitos estudiosos acreditam que os autores dos Evangelhos Sinóticos usaram uma ou mais fontes comuns, como o Evangelho de Marcos, para compor seus próprios textos.


Diferenças literárias e teológicas: Embora compartilhem semelhanças, os Evangelhos Sinóticos também têm diferenças literárias e teológicas que refletem as preocupações e as audiências específicas de seus autores.


Em contraste, o Evangelho de João, que é o quarto Evangelho do Novo Testamento, é frequentemente chamado de Evangelho "não sinótico" devido às suas diferenças substanciais em termos de conteúdo, estilo literário e abordagem teológica em relação aos Evangelhos Sinóticos.


Os Evangelhos Sinóticos são fontes fundamentais para a compreensão da vida e dos ensinamentos de Jesus Cristo no contexto do cristianismo primitivo. Eles desempenham um papel crucial na tradição cristã e são amplamente estudados e lidos por cristãos e estudiosos da Bíblia.


DIFERENÇAS NOTÁVEIS:


Há várias diferenças notáveis entre o Evangelho de João e os Evangelhos Sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas), especialmente em relação às palavras e ensinamentos atribuídos a Jesus. Aqui estão algumas das diferenças mais marcantes:


O discurso de Jesus: No Evangelho de João, os discursos de Jesus tendem a ser mais longos e teologicamente elaborados do que nos Evangelhos Sinóticos. Por exemplo, em João, encontramos os chamados "Eu Sou" discursos, nos quais Jesus faz declarações enfáticas sobre sua divindade, como "Eu sou o pão da vida" (João 6:35) e "Eu sou o caminho, a verdade e a vida" (João 14:6). Esses tipos de declarações não são encontrados nos Evangelhos Sinóticos.


Escassez de parábolas: Enquanto os Evangelhos Sinóticos contêm muitas parábolas usadas por Jesus para ensinar, o Evangelho de João tem apenas uma parábola, a do bom pastor (João 10:1-18). João tende a se concentrar mais em declarações diretas de Jesus.


Ênfase na divindade de Jesus: O Evangelho de João coloca uma forte ênfase na divindade de Jesus e em sua relação com Deus Pai. A linguagem usada em João enfatiza a natureza divina de Jesus de maneira mais explícita do que nos Evangelhos Sinóticos.


Abordagem cronológica e geográfica diferente: João tem uma abordagem cronológica e geográfica diferente em relação aos eventos da vida de Jesus. Por exemplo, João coloca a limpeza do templo no início de seu Evangelho, enquanto nos Sinóticos, essa cena ocorre mais tarde.


A Última Ceia: A narrativa da Última Ceia em João difere dos Sinóticos em vários aspectos. Por exemplo, o lava-pés e os discursos de despedida de Jesus são detalhados em João, mas não nos Sinóticos.


Milagres selecionados: João destaca sete milagres específicos, conhecidos como "sinais," que são diferentes dos milagres encontrados nos Sinóticos. Além disso, em João, os milagres são frequentemente usados para ilustrar aspectos teológicos específicos.

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Duas passagens que se comparadas, evidenciam uma gritante diferença:


Lucas 18:18-19

"Um dos líderes lhe perguntou: 'Bom mestre, o que devo fazer para herdar a vida eterna?' Jesus lhe disse: 'Por que você me chama de bom? Ninguém é bom, a não ser um, que é Deus.'"


João 14:8-9

"Felipe disse: 'Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta.' Jesus respondeu: 'Há tanto tempo estou convosco, e ainda não me conheceste, Felipe? Quem me viu, viu o Pai. Como dizes tu: Mostra-nos o Pai?'"

Em Lucas, Jesus é um homem humilde que destaca sua natureza humana, falível, corruptível.
Em João, ao contrário, Jesus se define como o próprio Deus, ou seja, infalível, incorruptível, um ser perfeito.

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Essas são apenas algumas das diferenças mais evidentes entre o Evangelho de João e os Evangelhos Sinóticos. Elas refletem diferentes ênfases teológicas, estilos literários e tradições interpretativas entre os autores dos Evangelhos. Essas diferenças têm gerado debates e discussões dentro da teologia cristã ao longo da história.

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