domingo, 31 de dezembro de 2023

Reflexão sobre os enteógenos



Na Idade Média, o uso de vegetais, fungos e secreções animais, contendo compostos com acentuado efeito psicoativo, foi intensamente combatido pela Igreja Católica. Associava-se o ato às “forças do mal” e aqueles, que incentivavam essas práticas, poderiam ser executados como bruxos nas fogueiras da Inquisição. Com a descoberta do Novo Mundo, o mesmo conceito foi levado aos povos nativos das Américas que, desde tempos imemoriais, já empregavam seus próprios preparos psicoativos com o principal intuito de acessar aos seus deuses. Aqui, o poder coercitivo exercido pela Igreja também se fez presente.

A lei brasileira, acompanhando a instituição do Controlled Substances Act, assinado em 1971 pelos membros da Organização das Nações Unidas (ONU), considera delito penal o consumo de uma série de compostos psicoativos. Inseriu o DMT e outros como a psilocibina, psilocina, LSD-25, mescalina e canabinoides na categoria de substâncias sem fins terapêuticos, de uso não seguro e com alto potencial de abuso. Configuram na Lista F2 da Portaria n° 344/1998, ANVISA, como substâncias psicotrópicas de uso proscrito. Paradoxalmente, o Estado brasileiro contempla o consumo legal da ayahuasca, em contexto religioso, inclusive por mulheres grávidas e crianças, mesmo não havendo estudos científicos conclusivos sobre os efeitos da bebida no organismo de indivíduos com o sistema nervoso central ainda em formação.

Em uma parte dos casos, mas não na maioria, os líderes religiosos estipulam restrições em relação às quantidades oferecidas e ao número de rituais específicos para a participação de crianças. Nesses centros, no momento da admissão de um indivíduo adulto, que se propõe a seguir a religião, é feita uma entrevista na qual, entre outros aspectos, procura-se elucidar o quadro clínico a partir do seu histórico médico, a fim de avaliar se há a possibilidade do pretenso, em participar no consumo do sacramento. Sabe-se que indivíduos com certas patologias comuns, como a hipertensão, ou com distúrbios mentais, como transtorno bipolar e esquizofrenia, são severamente contraindicados à ingestão da ayahuasca.

Mesmo com os critérios adotados nos centros religiosos mais sérios, não se tem conhecimento preciso acerca das concentrações dos psicoativos nas bebidas, uma vez que esses níveis variam muito nos vegetais utilizados nesses preparos, dependendo de fatores como as características da terra, condições climáticas e das quantidades vegetais empregadas na preparação da bebida. Até mesmo o horário de coleta das plantas pode influenciar no nível de concentração de um dado composto.

O que se constata, contudo, devido à rápida expansão sem controle desses cultos, inclusive com a proliferação de novas ramificações religiosas, com novos dogmas, geralmente, em muitos centros, não há sequer uma liderança devidamente preparada para conduzir os rituais envolvendo a ayahuasca. Além da falta de critérios na administração da bebida, também não há um acompanhamento adequado, fundamental aos que se encontram sob o efeito da combinação de DMT e inibidores da MAO, e muito menos, conhecimento sobre possíveis interações com alguns medicamentos alopáticos de uso continuo ou com alimentos ricos em tiramina.

Por outro lado, contrariando a definição imposta pela Lei, inúmeras aplicações terapêuticas vêm sendo apontadas em crescente número de pesquisas, como nos estudos para a aplicação da ibogaína e da própria ayahuasca, na recuperação de dependentes crônicos de álcool, tabaco, heroína, cocaína e suas variações. Ainda, fármacos constituídos por princípios psicoativos do gênero Cannabis são empregados em terapias, para os casos de esclerose múltipla e glaucoma. Também, como estimulantes do apetite, assim como na diminuição de náuseas, comuns nos tratamentos de AIDS e câncer. Há pesquisas que comprovam a efetiva ação dos canabinoides na redução de tumores cancerígenos, em modelos animais. Testes clínicos em humanos estão em curso.

Sem esquecermos, obviamente, o sucesso obtido no intenso uso do LSD-25, da psilocibina e da mescalina em importantes estudos psicoterapêuticos, notadamente nas décadas de 1950 e 1960. Apesar do crescente número de novas publicações, reportando aplicações do LSD nessas psicoterapias, após quase duas décadas de proibições nos EUA, não há mais o interesse da indústria farmacêutica em investir em novas pesquisas. Para citar apenas um exemplo, um derivado bromado do LSD, sintético não psicoativo, apresenta eficácia comprovada no tratamento dos sintomas da enxaqueca crônica, sem graves reações adversas. No entanto, nenhum grupo farmacêutico demonstrou interesse na nova droga. A patente do LSD e dos seus derivados caducou ainda na década de 1960.

No mundo ocidental, tem-se o comércio regularizado de álcool e tabaco, responsáveis diretos por milhões de mortes anuais em todo o mundo, com enormes custos para o Estado, em gastos envolvidos com o tratamento de patologias diretamente relacionadas ao consumo desses psicoativos, como o câncer. Aquilo que é legalmente comercializado causa muito mais danos físicos e dependência, do que substâncias contidas na Lista F2, como os canabinoides e o LSD. A proibição, no caso específico da Cannabis, que mesmo apresentando mais de três milênios de uso terapêutico, foi sustentado pela divulgação massiva nos EUA, ainda no início do século 20, de falsos efeitos associados ao consumo da planta.

No Brasil, não há proibição explícita às pesquisas envolvendo a classe de psicoativos constantes na Lista F2, apenas a ressalva de que todo estudo desse tipo deve ser submetido à aprovação da ANVISA, através da expedição de “Autorização Especial Simplificada para Estabelecimentos de Ensino e Pesquisa”. O pesquisador, interessado em desenvolver estudos envolvendo esses compostos, a fim de adquirir os padrões comerciais em laboratórios no exterior, deve providenciar uma série de documentos para compor um dossiê a ser avaliado por essa Agência. Os trâmites, claramente, parecem atuar em consonância com a política proibicionista do Estado.

Apesar de algumas dessas substâncias possuírem grande potencial para uso terapêutico, além de não apresentarem riscos à dependência química, ou não provocarem danos fisiológicos significativos, ainda assim prevalece o preconceito e transparece a ineficácia das leis que visam combater o uso de drogas proscritas. Se não são capazes de definir com critérios científicos o que é realmente nocivo, sequer conseguem impedir o consumo crescente que, por sua vez, financia o próprio crime organizado.

Por fim, pela burocracia absurda imposta à pesquisa, essas leis têm ação negativa onde menos deveriam atuar, sobre a evolução do conhecimento humano. Diante da derrota na guerra contra as drogas, com trilhões de dólares gastos, em poucas décadas, para apenas constatar o aumento do consumo e da criminalidade, a ONU, com a criação do Global Commission on Drug Policy, sinaliza para o final do conflito. Com a posição de alguns países na direção da descriminalização do uso de psicoativos, no século 21, começamos a nos distanciar da “Idade das Trevas”.

Alain Gaujac - Tese



UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA



Estudos sobre o psicoativo N,N-dimetiltriptamina (DMT) em Mimosa tenuiflora (Willd.) Poiret e em bebidas consumidas em contexto religioso

Alimentos e medicamentos contra-indicados na véspera da consagração da Ayahuasca




A tiramina é uma substância derivada do aminoácido tirosina, sendo encontrada principalmente em alimentos fermentados e envelhecidos, como chucrute, kimchi, vinho, cerveja, carnes secas ou salgadas.

Além disso, a tiramina também é encontrada em ótimas quantidades em alimentos como molhos de soja, e queijos do tipo azul, brie, cheddar, roquefort, gorgonzola e parmesão, por exemplo.

A tiramina participa da produção de catecolaminas, neurotransmissores que atuam no controle da pressão arterial. Assim, altos níveis de tirosina no organismo podem causar o aumento da pressão arterial, dor de cabeça e visão embaçada.

RESTRIÇÃO ABSOLUTA :



Casca de banana

Favas

Carnes, peixes e aves estocados impropriamente ou estragados e envelhecidas

Chucrute

Molho de soja (shoyu) e outros condimentos a base de soja

Chopp


RESTRIÇÃO MODERADA:

Vinho tinto e branco (máximo 100 ml)

Cerveja e cerveja sem álcool (máximo 2)

Embutidos (salame, mortadela, salsicha, peperoni)

Abacate, banana


Caldo de carne ou frango


RESTRIÇÃO DESNECESSÁRIA:



Chocolate

Queijo branco; ricota; cottage; creme de leite, iogurte e sorvete; carne, ave e peixe frescos

Glutamato monossódico; amendoim; leite de soja

MEDICAMENTOS / Interação:

Anticolinérgicos : Potencialização dos efeitos

Antidepressivos : A associação, quando indicada, deve respeitar algumas regras: início simultâneo e uso de doses menores.

Risco menor: amitriptilina, nortriptilina

Risco considerável: imipramina, clomipramina, inibidores seletivos de recaptação de serotonina

Anti-hipertensivos Reserpina: excitação autonômica, agitação, hipertensão;

Clonidina: hipertensão

Tiazídicos: potencialização de efeitos hipotensores

Guanetidina: inibição dos efeitos anti-hipertensivos

Álcool: Crises hipertensivas com bebidas ricas em tiramina

Agentes hipoglicemiantes : Pode haver potencialização do efeito da insulina e hipoglicemiantes

Aminas simpatomiméticas : Hipertensão, agitação, febre, convulsões, coma

Suplementação dietética : Cuidado com suplementações que contenham tirosina

Succinilcolina : Na associação com fenelzina pode haver apnéia prolongada

Triptofano: Delirium, mioclonias, hipomania


Fontes:

Grupo de Doenças Afetivas (GRUDA) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

MORENO, Ricardo Alberto ; MORENO, Doris Hupfeld ; MACEDO-SOARES, Marcia Britto . Psicofarmacologia dos antidepressivos. Revista Brasileira de Psiquiatria (São Paulo), 21;(SI 21-SI 40), 1999.




13 alimentos ricos em tiramina :

Frango, carne vermelha e peixes: As carnes frescas possuem normalmente um pouco de tiramina. Entretanto, ainda que sejam mantidas refrigeradas, quanto maior for o tempo de estocagem maior será a quantidade da monoamina nestes alimentos devido à ruptura das proteínas – que as carnes tem em grandes quantidades.

Queijos envelhecidos: Por serem fermentados e, muitas vezes, consumidos após muito tempo depois de sua fabricação, os queijos são um dos alimentos que mais concentram tiramina. Queijos suíço, gouda, gorgonzola, parmesão, romano, feta e brie não devem ser consumidos. É recomendado substituí-los por ricota ou queijo cottage.

Demais laticínios: Conforme envelhecem e se aproximam de sua data de vencimento, laticínios como o leite tendem a apresentar algum nível de fermentação, aumentando as concentrações de tiramina. Prefira leites, requeijões e manteigas pasteurizados.

Cerveja (barris): Todos os alimentos fermentados devem ser evitados, e a cerveja não poderia ficar de fora. Evite principalmente beber as cervejas de barris, despasteurizadas ou que sejam do tipo ale.

Carnes fermentadas ou defumadas: Bacon, salsichas, salames, pepperoni, presuntos, hot dogs e corned-beef também devem ser evitados, por serem fermentadas, defumadas ou preservadas em conserva por longos períodos. Carnes frescas ou frutos do mar podem ser comidos caso sejam feitos no mesmo dia da compra ou sejam refrigerados corretamente.

Pães e certos tipos de grãos: Existem altos níveis de tiramina em pães caseiros, que utilizam fermentos como levedura ou extrato de levedura, e o processo de massa lêveda (mistura de água e farinha que fermenta em lugar morno) em seu preparo. Pães feitos industrialmente têm menor probabilidade de conterem a monoamina: pão branco, pão feito de trigo ou centeio. Arroz, batatas, miojos e outros cereais podem ser consumidos sem problemas.

Frutas maduras e frutas secas: Em ambos os casos, as frutas concentram muita tiramina. No caso das frutas maduras isso ocorre por estarem mais próximas da podridão, e alimentos envelhecidos tendem a acumular mais tiramina. Já as frutas secas, ao serem desidratadas, também aglomeram essa monoamina. Prefira frutas novas, frescas ou enlatadas, e evite bananas.

Vegetais: O espinafre e os repolhos são vegetais que contêm níveis consideráveis de tiramina. Assim como as frutas, as quantidades da monoamina aumentam conforme as folhas amadurecem.

Molho de soja (shoyu): O molho de soja é feito a partir da mistura de vários ingredientes (soja, cereal torrado, água e sal marinho) aos quais se adicionam microorganismos que o fermentam. Logo, também contém tiramina em altas doses.

Feijões: Todos os tipos de feijão possuem proteínas, que quando são quebradas liberam aumentam a concentração de tiramina nesses alimentos. Feijões comuns, lentilhas, ervilhas, mas também a soja devem ser evitados, bem como seus derivados – missô e tofu, por exemplo.

Vinhos: Assim como a cerveja, também são bebidas fermentadas, e diferentes tipos de vinho contêm dosagens diferentes de tiramina. Não é recomendado beber vinhos vermelhos e alguns tipos de vinho branco.

Chucrute: Feito a partir do repolho fermentado, o chucrute tampouco é recomendado, sendo um alimento rico em tiramina.

Sobras de refeições: Uma vez que todos os alimentos, conforme envelhecem, aumentam sua concentração de tiramina, acontece o mesmo com as sobras das refeições. Se necessário, recomenda-se congelá-las por no máximo três dias, mas o ideal seria preparar os alimentos e comê-los frescos.

Seriam os Deuses alcalóides?





Alex Polari de Alverga

I. Introdução

Queremos abordar aqui, através da pergunta título da nossa conferência, um pouco do papel das plantas psicoativas no processo evolucionário da consciência humana e do seu emprego desde a antigüidade como indutor dos estados expandidos ou alterados de consciência. Depois nos deteremos mais detalhadamente na questão da consciência xamânica e da descrição da "miração", estado particular de experiência mística e êxtase visionário que ocorre sob o efeito da bebida sacramental enteógena denominada SANTO DAIME (Ayahuasca, Yagé, Caapi, etc.) e que por suas peculiaridades, parecem ser comum apenas ao relato de experiências com os compostos triptamínicos. E, finalmente, considerar em que precisamente a proposta enteógena pode se constituir em um paradigma para uma nova consciência centrada no verdadeiro Self.

II. Uma Breve Teologia dos Enteógenos

Para buscarmos uma resposta para nossa pergunta devemos retroceder cerca de três milhões de anos quando o homem, destacando-se dos demais primatas superiores começava a sua lenta evolução rumo a consciência de si mesmo. Durante o transcorrer de todo este período, o cérebro triplicou o seu peso mas foi durante os últimos quinhentos mil anos que se formou o néo-córtex. Podemos supor a consciência desta época como sendo um imenso Id dominando um lento embrião do ego em formação. Antroposofícamente falando, as mônadas ou os princípios espirituais que estavam se encarnando nessa época na Terra, promovendo a vida e a evolução humana, ainda não estavam suficientemente ajustados aos corpos físicos desses primeiros seres humanos. Segundo Steiner, eles teriam uma consciência do plano espiritual e das auras dos seres e objetos do mundo material, mas não tinham uma percepção nítida e diferenciada dos mesmos. Isso só veio a acontecer quando houve o acoplamento definitivo entre os corpos físicos etérico do homem, quando do ambos passaram a coincidir. Nesse momento, a consciência humana teria deixado de ser uma "consciência de clarividência nebulosa" para ganhar mais nitidez na apreensão do mundo material.

Nos últimos cem mil anos o processo se acelerou de forma significativa. O Homo Sapiens tornara-se senhor do planeta e já devia contar com algo próximo de uma consciência de si mesmo como indivíduo singular da sua espécie e um sistema rudimentar de comunicação querendo se articular enquanto linguagem. Foi na última fase deste período, nos últimos trinta mil anos, que uma verdadeira revolução ocorreu no processo evolutivo. Por essa época, os nossos ancestrais caçadores e coletores já tinham uma forma de organização solidária que lhes garantiam a sobrevivência frente ao ataque dos predadores e os rigores do meio ambiente. Até hoje, pesquisadores e cientistas buscam uma boa resposta para essa aceleração evolucionária, que corresponde aos últimos preparativos para que a humanidade entrasse na cena da história. Alguns autores, entre eles Wasson e Mckenna, apresentam uma sólida argumentação, que eu também partilho nessa exposição, de que uma das causas principais da súbita irrupção da auto-consciência humana teria sido a simbiose do homem com o mundo vegetal e especificamente com os psicoativos. Essa é a perspectiva poética e visionária que sempre se apresenta quando "consultamos" a inteligência e a memória que a Mente Vegetal guarda desses eventos. Por meio dessa tese podemos entender também, o cenário onde as hordas mais adaptadas desses homídeos onívoros ampliavam de forma crescente sua dieta e seus conhecimentos sobre as plantas nutritivas, curativas e psicoativas, o que causou mudanças e respostas cada vez mais rápidas na sua estrutura neural, estados de consciência e comportamento.

Levi Strauss, comentando a obra de Wasson, analisa o mito da árvore do conhecimento e a história bíblica de Adão e Eva, comendo o fruto proibido, como a metáfora do contato do homem com o enteógeno primordial. Em outras palavras, esse seria o momento da mudança do estado indiferenciado de clarividência nebulosa para o de auto-consciência lúcida, o que trouxe como conseqüência a sua expulsão do Éden.

No entanto, foi no final da última glaciação, que ocorreu há uns doze mil anos, que as condições se tornaram propícias para a difusão da agricultura, domesticação de animais e pastoreio. A intimidade com o manejo dessa última atividade, trouxe um contato cada vez mais estreito com os fungos psilocíbicos associados ao esterco de gado. Floresceram a partir dessa época festas consagradas aos cogumelos sagrados, como parte dos cultos à fertilidade associados à Grande Deusa. Vestígios arqueológicos da arte desse período, principalmente a partir do oitavo milênio a.C., expressam de forma literal ou estilizada, o uso cerimonial dos fungos em povos e culturas bastantes distantes entre si. O que parece indicar a importância e a universalidade desses cultos na formação daquilo que M. Eliade define como as primeiras hierofanias vegetais, uma espécie de pré-religião, primeira separação que o homem fez de uma "esfera sagrada" em oposição a um "mundo profano". Certas plantas e árvores, ou a natureza de um modo geral, eram revestidas de atributos divinos ou mesmo divinizados. Hoje estamos em condição de afirmar que esta postura não tinha nada de ingênua ou simplória, correspondendo sim à ação da psilocibina e outros agentes enteógenos e as conseqüências das visões dela decorrentes nos mitos, símbolos e arquétipos que se apresentavam à consciência da época. Essas hierofanias vegetais foram portanto, cronologicamente, as mais antigas que se tem notícias. O que atesta que, por esse tempo, no limiar da história conhecida, já havia uma familiaridade com o tema do sagrado/vegetal, do Deus/Vegetal, que remonta a tempos ainda mais longínquos. Sem dúvida, este foi um dos principais substratos que mais tarde vieram a formar os diversos Cultos dos Mistérios da antiguidade e às grande religiões do mundo.

Talvez o caso mais conhecido e também o mais eloqüente seja o do Soma, que segundo os hinos do Rig-Veda era prensado e mesclado a leite para ser consumido em rituais e cerimonias dedicados ao Deus Indra. O Soma estava entronizado numa posição de destaque no Panteão Védico. É mesmo Haoma citado no Zed-Advesta, escrituras persas atribuídas a Zoroastro. O que nos permite estabelecer sua raiz ária e considerar que possa ter sido difundido pelas diversas ondas migratórias dos povos arianos que foram penetrando o Vale do Indo entre o segundo e o primeiro milênio a.C. É igualmente possível que com o passar do tempo, por dificuldades de suprimento ou de adaptação do Soma nas novas terras conquistadas, tenha havido uma planta substituta, já conhecida pelos povos drávidas que habitavam a região e cuja cultura se mesclou com a dos conquistadores. Já a Ioga e a Filosofia Sankhya seriam adições posteriores. Suas posturas corporais, métodos respiratórios e refinamento psicológico, enfatizavam a sadhana, as austeridades e a meditação como o novo método para alcançar o êxtase, o samadi, estado de consciência onde o Eu Átmico se funde no oceano de Braman. Experiência que certamente os antigos riskhis (sábios videntes que receberam a revelação dos Vedas) tiveram, embriagados pelo Soma.

Essas influência das plantas enteógenas na experiência dos estados místicos associados a cultos agrários e de fertilidade, podem ser encontrados desde a Ásia, passando pela Europa, até o extremo do continente sul-americano. O que nos permite supor que elas foram, desde uma antigüidade ainda mais remota, o agente acelerador e o detonador desse autêntico "Big Bang" da consciência que ocorreu nos últimos trinta mil anos. Existe um certo consenso de que as triptaminas tenham sido esse enteógeno primordial, não só pela reconstrução e suposição histórica, como também e principalmente por causa da excelência e peculiaridade do êxtase ou "miração" triptamínica, cujas visões são inigualáveis em florescência, intensidade, conteúdo e principalmente na capacidade do Eu interagir no interior dos eventos que fazem parte desse estado de consciência cósmica.

A consagração dos insights das visões como sendo de origem divina, explica a reverência com que essas plantas eram tratadas. O ego recém conquistado já podia transcender a si mesmo e travar contato com o Tu e com o Outro. Do respeito que nasceu do homem, com a fonte ao mesmo tempo vegetal e espiritual que lhe enviava aquela graça, aquela compreensão dele mesmo e do universo, nasceu a idéia de religiosidade, de se religar com a sua origem e pátria cósmica. Num certo sentido, religião é aquela ânsia de se relacionar corretamente com o Outro transcendente. Essa foi a aurora da consciência de si mesmo. No momento em que a consciência humana transcendeu a si mesmo e pode vislumbrar a consciência cósmica, o relâmpago precipitou-se no abismo e a Coroa do homem iluminou-se!

Por isso os alcalóides, principalmente os triptamínicos, são fortes candidatos a serem protodeuses. Sob seus auspícios, foi feita a primeira grande conexão entre o mundo da jovem consciência humana recém desperta e o mundo divino e eterno, entre o sagrado e o profano. O primeiro ancestral ou herói mítico, de Gilgamesh até Viracocha, presentes em tantas cosmogonias de culturas tão distantes entre si, são os ecos e as sombras dos tempos dos titãs. Onde esses semi-Deuses, metade homem e metade Deus, foram iniciados por instrutores de uma ordem de consciência superior - vale dizer portanto divinos - a fim de trazerem a luz, o fogo de Prometeu para repartir com os seus irmãos.

Como a maior evidência arqueológica das contribuições realizadas, quando na passagem dos "Deuses Alcalóides" pelos labirintos da consciência humana, está a presença da serotonina, neuro-transmissor cerebral encarregado de estimular os receptores dos neurônios e que tem praticamente a mesma estrutura molecular da DMT (dimetil-triptamina) alcalóide presente nas várias plantas enteógenas usadas pelos homens desde a antigüidade.

Mais maravilhoso ainda é essa oportunidade que a Mente Vegetal ofereceu à Mente Humana e continua oferecendo ainda hoje na forma da mesma revelação que foi enviada aos nossos longínquos antepassados. Isso porque, "revelação" é uma verdade sempre idêntica em si mesma, apesar de poder ser expressa por símbolos diversos dentro da psique humana. Ela é a mesma visão dos místicos e iniciados de todas as idades, o que varia é apenas a convicção e o juízo de valor que tiveram sob o que experimentaram. Isso fica claro, quando constatamos as semelhanças e pontos comuns dos relatos das experiências de êxtase nas mais diversas tradições. Se no passado foram considerados bem-aventurados "aqueles que não viram e creram", maior prazer teremos nós quando pudermos enxergar tudo aquilo que a nossa fé sempre acreditou !




II - Fronteiras entre o Psíquico e o Espiritual

O cenário onde esta busca da união mística se desenrola é a consciência. A consciência é uma forma da verdade. Pode ser definida também como um nível de realidade interior, já que é através dela, que reconhecemos os nossos próprios atos e sentimentos. Numa outra acepção ela é a testemunha interna, que permite que o ser possa ser provado através da existência, compreendido pelo conhecimento e gozado na bem-aventurança.

A grosso modo, os níveis básicos de consciência são: o de vigília, sono com sonhos, sono profundo e desperto. Nos deteremos aqui neste quarto estado, que é a matriz para as formas mais elevadas de consciência e de experiência mística. Existe uma grande variedade de termos para denominar esses estados místicos: consciência cósmica, visionária, xamânica, transpessoal, iluminação, auto-transcendência, consciência objetiva, etc. Ou para usar uma terminologia mais mística: o êxtase e a graça cristão, o satori zen, o samadi da Jnma Yoga, a fana sufi e a "miração" da tradição daimista que nos deteremos mais adiante.

Por outro lado, a consciência representa uma espécie de zona mental onde se percebe as diversas dimensões, mundos e planos da realidade. Seus eventos são de uma outra ordem de realidade mas sem que, por isso, eles percam sua veracidade. Na definição do grande místico esotérico-cristão Daskalos, a consciência ou mente sagrada, pode alcançar desde a percepção tridimensional do mundo material, passando pelas quatro dimensões do mundo psíquico, até o plano noético que é o plano dos pensamentos, estreitamente associado ao psíquico. Daí para frente, existem estados de consciência que apenas podem ser imaginados ou intuídos pela consciência humana, pois estão além dos "mundos de separação", onde reina o espírito e os mundos de pura espiritualidade. Podemos portanto dizer que o nível psico-noético de consciência seja uma zona intermediária, um posto de fronteira, que delimite de uma maneira tênue as diversas categorias e eventos de ordem psíquica da experiência e realização espiritual. E que eventos serão esses que podem ser definidos no horizonte de uma genuína experiência mística? Comparando-se as descrições bíblicas de Ezequiel, Daniel, os relatos de Plotino, São Paulo, Rumi, Eckhart, João da Cruz, Kabir, Ramakhrisna, os resultados recentes das pesquisas feitas com LSD e mescalina e as atuais testemunhos sobre os estados induzidos de consciência xamânicos, chega-se a coincidências impressionantes entre o caráter dos estados de consciência alcançados, o que nos permite traçar um quadro bem completo das principais características do fenômeno místico. São elas:inefabilidade, incapacidade de narrar em palavras os primores alcançados com toda sua riqueza de visões e sensações;
caráter irretorquível das verdades vivenciadas, o que pressupõe uma grande potencialização do dom da intuição;
sensação de unicidade;
experiência subjetiva de fusão do Eu no universo;
transcendência do tempo e do espaço, sensação de emergir beatificamente no Eterno Agora;
sensação de profunda positividade frente à vida;
reconhecimento da sacralidade do caráter divino da experiência obtida;
aumento do poder de concentração e cognição;
sensação de conforto e estímulo moral para desempenhar as instruções recebidas;
insights reveladores e valiosos para o solucionamento de conflitos internos;
reverência e humildade frente ao desconhecido, serenidade frente a aceitação da morte e a compreensão desta como uma transição para uma vida desmaterializada e de pura consciência;
predisposições de altruísmo e abnegação;
visualização da linguagem.

Todas essas referências se encontram combinadas em maior ou menor grau nos estados alterados de consciência e se constituem em autenticas revelações místicas. Sejam elas naturais, espontâneas ou induzidas por meio de tambores, mantras ou enteógenos. Dependendo da intensidade de tais experiências, elas podem alcançar o seu ápice, que é a sensação de fusão do Eu com o Absoluto, a "unio mistica" por excelência. Seria ingenuidade supor que uma tal gama de fenômenos, com tantas repercussões psicológicas, éticas e sociais relevantes, possam ser interpretados como mera regressão infantil (mesmo que benéfica ao ego), ou o que seria pior, um tipo de "degenerescência positiva" de um estado psicótico.




IV - Consciência Xamânica e "Miração"

Pode-se dizer que o xamanismo é o sistema de conhecimento espiritual mais arcaico que se conhece. E que, desde o começo, sua prática sempre esteve associada ao uso de enteógenos. Além de participar na maior parte de todas essas sensações, próprias dos demais estados expandidos de consciência, a consciência xamânica ou o estado de consciência xamânico também tem suas peculiaridades. A sua própria e já clássica definição como sendo "a arte do êxtase", já pressupõe que o xamã detém um conhecimento específico de operar no êxtase e esta é a sua maior arte. Através dela, ele se aproxima de forma consciente até o máximo limiar possível da aniquilação. É este o vôo do xamã: atingir a realidade além da nossa percepção usual, mantendo sempre aberta as portas de acesso ao mundo espiritual. Porém o mais importante que queremos destacar dentro do xamanismo é a vivência, a mobilidade de atuação do Eu dentro do transe. O Eu se torna o veículo divino, a carruagem dos cabalistas (Merkabath) que alça vôo em busca dos palácios celestes. Mas ele não se limita em contemplar seus átrios e fachadas reluzentes. Ele caminha por seus labirintos, túneis secretos, ele procura conhecer o que se passa em cada um de seus aposentos e câmaras. Esse é o roteiro da "miração", um estado de consciência místico-xamânico, obtido com a ingestão ritual do Santo Daime, que gostaríamos de nos deter mais minuciosamente.

A "miração" é um termo que foi cunhado na tradição do Santo Daime pelo Mestre Irineu para designar o estado visionário que a bebida produz. O verbo "mirar" corresponde a olhar, contemplar. Dele deriva-se o substantivo "mirante", que é um local alto e isolado onde se pode descortinar uma vasta paisagem. A palavra "miração" une contemplação mais ação (mira+ação), o que expressa de maneira clara que o termo foi cunhado por pessoas que eram plenamente conscientes da viagem do Eu no interior da experiência visionária, característica do êxtase xamânico. E que é simbolizado pela viagem da águia voando em direção ao sol. Sem dúvida existe uma grande diferença entre uma iniciação quietista - que prepara o neófito através do silêncio e da meditação - e a iniciação xamãnica que o convida para ser protagonista totalmente responsável pelo seu desdobramento astral e vôo espiritual. Nele, somos convidados a participar de um filme em que as cenas que se desenrolam na tela, dependem, em última instância, do que está ocorrendo no interior da nossa consciência. Em outras palavras: só conseguiremos salvar a donzela do "filme astral" das garras do vilão, se a nossa disposição para tanto for tão verdadeira como a nossa capacidade de realizá-la. Temos que estar concentrados no nosso objetivo, mobilizando desde o nosso interior a coragem e a sabedoria necessária para atravessar as diversas provas do percurso iniciático. Caso contrário, a "narrativa visionária" sai do nosso controle podendo acontecer um desfecho negativo e uma interrupção do vôo do Eu rumo ao êxtase.

Estamos querendo dizer que dentro da miração o estado de ação e contemplação são como as faces complementares de uma mesma moeda. A mente, antes de dar partida ao fluxo de imagem da miração, experimenta várias outras fases de preparação. Tem que distinguir a genuína experiência visionária da imaginação pura e simples, dos jogos mentais de projeção e visualização. As imagens visionárias, os eventos visionários que envolvem o nosso Eu dentro da "miração" são de ordem psico-noética, isso é, ocorrências numa ordem de realidade contígua ao mundo espiritual. O que nos permite afirmar que a "miração" ativa os nossos corpos sutis e os libera par agir dentro do cenário feérico e numinoso da realidade xamãnica.

Esse nível de consciência atingido pela "miração" vem quase sempre acompanhado de uma voz interior que guia, acompanha ou dirige o processo. esta é, ao meu ver, a faceta mais incomum e maravilhosa da "miração" do Daime. Durante o seu transcurso nossa consciência participa dos fenômenos psíquicos, noéticos e espirituais, através dos nossos corpos sutis. Através deles, o nosso Eu comparece nos momentos decisivos e brevíssimos onde se decide sobre o nosso destino em meio às vagas probabilidades do mar de indeterminações quânticas. Dessa forma, imprimimos movimento ao que é imutável e eterno, manifestamos vida e fecundamos a matéria por seu intermédio. Ajudamos a tecer a trama do próprio destino, a complexa textura dos eventos geradores da realidade e da vida. Isso significa que, no êxtase da "miração", estamos travando um diálogo com Deus, estamos trabalhando com Ele, estamos sendo convocados para essa grande responsabilidade de sermos co-criadores do universo. E sem dúvida, só um destino com tal nobreza justifica o plano da criação divina, as provas da evolução, o porquê da queda luciférica, a entrada em cena do mal e a nossa tarefa de convertê-lo e reunificá-lo com a verdade até o final dos tempos. Receber essa missão é o cerne da Revelação em todos os tempos. Enquanto que o cerne da iniciação é adquirir a força de vontade suficiente para executar tudo o que foi revelado na miração.

Anteriormente nos referimos que a falta de mérito e de coragem durante o vôo xamãnico poderia desestabilizar a "miração", ou o que é pior, fazer com que o fio narrativo da experiência visionária tenda para um desfecho desfavorável. Nesses reinos espirituais de deslumbrante beleza, parece que impera uma terrível justiça. O homem não está programado para ser perfeito. Ele tem que biológica, psicológica, social, moral e espiritualmente falando, escolher ser perfeito. Isso se faz através da faca de dois gumes do seu livre arbítrio. Graças a ele, o homem por um lado supera em estatura os deuses, devas e querubins, enquanto que por outro, se torna presa fácil da ambivalência de sua frágil inconsistência humana. O Budismo Tibetano se refere a esta eclosão súbita da ruptura do ego frente ao sublime, como sendo o momento em que, dentro da meditação, o meditador, sob a inspiração da Dakini (aspecto feminino do Buda), enfrenta as entidades terrificantes que se postam diante do Nirvana. Quando o ego consegue se apossar do Eu, a consciência já expandida se retrai novamente. Nesses momentos, as visões podem se tornar negativas, até mesmo terrificantes e isso está associado aos efeitos purgativos e miméticos da bebida enteógena indutora da "miração". Reconhecido porém o impostor, é a hora da consciência, à semelhança da esfinge, lançar o seu desafio: Decifra-me ou te devoro! Somos cobrados a apresentar um desempenho compatível com a nossa presunção de alcançar a imortalidade. Se nessa hora não tivermos verdade para apresentar, o monstro elemental por nós mesmo criado, nos come. O Poder nos cobra sempre a nossa transformação para podermos continuar no caminho. Pois sem a verdade no ser, o caminho se torna perigoso para o impostor.

É o que Sebastião Mota, um dos principais "padrinhos" do Daime chama da necessidade de "ser em vez de parecer". Ser verdadeiro é pois a ciência para entramos totalmente seguros nos estados elevados de consciência e deles conseguirmos sair, trazendo no retorno novas aquisições para continuarmos a Busca. Nos níveis sutis, a verdade atrai a verdade. O ser manifestado enquanto verdade é a matéria prima da criação. Quanto mais estamos na verdade, mais se apresenta a nós na miração aquilo que precisamos ser. E Deus nos usa como peças do seu quebra-cabeças divino, nos inspira amor e nos torna cúmplices da sua obra. A verdade do ser é exata, nela nada falta nem sobra. Não há lugar para condicionamentos mentais, hábitos viciosos disfarçados de caráter, máscaras ou papéis sociais. Se o nosso coração nos acusa, é porque não temos verdade. E sempre que esta falta de verdade interromper a nossa "miração", desestabilizando-a, devemos aproveitar o seu momento sagrado para pedir ao Poder que nos conceda a chance de nossa transformação. O sofrimento e o desconforto, que às vezes essa disciplina nos acarreta, depois sempre é sentida como benéfica. Eis a autêntica terapia xamânica, uma terapia de conversão à verdade, onde nos afastamos das ilusões e das samsaras nos tornando cada vez mais conscientes do nobre script que Deus nos reservou.

Tentamos aqui, violando o item da inefabilidade da experiência mística, expressar de alguma maneira com as palavras, essa sensação extraordinária que é trabalharmos projetados em nossos corpos sutis nas oficinas seráficas da criação divina. Isso ocorre, como já vimos, mediante à atuação do Eu Superior no interior das imagens visionárias, como se a "miração" fosse um jogo interativo de "realidade virtual espiritual". Para que esse processo traga benefícios que possam ser incorporados ao ser, exige-se deste uma postura passiva-receptiva e um padrão mental positivo e elevado. Dessa forma é que a barquinha da consciência pode navegar nas ondas do mar sagrado, que é a Mente, e se manter com as velas enfunadas em meio ao mau tempo e aos maus pensamentos.

Para finalizar esse ponto, gostaríamos de nos referir sucintamente a duas questões conexas à nossa abordagem de estado de consciência xamânico da "miração". Trata-se do carma e da mediunidade, aspectos ligados ao tema da cura xamânica. Num certo sentido, a cura espiritual já é a própria imersão do Eu nesses estados elevados de consciência, fazendo com que ele amplie a sua visão interna sobre as causas dos desequilíbrios que geram as doenças. Nessas vivências visionárias do Eu no interior da "miração" também ocorre dele se lembrar de fatos relativos às suas vidas passadas, facilitando a compreensão de padrões cármicos que precisam ser interrompidos nessa encarnação.

Já o fenômeno da mediunidade, não se resume apenas ao transe e à incorporação. Num outro sentido, ele trata também da miríades de pequenos "eus" que orbitam em torno do nosso Eu central. E que à primeira distração nossa, entram por dentro da casa e assumem o lugar do dono. Em alguns estágios da "miração" podemos perceber esses "eus" como seres. Podemos perceber que cada pensamento que flui na nossa mente é um ser e com isso, aprendemos a melhor ajustar o nosso dial mediúnico para captar apenas a freqüência dos seres que nos interessam. Mas nem sempre podemos escolher o que chega à nossa mente. Portanto esse canal mediúnico também nos ajuda a auto-doutrinar os maus pensamentos e afastar as más influências psíquicas e espirituais que podem se tornar nossos futuros obsessores.

Tentamos expressar um pouco o nosso entendimento da "miração" compreendido como um estado de percepção mística que guarda várias semelhanças com aquilo que denominamos consciência cósmica. Escolhemos um aspecto da "miração", a saber o da relação interativa do Eu com as visões, característica da tradição xamânica. Isso porque, a "miração" é ao mesmo tempo uma realidade visionária em movimento e um estado de contemplação extático. À maneira do samadi, comporta vários estágios, graus e possibilidades de realização. Apresenta planos e panoramas imensos e às vezes passa tempo trabalhando apenas alguns fotogramas. Sua meta suprema é a realização do Eu superior do homem. Apesar da ajuda inestimável das plantas sagradas para a sua consecução, o trabalho espiritual da "miração" nunca termina. Continua no dia-a-dia através do esforço de se manter coerente com os seus ensinos.

Algumas vezes, através da "miração", temos uma percepção clara da realidade espiritual da vida além do corpo. Penetramos assim no mistério que a nossa ignorância chama de morte, mas que não passa de uma transição para um outro estado de consciência. Voltar dessa experiência da "morte" com conhecimento do que isso seja, significa ter renascido e recebido o mais alto grau de iniciação, independente do credo que cada um professe.

Por isso consagramos o ser divino presente nessas plantas amigas e professoras do homem e a "miração" que ela nos fornece. Mesmo que o seu uso responsável seja sempre benéfico, é porém dentro de um contexto ritual e religioso, que sentimos uma maior segurança para a utilização profilática e terapêutica dos enteógenos.




V. O Contexto Ritual da Miração

No movimento religioso do Santo Daime existem diversas modalidades de ritual: concentração, cura, feitio da bebida, estudo e desenvolvimento mediúnico e as festas dos hinários, que é a forma que nos deteremos mais aqui.

No hinário, dentro de um amplo salão na forma de uma estrela de seis pontas, se perfilam os batalhões masculino e feminino, e dos rapazes e das moças, cada um com seu setor de base. Os neófitos, idosos, senhoras e crianças, ficam sentados mais ao fundo. O sacramento enteógeno é distribuído, todos entram em fila e começa o bailado ao som dos hinos, que são cantos que os mestres e outros membros mais avançados da irmandade recebem por ocasião da miração, sendo desta forma considerados ensinos divinos, mensagens do poder do Daime para todos e não apenas para quem o recebeu. Todos cantam e bailam dentro de um retângulo de aproximadamente 80 cm. de comprimento. Cada um porta um maracá para acompanhar o ritmo do bailado. A perfeição do trabalho está na harmonia da música, no ritmo e no canto. A jornada começa no entardecer da data marcada e vai até o nascer do dia da manhã seguinte. Todo este dispositivo, predispõe seus participantes a terem uma atitude receptiva e segura em relação aos efeitos da bebida sacramental. Isto ocorre poucos minutos após sua ingestão. A consciência passa a perceber pessoas e objetos como portadoras de uma aura de leve irridescência. Logo depois sentimos uma pressão, o pulsar da energia dentro e fora do corpo, propagando-se em ondas concêntricas como uma pedra lançada na superfície de um lago. É a chegada daquilo que chamamos "Força", a propriedade ativa do cipó, componente masculino da bebida cerimonial. O bailado e o ritmo dos maracás condensam cada vez mais energia, se constituindo também em indutores auxiliares do transe xamânico. É nesse ponto que a luz costuma chegar. A luz, o princípio feminino da folha, quando se casa com a força, o princípio masculino do cipó, gera a miração. Espoucam luzes, ouvimos zumbidos eletrônicos e o barulho de matracas. Suavemente ela se instala e nos transporta para o reino das visões. Progressivamente o nível de consciência se eleva para patamares mais elevados, tanto individual como grupalmente. Esse reservatório comum de energia psíquica e espiritual, denominamos de "corrente", que é quem sustenta o vôo individual de cada um na miração e a beleza do conjunto. Quando isso ocorre, nosso campo visual se altera, aparecem luzes, imagens, sensações, lembranças, insights e visões. A intensidade do momento interior da viagem de cada um se expressa na força da corrente. Qualquer piscar de olhos altera o fluxo das imagens. É como se em nossa mente, um diafragma regulasse a entrada da luz e um zoom nos aproximasse dos ângulos mais desconhecidos do universo.

Dependendo do desenrolar do ritual, a corrente facilita ou dificulta a miração, sendo possível em determinados momentos, uma vivência coletiva da mesma visão, o que se constitui o ponto culminante do trabalho. Durante esse longo percurso, o eu se desdobra no astral, evoca e soluciona alguma situação cármica pendente, canaliza a energia para realizar uma cura nele mesmo ou em outro, obtém insights reveladores e libertadores para seus conflitos e é tomado por toda sorte de inefáveis estados de percepção mística, compreensão do universo, amor pelos seus irmãos, premonições e sincronicidades. Ao final de todos esses estágios, encontra-se sempre aberto à possibilidade do êxtase total e beatífico. Tudo isso, é bom que se diga, se processa em íntima conexão com a música, o canto, a dança e o ritmo dos maracás. A barquinha singra as ondas do mar sagrado da mente embalada pelo hinos que guiam a nossa travessia. Durante esta, os hinos tem o poder de responder a todas as questões que a nossa consciência coloca no exato momento em que elas são formuladas.





VI. Conclusões

A tese que desenvolvemos no decorrer dessa nossa exposição é que a nossa consciência humana talvez deva muito mais ao contato dos nossos ancestrais com as plantas enteógenas do que podemos supor. Dessa simbiose com a Inteligência Cósmica da Mente Vegetal o homem firmou seu ego e arriscou ir ainda mais longe em busca de si mesmo. Do resultado dessa procura, ele chegou em Deus e na Consciência Cósmica, criou a religião.

Falamos também um pouco sobre os estados místicos e nos detivemos na miração, essa pequena jóia incrustada na consciência xamânica.

Agora só nos resta concluir dizendo que acreditamos cada vez mais no valor das experiências místicas obtidas por meio dos sacramentos enteógenos. Motivo pelo qual, fenômenos com a Igreja Nativa do Peiote nos Estados Unidos, a religião Bwiti na África Central e culto do Ayahuasca e do Santo Daime no Brasil devem ser objeto do maior respeito. Nessas autênticas religiões enteógenas o fiel comprova pela própria experiência o fundamento da sua fé, unindo seu crescimento interior com a sua responsabilidade social.

Também queremos destacar a importância da continuidade deste rico diálogo em torno da consciência, unindo pesquisadores, homens da ciência, psicoterapeutas e diversas correntes místicas. Essa união veio a preencher um vácuo depois que as últimas gerações viram naufragar as esperanças depositadas nas soluções marxista e freudiana, incapazes de solucionar totalmente o enigma da consciência humana. Isso porque, o marxismo confiou demasiadamente na suposição de que a consciência seria uma mera introjeção das relações sociais, bastando promover uma ordem social mais justa para gerar um estado de consciência mais elevado. Já a psicanálise freudiana falhou porque superestimou o papel que a liberação da sexualidade poderia trazer para a humanidade, e que terminou se limitando a cura de uns tantos casos de histeria e neurose no contexto da sociedade ocidental.

Destronados a libido e a luta de classes do papel de força motriz da história, só restaria os chips de computadores demonstrarem sua ineficácia em promover a felicidade humana para que a consciência assuma essa papel que sempre foi e será seu. Pois ela continua sendo, ainda hoje, o palco de eventos que repercutem em todo o Universo.

Por tudo isso, é auspicioso constatar que a cada dia aumenta mais o número de pessoas que tem acesso a níveis de consciência mística, muitas delas através das tradições xamânicas e dos cultos enteógenos. O que sugere que a chamada "Reforma Enteógena" possa se tornar uma autêntica "Revolução Enteógena" no decorrer dos próximos anos. Revolução, é bom que se entenda, não no sentido de um extravasar de energias socialmente ameaçadoras, senão como uma autêntica revolução interior e que deverá trazer influências regeneradoras para todo o planeta.

Se a evolução humana continua seguindo o seu curso, como acreditamos, a conquista desses níveis mais elevados de consciência podem prefigurar as novas faculdades que serão incorporadas à consciência humana dos próximos tempos.

A miração e o processo de trabalho interior que ela desencadeia na psique e no espírito humano é uma das ferramentas dessa evolução. Além de ser uma técnica, um caminho para o sagrado, é um atalho para o conhecimento.

É bom lembrar, que os atalhos são necessários quando temos que cobrir uma grande distância e o tempo que dispomos é curto.

Muito Obrigado

Manaus, 18 de maio de 1996

Text presented on:
International Transpersonal Association’s Annual Conference
"The Technologies of the Sacred"
Manaus - Amazonas - Brazil
May/1996

https://www.santodaime.org/site/site-antigo/arquivos/alex1.htm

quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

O Simbolismo Filosófico do Tarot Egípcio




Embora não se conhecendo a origem do Tarot, o que permite muitas teorias, é certo que faz parte de toda a tradição Hermética e se consideramos que o berço do hermetismo encontra-se no Egipto, talvez se possa afirmar que a sua origem mais profunda radica aí.

Sabe-se que no Egipto era uma das práticas de formação discipular colocar o neófito frente a imagens, signos e símbolos, para que através da sua interiorização e compreensão chegassem ao conhecimento íntimo do Universo e naturalmente da sua própria alma, esta prática era comum também na China, com o I Ching, e na India, através de mandalas e outras imagens, que tal como com o Tarot acabou por ficar fundamentalmente o lado oracular.

Uma das hipóteses que alguns historiadores levantam é que com a queda do Egipto, em que muitos conhecimentos saem dos templos e se popularizam criando múltiplas e variadas formas de feitiçaria, estas mesmas imagens tivessem saído e se popularizado de alguma forma em amuletos, meios de adivinhação, etc. e daí terem-se expandido através do “gypsies” ou ciganos, cujo nome em inglês poderia estar ligado a sua vinda do Egipto, e que teriam expandido muitas dessas artes divinatórias, só se conhecendo documentalmente o primeiro relato dessas cartas na Europa no século XIV a serem utilizadas por eles, dando origem nesse período medieval e posteriormente a muitas variedades de desenhos ajustados às épocas.

A própria origem da palavra Tarot é discutível, no entanto, duas possíveis origens são curiosas: Uma proveniente do egípcio, TAR, que significa caminho, estrada, e RO, que significa rei ou real, constituindo assim o “Caminho Real. Uma outra origina-o do árabe turuq, que significa “Quatro Caminhos”.

Embora sem possibilidades de confirmação até ao momento, embora algo plausível, segundo Christian na “Histoire de la Magie”, “os vinte e dois arcanos maiores do Tarot, representam pinturas hieroglíficas que foram encontradas nos espaços entre as 22 colunas de uma galeria, onde os neófitos deviam passar nas iniciações egípcias. Havia 12 colunas ao norte e 12 colunas ao sul, ou seja, onze figuras simbólicas de cada lado. Estas figuras eram explicadas ao candidato em ordem regular, e elas continham as regras e os princípios da iniciação. Esta opinião é confirmada pela correspondência que existe entre os arcanos quando eles são desta forma arranjados.”(1)

O que certamente podemos dizer é que o Tarot constitui uma profunda e completa linguagem dos ensinamentos herméticos onde se juntam as ciências como a alquimia, astrologia e cabala.

O tarot é constituido por 78 cartas, no entanto iremos apenas debruçar-nos sobre os seus 22 Arcanos Maiores.

Este trabalho não é mais do que uma breve reflexão sobre cada uma dessas 22 cartas para, de alguma forma, ajudar a conhecer algumas chaves de interpretação que possam levar o leitor a encontrar dentro de si mesmo caminhos de compreensão das mensagens nelas contidas.

1 – O Mago

Ele representa o eixo entre a Terra e o Céu. Com as duas mãos estabelece a ligação dessa polaridade: A mão direita segura o ceptro que estabelece o caminho que o liga ao anel de ouro do Céu, o poder uno, e com a mão esquerda aponta o cubo da Terra, representando a emanação do poder activo. É o Eu chamado a criar.

Na cintura uma serpente enrolada morde a própria cauda. O cinto, simbolicamente em várias ordens ao longo dos tempos representa o compromisso ou juramento, era para os iniciados símbolo da força e poder de que está investido, pois ao localizar-se na cintura marca o poder interior que une o triângulo divino da parte superior do corpo que se projecta poderoso sobre a matéria e o triângulo inferior que marca a verticalização ou espiritualização do mundo. Tudo toma maior intensidade ao considerarmos a simbologia da serpente associada à iniciação que como o Ouroboros o liga à unidade do Universo.

A estrela que surge no céu, deixando um rasto, mostra o Caminho, tal como aparecia no início da obra alquímica, mostrando ao alquimista que estava no caminho certo da Obra.

O Cubo simboliza o mundo material e no centro encontra-se o Ibis, Senhor da Inteligência, criador da escrita e das artes, que permite por isso conhecer o mundo e trabalhar no justo sentido do seu aperfeiçoamento. Ele é o que devora os ovos do crocodilo que reina sobre o caos.

Sobre o cubo encontram-se três símbolos do Poder Interno, a tríade divina que dirige o quadrado ou cubo da matéria: A espada, símbolo da Vontade; a taça, como um Graal, simbolizando o Amor/Sabedoria; o pentagrama representando a verticalidade do Fogo da Inteligência. Correspondendo estes três elementos à fórmula iniciática do Poder: Querer, Saber e Ousar.

Ideias Chave:

Princípio de tudo ou causa primeira; Posse de si mesmo; Poder interno; Iniciado; Poder criador.



2 – O Portal do Santuário (A Sacerdotisa)

Isis é a deusa da noite profunda, a Porta dos Mistérios velada pelos sete véus na Natureza. É a Realidade dissimulada por detrás da cortina das aparências sensíveis. Por isso é também a Senhora da Lua, dos ciclos de vida e morte, da eterna oportunidade que os ciclos permitem à alma de retornar e aprofundar. A Lua que se encontra em forma de barca é a receptividade ao mundo superior, a Intuição. Metade do corpo está velado e a outra metade descoberta, à semelhança de muitas representações de Santana que aparece com um livro aberto e um fechado, representando os dois conhecimentos: o exotérico, visível e externo, e o esotérico, invisível, profundo e da compreensão das causas. No peito de Ísis encontra-se o símbolo de Mercúrio, a Inteligência superior (circulo da unidade) que liga a receptividade da intuição (barca lunar) e concretiza na terra (a cruz). A cruz é a chave que abre o interior das coisas, unida ao Sol e à Lua, à Inteligência e à Intuição. É Hermes Trimegisto, o Três Vezes Sábio, Senhor da Sabedoria. No colo de Isis encontra-se o livro dos Segredos.

Duas colunas ladeiam esta porta, uma branca e outra preta, a criação sustentada na dualidade, e cujos capiteis se abrem ao mundo dos Deuses.

Ideias Chave: Metafísica; Sabedoria; Mistério; Segurança Interior.



3 – Isis-Urania (A Imperatriz)

No fundo da imagem encontramos o Sol, a Inteligência Criadora (o Triplo Logos Solar) e doze estrelas circundam a cabeça de Isis-Urania. Doze é o número da gestação na geração, as doze etapas ou arquétipos a serem conquistados pela alma (como os 12 Trabalhos de Hérculos) até que a alma alcance o estado divino e se torne una com Deus.

Isis-Urania é a Rainha do Céu, Senhora das mais sublimes alturas da idealidade, do Reino dos Arquétipos, dos quais tudo se origina e se cria, por isso o seus pés sobre a Lua representa o domínio sobre o mundo lunar, dos ciclos e da transformação incessante e sentada sobre o cubo da matéria a domina. Os olhos que espreitam neste cubo eram para os alquimistas a imagem de todo o Universo(2), Deus em tudo.

O ceptro encimado por uma esfera é o Ideal que se impõe, a Ideia que comanda.

O abutre à sua frente representa Mut, deusa guardiã do Céu, com as asas abertas, uma para cima e outra para baixo, em sinal de protecção das palavras ou do Verbo.

Em cima temos o símbolo de Vénus, a Inteligência (circulo, Sol) como poder criador na matéria (cruz, Terra). Vénus é o Amor, aquilo que une e por isso a força que mantém a vida, e neste caso Vénus-Urania, a força de atracção para o mundo ideal, arquetipal, que se “opõe” a Vénus-Pandemos, a atracção para as imagens do mundo.

Ideias chave:

Domínio do inteligível; Discernimento; Potência da Alma; Os Arquétipos criadores.



4 – A Pedra Cúbica (O Imperador)

Representa o Fogo Vital e Criador, o Grande Obreiro. No seu peito a imagem de Hórus, o Sol Real, o princípio celeste, símbolo ascensional de todos os planos, ao passo que o leopardo no cubo representaria a força encarnada na matéria ou o Sol no seu percurso nocturno (mergulhado na Terra).

Na representação do personagem podemos encontrar na forma do seu tronco o compasso e no seu saiote o esquadro, símbolos do demiurgo, o compasso da perfeição esférica do céu e o esquadro da perfeita ordem do mundo. Numa chave humana ele é o deus interior que ordena e fixa, princípio de crescimento e acção.

A pedra cúbica, sobre a qual está sentado, é a Pedra Filosofal, a realização perfeita.

O ceptro com o círculo simboliza a Alma do Mundo.

Nesta carta encontramos o símbolo de Júpiter, a autoridade, o princípio da organização e ordem.

Ideias chave:

Poder; Vontade; Constância; Firmeza; Rigor; Tenacidade



5 – O Mestre dos Arcanos

É o conciliador dos opostos, o Senhor da Rede de Caminhos. Os dois personagens representam os seguidores ou aduladores de um ou outro dos caminhos, subjugados ao seu poder. O seu báculo é símbolo dessa unificação da dualidade que deve ser vencido pelo fulgor guerreiro de Marte em Carneiro (representados na carta) que permite romper a ilusão e traçar o recto caminho da Sabedoria.

Ele é o grande dispensador do Fogo Celeste, o despertador da consciência, os Sefiroth: “raios, qualidades, atributos de Deus, cuja Actividade descendente eles manifestam, e cuja mediação permite, inversamente subir até ao Princípio, de apreender a Essência inapreensivel, Ayn Soph.” (3). Com a sua mão direita dá a bênção solar.

Ideias chave:

Sabedoria; Compreensão filosófica; Vontade.



6 – As Duas Vias (Os Amantes)

Esta carta recorda-nos o episódio do Mito de Hércules quando depois de ser iniciado pelo centauro Quirón retira-se para meditar sobre o que fazer com o conhecimento e poder adquiridos, aparecendo-lhe duas mulheres, cada uma delas incitando-o a segui-las. Uma representando a virtude que antevê-lhe uma existência de luta e esforços para triunfar através da coragem e energia. A outra, representando o vicio convida-o a gozar a vida, abandonando-se aos seus prazeres.

É a prova da encruzilhada dos caminhos em que nos perguntamos: Qual seguir? De um lado temos a mulher de tronco desnudo e vestido verde representando a exuberância da vida, a vegetação, a vitalidade passiva, a Natureza e cujo caminho é vermelho, a energia da paixão. Do outro lado a mulher vestida de azul sobre um caminho também azul representa a Alma e a espiritualidade. No centro da encruzilhada temos o Discípulo que de braços cruzados torna-se uma coluna de unidade e estabilidade. Resistindo, surge a ajuda divina de Mau, o guardião luminoso dos passos no caminho, que mata a tentadora.

A Lua e Touro presentes nesta carta falam-nos precisamente da prova das tendências sensoriais, da vida simples e tranquila.

Ideias Chave:

Aspirações; Liberdade ou Livre Arbítrio; Prova; Dúvida e Decisão; Estabilidade; Resistência.



7 – O empreendimento de Osíris (O Carro)

Esta carta mostra-nos a Alma determinada a percorrer os caminhos que a levam ao seu objectivo. Colocado no centro, entre o céu, representado pela facha azul estrelada, e a terra, as flores sobre a facha verde na carruagem que tem a forma quadrada da Terra, o mestre condutor do carro persegue o ideal de aperfeiçoamento moral, isto é, a unidade entre espírito, alma e corpo, sintetizado do bastão de poder com o triângulo (espírito), círculo (alma) e quadrado (corpo) e munido da espada da vontade que abre o caminho. Ele é o que tem o poder de governar, simbolizado pelo diadema dos 3 pentagramas de ouro dos iniciados.

No peito do mestre condutor encontra-se o duplo esquadro, representado a actividade e dinamismo na ordenação do mundo e o Tau, também uma forma de esquadro, representando o equilíbrio que resulta da união do activo e do passivo. Ele é, neste sentido, aquele que concilia os opostos.

Puxando o carro encontramos uma esfinge branca e uma negra. A branca representa a vontade construtiva que aspira ao bem e a negra a impetuosidade ou impaciência.

A presença do Sol e de Gémeos, mostra por um lado (o solar) o poder, o idealismo, espiritualidade, o ideal do Eu interior que conduz e por outro (Gémeos) que lhe dá o poder de alcançar o êxito pela qualidade de versatilidade em utilizar e ligar todos os recursos.



Ideias chave:

Autodomínio; Governo; Harmonização; Direccionalidade.



8 – A Balança e a Espada (A Justiça)

Imagem da Justiça, de olhos vendados, pois não deve avaliar de acordo com as percepções ilusórias mas com o discernimento interior por união à Lei. Numa das mãos a espada do rigor e da vontade executora da ordem e na outra a balança reparadora cujas oscilações levam ao equilíbrio.

Atrás da personagem central encontra-se a dupla Maat (deusa da Justiça no Egipto) com as asas abertas para baixo em símbolo de protecção. Maat encontra-se representada de forma dupla relacionando-se com as duas ordens ou justiças, a divina e a manifestada, como dizia Platão “o que é verdade para os homens é mentira para os deuses e o que é verdade para os deuses é mentira para os homens”. Esta dupla ordem encontra-se também em relação com o próprio número 8 da carta e as oito plumas azuis de Maat que sem encontram no trono já que este número representa a união desta dupla ordem, a divina associada ao circulo do Céu e a da Terra ao quadrado, que unidas dão o duplo quadrado ou o sol/estrela de oito raios, o Sol-Inteligência ou Luz dos Homens.

Também podemos encontrar o mesmo simbolismo no lótus que se abre no cimo da imagem, onde encontramos a cruz inscrita no círculo.

Uma leoa, como a deusa Sekhmet, símbolo do poder, sabedoria e justiça, aparece nesta carta representada com várias mamas, recordando a deusa Artemisa de Éfeso, a grande dispensadora do Leite Nutritivo, pois é de sabedoria e justiça, mesmo quando através da dor da sua execução, que o Homem se deve alimentar para crescer interiormente, por isso um dos nomes de Sekhmet era “A Inspiradora da Humanidade”.

Os símbolos de Vénus e Caranguejo na carta dão a força do carácter protector e harmonizador da família humana.

Ideias chave:

Imparcialidade; Justiça; Integridade; Disciplina; Firmeza de Propósito; Equilíbrio e Harmonia.



9 – A Lâmpada Protegida (O Eremita)

Esta é a carta do discípulo ou do peregrino que vai percorrendo os caminhos ainda pouco claros, tendo que proteger a sua lâmpada que é alimentada pelos ensinamentos mas protegida pela capa quadrada da sua personalidade. Esta carta alerta para a necessidade de recolhimento para se abrigar de toda a infiltração perturbadora que pode apagar a sua chama ou fazê-la perder intensidade. É o retiro em si mesmo, não como fim mas de modo a afastar-se das contingências presentes, ele tece interiormente aquilo que se deve realizar. É o trabalho invisível e interior de gestação para a realização da germinação amanhã. É o Ser em potência que virá a Ser, por isso ele ainda transporta atrás o báculo de Anubis, a sabedoria que abre os caminhos.

A presença de Jupiter e Leão impulsiona ao crescimento interior e à expansão do Eu, a entrega da personalidade para o brilho do Eu interior

Ideias chave:

Prudência; Recolhimento; Discípulo; Crescimento Interior; Fortaleza; Humildade.



10 – A Esfinge (A Roda da Fortuna)

É a Roda da Lei ou Roda da Vida, a roda dos nascimentos e das mortes sucessivas através do cosmos, a instabilidade permanente e o eterno retorno. De um lado todas as energias benfazejas e construtivas, representadas pelo gato Mau que a fazem ascender, do outro os agentes destrutivos representados por tifon (cujo simbolismo veremos na carta 15) e que a fazem descer, elas são as duas forças que movem o mundo em torno do eixo imóvel ou princípio de irradiação de todas as manifestações, pois os raios da roda são a relação do centro com o circulo externo que gira. Oito são os raios, como as oito direcções do espaço, representando a regeneração e renovação infinita (ou o 8 na horizontal ∞).

Em cima a Esfinge representando o equilíbrio e fixidez que assegura a estabilidade transitória das formas que vai impulsionando por meio da lança. A Esfinge oculta o enigma, a palavra criadora, que se encontra escondida das criaturas.

Em baixo as duas serpentes, como no caduceu de Mercúrio, representando as duas energias que impulsionam à sublimação da vida.

A presença de Mercúrio e Virgem nesta carta mostra o conhecimento que permite fazer e o fazer que permite conhecer. O racional com a precisão da realização. Conhecimento e realização movem a Roda.

Ideias chave:

Iniciativa; Semente; Êxito pelo bom aproveitamento das ocasiões; Inconstância; Ciclicidade.



11 – O Leão Domado (A Força)

Aqui encontramos a força como virtude cardeal, a força subtil da alma que domina o leão, encarnação dos ardores indisciplinados e impetuosos das paixões, que no entanto pode prestar imensos serviços a quem souber dominá-los. O sábio respeita todas as energias, mesmo as perigosas, pois sabe que as tem que dominar para as utilizar. Ele é o grande transmutador.

A túnica da personagem tem os raios azuis celestes da justiça e o laranja da inteligência. Com justiça e inteligência pode-se manobrar convenientemente todas as energias.

A presença de Marte dá precisamente esta força e combatividade. É a energia viril que ao serviço do Eu permite a conquista dos nobres objectivos.

Ideias chave:

Poder dominador sobre os impulsos; Razão e sentimento unidos para submeter o instinto; Pensamento/Vontade; Triunfo da Inteligência; Virtude; Mestria sobre si mesmo.



12 – O Enforcado

Forma um triângulo invertido com os braços e com as pernas cruzadas um quatro, deste modo representando o septenário invertido, simbolizando o despojamento. Ele é o sábio que discerniu a vaidade das ambições pessoais e compreendeu a fecundidade do sacrifício heróico, o esquecimento de si mesmo. A cabeça e o triângulo dirigidos para a terra significa que as suas preocupações são devotadas ao bem do outro, à redenção da humanidade.

As palmeiras, símbolos da vitória e ascensão fazem-no elevar e soltar as moedas, os seus “talentos” ou dons, que lhe caem são os tesouros espirituais acumulados pelo adepto que de forma desapegada semeia generosamente o ouro das ideias justas e dos preciosos conhecimentos.

A presença dos símbolos da Lua e da Balança dão o impulso à entrega e ao amor aos outros.

Ideias chave:

Alma livre; libertação do egoísmo; Sacrifício redentor; Perfeição moral; Abnegação; Entrega a um Ideal.



13 – A Morte

Ela é a rejuvenescedora, a que dissolve as formas usadas recombinando-as, pois a morte não mata mas vivifica.

Ela é também a morte iniciática, a morte de um estado profano e cego para o nascimento num estado mais elevado, a morte de um estado de imperfeição para um estado mais sublime. Ela é por isso a que preside a todas as nossas mortes transformadoras ao longo da vida, pois quanto mais morremos melhor vivemos.

Na alquimia é ela que preside ao primeiro estado da transmutação, a putrefacção ou fase ao negro, e que é presidida por Saturno:

“Se tu não vires em primeiro lugar esta escuridão, antes de qualquer outra cor determinada, sabe que falhaste na Obra e que é preciso recomeçares”

Nocalas Flamel

Na parte inferior da carta encontramos sobre a terra apenas cabeças, mãos e pés, eles são o símbolo daquilo que permanece, que não é dissolvido. A cabeça representa os ideais, a realeza da inteligência e o querer. As mãos associam-se à obra que não pode ser interrompida. Os pés são o avançar das ideias em marcha. A desaparição não traz prejuízo à sua realização interior, nada cessa e tudo prossegue. A morte é a dissolvente do continente para libertar o conteúdo.

O arco-íris no fundo da carta é o caminho entre o céu e a terra, por onde “o que permanece” sobe, despindo-se das formas usadas, e desce, revestindo-se de novas formas.

Ideias chave:

Renovação; Evolução; Libertação; Espiritualização; Iniciação; Poder transmutador.



14 – As Duas Urnas (A Temperança)

Os dois recipientes, um de ouro e outro de prata fazem alusão à dupla natureza psíquica. O ouro associado ao princípio solar, activo, à inteligência e a prata associada ao principio lunar, passivo, sensitivo. Tal como os gregos representavam as duas forças da alma: Vénus Urânia, o impulso da alma pela união ao mundo dos arquétipos e Vénus Pandemos, ou a atracção da alma para as projecções ou imagens sensíveis dessas essências arquetipais. A alma é o Mercúrio dos alquimistas, esse fluido (como o que aparece na carta) que permite ligar o Enxofre (espírito) ao Sal (matéria, corpo).

A alma capta a experiência do mundo sensível (prata) e a verte em consciência (ouro) e no sentido inverso em que a consciência se verte no acto justo.

“Os homens pensam que tudo flui constantemente numa direcção. Não vêem que tudo se encontra perpetuamente e que o tempo é uma multiplicidade de círculos girando”D. Ouspensky, “El Simbolismo del Tarot”

O génio da temperança é alado como Mercúrio ligando o Mundo dos Deus ao dos Homens e na sua cabeça eleva-se a chama do discernimento.

A presença do Sol e Escorpião dá a inteligência que permite captar a alma profunda das coisas.

Ideias chave:

Alquimia Psíquica; Fonte da Juventude; Visão profunda; Serenidade; Prodígios.



15 – Tiphon (O Diabo)

É o diferenciador, inimigo da unidade, é aquele que leva a matéria a constituir-se e por isso à diferenciação. É ele que preside a todo o poder de criar na matéria.

“Se o desejo de ser e o instinto de conservação que provém dele não nos houvesse dominado desde que nascemos, nós não teríamos podido nos agarrar à vida…”

Oswald Wirth in “O Tarot Medieval Interpretado à Luz do Simbolismo”

Quando vimos à vida estamos amarrados a ela, como os corpos em baixo da carta do tarot que se encontram acorrentados, no entanto a sua cabeça em forma de carneiro, símbolo da força que desperta o Homem e a chama viva da espiritualidade mostram como não são afectados pela destruição das formas. As forças instintivas devem submeter-se à direcção daquilo que é superior.

Tifon com asas de morcego é o devorador da luz, é o ser preso no estado intermédio, meio rato meio pássaro, macho e fêmea em que do seu umbigo sai a serpente inferior tentadora, por isso ele representa também o ser imobilizado numa fase da sua evolução ascendente, mostrando os perigos da estagnação que podem fazer a luz da tocha de fogo obscurecer-se pelo fumo. O seu lado divino é confirmado pela presença da chama sobre a sua cabeça, assim como a vara que transporta, semelhante ao símbolo da pata de ganso ou tridente que mostra o caminho até à tríade, expressão da unidade do círculo divino.

A presença de Saturno e Sagitário nesta carta dão a necessidade de esforço para vencer espiritualmente, adquirir um conhecimento profundo e filosófico que lhe outorgão a força interior.

Ideias chave:

Mundo criado; Encantamento; Perigo da estagnação; Força libertadora.



16 – A Pirâmide Atingida (A Torre)

É a visão do resultado da presunção de nos identificarmos com a obra transitória, no mundo não somos senhores de nada e quando nos identificamos com o que surge no mundo caímos junto com a sua impermanência. Revela o resultado da materialização.

Também podemos encontrar aqui uma alusão aos dogmas e despotismos, ambição do poder externo, que um dia cai e com ele todos os que dele se alimentam, os que dirigem e os que os constroem.

A carta adverte para a inversão da conquista do poder interior pelo poder exterior.

A presença de Júpiter e Capricórnio refere-se às ambições sociais e à paixão pelo poder.

Ideias chave:

Aprisionamento na matéria; Orgulho; Materialismo; Despotismo; Avidez; Ambições e apetites insaciáveis; Dogmatismo.



17 – A Estrela do Mago

As 7 estrelas coloridas que surgem do Sol referem-se aos 7 raios da criação que tudo impulsionam. As luzes do alto encorajam-nos e fazem-nos sentir que não estamos sós, pois os deuses, chamados de “Os Brilhantes” zelam por nós. Todos temos uma missão ou destino ao nascer, todos temos uma estrada luminosa iluminada por uma das 7 estrelas ou raios da existência. No centro deste círculo de sete estrela encontra-se uma estrela ou Sol de 8 raios, o equilíbrio cósmico, mediação entre o círculo do céu e o quadrado da terra, é o totalizador e no seu centro os dois triângulos, um virado para cima, branco, e outro para baixo, negro, reflectem essa mesma união mercurial, como sintetiza a máxima do Kibalion “Assim como é em cima é em baixo e assim como é em baixo é em cima”.

“Onde… todas as coisas são diáfanas, e nada é obscuro ou opõe resistência, mas sim que tudo, internamente e através de cada um, é evidente. Porque a luz encontra-se por todas as partes com a luz, pois tudo contém todas as coisas em si mesmo, e por sua vez vemos todas as coisas nas outras. De modo que todas as coisas estão em todas as partes, e tudo é tudo. Cada coisa é como um todo. E o esplendor ali é infinito. Porque tudo ali é grande, porque mesmo sendo pequeno é grande.

O sol, que está ali, é todas as estrelas; e cada estrela é por sua vez o sol e todas as estrelas. Em cada uma, no entanto, predomina uma propriedade diferente, mas ao mesmo tempo todas as coisas são visíveis em cada uma.” Plotino

O personagem que aparece na carta é um ser andrógino, o Homem Cósmico ou Adão Kadmon e que é regido pelo número 8, é a alma sem sexo que verte as duas polaridades unindo-as, a água quente, de Fogo, que sai do cálice de ouro (direita) e a água fria que sai do cálice de prata (esquerda). Desta unidade emergem os 3 lótus da Sabedoria Divina, cujo perfume essencial alimenta a alma borboleta.

A presença do símbolo de Mercúrio marca precisamente esta união alquímica.

Ideias chave:

Homem Cósmico; Natureza interior; Entusiasmo; Juventude interior; Missão de vida. Intuição.



18 – O Crepúsculo (A Lua)

“Para manifestar os esplendores do céu, a noite mergulha a Terra nas trevas, porque as coisas do alto não se revelam à nossa vista senão quando em detrimento daquelas de baixo”

Oswald Wirth in “O Tarot Medieval Interpretado à Luz do Simbolismo”

A Lua projecta uma suave luz que não ofuscando totalmente as estrelas também não elimina as sombras da terra e não permite distinguir as cores, banhando tudo num cinza prateado. É como se geram os falsos conceitos no Homem, através da pálida luz manchada pela fantasia do seu psiquismo perde discernimento, podendo tornar-se temerário caindo em abismos ou desenvolvendo medos que o impedem de avançar.

Do reflexo da Lua surge um escorpião que destrói a corrupção, é o agente purificador daquilo que se decompõe (ideias, atitudes, etc.). Ele é símbolo da regeneração moral e psíquica.

Dois cães aparecem frente às pirâmides, como símbolos dos guardiões e condutores dos caminhos. O cão branco, símbolo da luz visível, do deslumbre do mundo manifestado guarda a pirâmide negra sem porta, sem possibilidade de entrada, sem se poder penetrar o interior do conhecimento, que por um lado pode representar o conhecimento exotérico ou também a magia negra. Do outro lado o cão negro, Anubis, símbolo da luz oculta, interna e mistérica que conduz à pirâmide branca com porta e que leva ao conhecimento interno, ao esoterismo ou noutra chave à magia branca.

Esta carta fala-nos pois da necessidade de discernir o falso do verdadeiro, o profundo do superficial.

A presença de Vénus e Aquário fala-nos do desenvolvimento do caminho da individualidade, da alma em busca duma profundidade e serenidade distante do terrestre.

Ideias chave:

O deslumbre das aparências, erros e preconceitos; Lucidez; Discernimento



19 – A Luz Radiante (O Sol)

O Sol revela a realidade das coisas, mostrando-as tal como elas são, despojando-as dos véus das fantasias e ilusões. Com ele os fantasmas desaparecem e permite à alma redimir-se. Este Sol tem representado no seu centro a unidade criadora, a fusão entre o ligam (masculino) e o Yoni (feminino) essa unidade do Sol enriquece os seus filhos espiritualmente, reflectindo-se na união do casal, a união entre a alma (feminino) e o espírito (masculino). Este é o reencontro da unidade do ser humano (a reunião de Adão e Eva) no centro de um círculo de lótus, a pureza e a unidade divina, toda a natureza nascendo da unidade dos princípios.

A presença de Júpiter e Peixes significa a fecundidade espiritual, a abundância e generosidade.

Ideias chave:

Fraternidade, Harmonia; Aliança, Felicidade duradoura; Glória.



20 – O Julgamento

Esta carta é um apelo ao acordar do adormecimento na matéria, onde a morte se dá, é o acordar da “Branca de Neve”, a alma que adormeceu por ceder à paixão do egoísmo. O passado só pode reviver na espiritualidade, nada se perde, nada morre no domínio do espírito.

A presença de Saturno indica a libertação da prisão das nossas paixões, das amarras dos nossos instintos, é a grande alavanca da vida espiritual.

Ideias chave:

Renascimento; Iniciação; Despertar para a vida espiritual. Eternidade.



21 – A Coroa do Mago (O Mundo)

É a roda solar em movimento, onde tudo gira sem descontinuidade, animada pela alma do mundo, o pássaro no centro. Os 12 pés de 3 flores embelezam e espiritualizam a vida, elas são o florescer das virtudes dos 12 raios ou provas da vida, são a exaltação do perfume de cada ciclo, a essência espiritual. Nesta roda encontram-se os 4 animais simbólicos associados aos 4 cantos do espaço e aos 4 elementos, os constituintes da natureza (Terra, Água, Ar e Fogo).

O símbolo desta imagem é o Sol, pois é ele que rege os ciclos e a vida que gira ao som dos acordes das 3 cordas solares da tocadora, o Triplo Logos Divino.

Ideias chave:

Cosmos; Síntese, Universo (Universus)



22 – O Crocodilo (O Louco)

A Lua ofusca o Sol, eclipsa-o, tal como a ignorância faz à luz do mundo. O personagem com a sua cegueira arrasta-se através da vida como um ser passivo que não sabe para onde vai e nem tem consciência de onde vem, deixando-se assim arrastar pelos impulsos irracionais. É inconsciente e irresponsável, segura o bastão do conhecimento que lhe permitiria abrir caminho mas não tem qualquer ideia que o possui, despreza-o. A multiplicidade de cores que veste reflecte as múltiplas influências a que está sujeito, sem que as consiga coordenar ou sintetizar. Ele carrega duas bolsas, é a sua carga karmica positiva e negativa e muitas coisas inúteis (memórias, preconceitos, temores, etc.) que tornam os seus passos pesados e difíceis.

Como não vê por onde caminha não tem consciência que os templos e o sagrado se desmoronam à sua volta e que vai direito à boca do crocodilo destruidor.

Ideias chave:

Cegueira interior (ignorância ou orgulho. Passividade; Abandono à cegueira dos instintos. Irresponsabilidade.





José Ramos

Investigador e Director da Nova Acrópole Coimbra

(1) “(…) o olho do homem (é) uma imagem do Universo e todas as cores estão ordenadas em círculos. O branco do olho corresponde ao oceano, que rodeia o Universo por todos os lados; a segunda cor à terra firma cercada pelo oceano ou que fica no meio das águas; a terceira cor na região intermédia: é Jerusalém, o centro do mundo. Uma quarta cor, porém, a visão do olho na sua totalidade (…) é Zion, o ponto central de tudo, a partir do qual se torna visível o aspecto do universo inteiro.” Zohar

(2) Dicionário dos Símbolos de Jean Chevalier e Alain Gheerbrant.

(3) Citado por Oswald Wirth in “Essay upon the Astronomical Tarot”

https://www.nova-acropole.pt/o-simbolismo-filosofico-do-tarot-egipcio/#:~:text=A%20pr%C3%B3pria%20origem%20da%20palavra,que%20significa%20%E2%80%9CQuatro%20Caminhos%E2%80%9D.

terça-feira, 26 de dezembro de 2023

A Lenda Jesus Cristo

 


Quando fita-se cuidadosamente tudo o que envolve o ícone central da doutrina cristã, Jesus Cristo, esbarra-se somente em falsificações, disparates e irrealidades. A existência física de Jesus Cristo nunca conseguiu ser provada pela História e por quaisquer vias confiáveis calcadas na razão, porque simplesmente ele nunca existiu.

As incongruências começam quando analisamos aqueles que escreveram sobre Cristo: Os Apóstolos. É sabido, por qualquer pessoa com o mínimo de conhecimento teológico e histórico, que nenhum apóstolo viveu realmente com a figura física de Cristo (supondo-se que este existiu um dia). O mais velho evangelho, e escrito cristão, data de 68 d.C.. Este Evangelho é o Evangelho de Marcos.


Lendo-se Apocalipse de João constata-se que tal escrito não fala em nenhum momento da suposta figura de Cristo como algo fisicamente existente, e sim como um Logos ou ideal (este Evangelho apresenta-se como o último da Bíblia, graças ao facto dos escritos não estarem em ordem cronológica de concepção. Chegando-se mesmo a especular, alguns teólogos, que este foi para Bíblia por engano por ser visivelmente distinto de toda a linha argumentativa corrente da Bíblia Sagrada).


Tendo conhecimento que nenhum Apóstolo jamais viveu com Cristo, questiona-se donde estes retiraram informações sobre a vida do mesmo.Dizem os teólogos cristãos que estes meramente transcreveram os factos ocorridos através de relatos de pessoas que viveram com o próprio Cristo ou de pessoas que tiveram contacto com outros seres que o seguiram.Esta afirmação que tenta hipocritamente provar a existência do Messias é na Realidade a comprovação da surrealidade que é Cristo. O Povo sempre tende a exagerar, acreditar cegamente e inventar factos.Acreditar totalmente no que o Povo diz é o mesmo que dar credibilidade a uma criança imatura e mentirosa.


Além do que, fita-se que Jesus Cristo e a maioria dos Dogmas Cristãos nada mais são do que reescrições de Deuses Solares e Redentores de diversas religiões  anteriores ao Cristianismo.


Na mitologia Hindu, muitíssimo antes do surgimento da suposta figura de Jesus Cristo e do cristianismo, já existia uma estória tremendamente similar, para não dizer quase idêntica. Uma análise da figura teológica de Krishna e sua estória comprova o dito. Os antigos escritos sagrados hindus (Atharva,Vedangas e Vedanta)anteviram a vinda de um Messias Redentor, tal como Isaías supostamente profetizou a vinda de um Messias (Messias este que os cristãos afirmam ser Jesus Cristo).


As “similaridades” não acabam nisto.Este Messias(Krishna),que teria hipoteticamente vivido em 3500 a.C., nasceu também de uma mulher Virgem.E esta Virgem(Devanaguy) sido fecundada pelo próprio Deus Supremo Hindu(Vishnu),como Virgem Maria foi fecundada pela própria manifestação do Deus Supremo Cristão-Judeu:Jeová.No dia do nascimento de Krishna,os pastores da Região Circunvizinha receberam um Sinal Celeste anunciando o nascimento do “Deus Encarnado em Filho” da mesma forma como relatado na Bíblia Cristã sobre o nascimento de Cristo.


Uma figura de poder político da Índia, o Rajá da Época, decidiu perseguir Krishna. O Rajá calculava que eliminando Krishna manteria seu trono já que este era considerado o “Messias e Rei” (este temia que seu poder fosse ameaçado por este “Messias”). Para eliminar Krishna, o Rajá decidiu mandar matar todas as crianças nascidas naquele período.Um tanto quanto similar aos factos ditos na Bíblia acerca do “pequenino Cristo”, não?


Krishna peregrinou pelo Mundo pregando a todos e fazendo toda sorte de milagres. E o seus inúmeros seguidores diziam que este era o Messias prometido por seus ancestrais(similar aos que supostamente seguiam Cristo e viam-no como o Messias das profecias antigas de Isaías). Isto sem mencionar que foi atribuído ao abstrato Krishna o dom de ensinar por parábolas, como Yeshua o fazia.


É dito que Krishna ao ser morto (este foi assassinado, como Jesus Cristo),teve seu corpo procurado por seus discípulos. Corpo este não encontrado como o do Nazareno não foi após o sepultamento do mesmo. Sendo que os fiéis calculam que Krishna subiu aos Céus para encontrar-se com seu Pai(da mesma forma que Cristo).


Krishna ganhou o epíteto de “Jazeu” (“nascido da fé”).A pronúncia de Jazeu Krishna também remete muitíssimo a pronúncia do nome Jesus Cristo. E no mais, o nome Jesus Cristo era deveras comum entre as localidades banhadas pelo Mar Mediterrâneo. Da mesma sorte que existia um furor populacional em todas as doutrinas (principalmente dentre as seitas judaicas que proliferavam), por um Messias (messianismo) que viria salvar o Povo da Iniqüidade e do Jugo do Mal (Humano e Sobrenatural), no mesmo período onde surgiu a crença na figura de Cristo. Jesus foi somente um fantoche engendrado pelas Elites Dominantes para saciar a sede populacional de um Messias e renovar o desgastado Judaísmo.


Sendo os arianos (etnia principal formadora do povo indiano) e os hebreus povos intinerantes (calcula-se até mesmo que os arianos tenham estabelecido-se no Egito vindos da parte mais oriental da Ásia, fazendo uma das maiores migrações que se tem notícia), é notório que estas culturas entraram em contacto de alguma forma e os hebreus (como muitas vezes em sua História) absorveram aspectos de outra cultura (no caso a dos arianos adeptos do bramanismo) muito mais antiga que a deles. Estes hebreus absorveram os preceitos religiosos hindus e usaram-nos na concepção de seu Judaísmo Renovado: O Cristianismo.


Contudo, é no mitraísmo onde certamente encontra-se a maior fonte de plágio e “inspiração” para o Cristianismo.Mitra é conhecido como “aquele que porta a Luz” e um “enviado da Luz Divina na Terra”' tal como Jesus o era. O festival de nascimento de Mitra era comemorado no solstício, isto é, 25 de Dezembro(a mesma data que posteriormente ficaria estipulada como a do nascimento do Cristo). Na formação do cristianismo existiu uma preocupação de conectar o nascimento de Cristo com o de Mitra, uma tentativa de absorver os mitraicos sob uma nova égide.


Mateus e Lucas, os apóstolos que mais avidamente relataram sobre a “infância” de Cristo, eram mitraicos antes de “cristianizarem-se”, o que reforça ainda mais a noção de que o Cristianismo usa como fonte de inspiração a antiga religião mitraica.


No Império Romano, onde surgiu o cristianismo, uma das religiões mais praticadas era o mitraísmo. Da mesma sorte, que o povo hebreu ficou cativo durante muito Tempo entre os Babilônicos (povo que muito influenciou na formação do mitraísmo), o que levou a inclusão e absorção de muitos dogmas babilônicos-persas na formação de seu “novo judaísmo” : o Cristianismo.


Mitra era filho de Ormuzd, Deus Supremo do Zoroastrismo(Religião que  influencidou directamente na formação do mitraísmo), enviado à Terra para pregar aos Homens e abluir os mesmos das “sombras do mal”, tal como Jesus é apresentado pelo cristianismo. Mitra nasceu de uma Virgem pura e bela.Foi esta Virgem fecundada através de um fulgurante Raio Solar, facto este de uma similaridade gritante com a estória da gênese do Nazareno.


Diz-se que Mitra teve seu nascimento no interior de uma simplória gruta e um enorme fenômeno astronômico anunciou seu nascimento. O bebê Mitra recebeu a visita de Reis-Sábios que vieram dar-lhe inúmeros presentes. A partir de tais factos chega-se a clara conclusão de que o nascimento do “Rei dos Judeus” trata-se de uma cópia de praticamente tudo que cerca a mitologia do nascimento de Mitra.


Mitra foi morto e ressuscitou logo em seguida. Era muitíssimo comum as crenças de Deuses que eram mortos e ressuscitavam. Destarte Cristo não adicionou nada de inovador no tocante a crenças e pode ser considerado um “Mitra judaico”.


Escavações recentes em Óstia, Itália, e outros sítios arqueológicos famosos, demonstram que os cultos mitraicos eram empreendidos em catacumbas. O cristianismo, limitou-se a clonar esta atitude dos mitraicos, haja vista que seus cultos eram realizados em catacumbas também. A escusa de que os cristãos eram perseguidos e por isto ocorria a realização dos cultos em catacumbas é sem fundamento, levando-se em conta que existiriam outros lugares, quiçá, mais secretos e aprazíveis para realização de cultos(como nos arredores da cidade por exemplo).


Hoje, alguns historiadores questionam-se à cerca da pretensa perseguição que os cristãos sofreram .O Império Romano dava plena liberdade religiosa a todos os  povos que dominava e que não representassem ameaças ao Imperador. Certamente que um culto tão pequeno e sem influência, como foi o cristianismo primitivo, não representava uma sombra de ameaça sequer a figura imperial.Além do que, os romanos confundiam o cristianismo com o mitraísmo que não tinha seus seguidores caçados.Assim sendo, os cultos eram feitos em tumbas meramente para copiar ou fitar os ritos característicos do mitraísmo.


Entre os mitraicos existia uma ritualística praticamente idêntica a comunhão cristã. Vinho e pão eram consumidos, e tais bens alimentícios eram considerados também como a Carne e o Sangue do deus Mitra. Os cristãos também copiaram do culto de Mitra a Cruz (os adeptos do Mitraísmo a utilizavam como um objeto que luzia com feixes luminosos indo a todas as direções - Cruz do Sol Invictus -); a pia batismal com água benta; o Domingo como dia santo de descanso e culto litúrgico; o uso da Águia e do Touro como símbolos da religião (Marcos e Lucas utilizaram tais simbologias diversas vezes); na representação de figuras sagradas com um halo luminoso envolvendo a região da cabeça; as orações do “Pai Nosso” e do “Credo” que já existiam há muito Tempo na Religião Mitraica com pouquíssima diferença das orações cristãs. Assim, como estes(cristãos)copiaram e a prática de “Confissão” que era comumente feita pelos Persas, séculos antes do cristianismo sequer dar notas de surgimento.


Chega-se desta maneira a conclusão de que Cristo e grande parte do Dogma Cristão são reedições de práticas e figuras mitológicas de religiões muitíssimo mais antigas. A Igreja tentou fazer com que estas antiqüíssimas culturas e religiões fossem devidamente esquecidas, contudo falharam e as provas irrefutáveis mostram-se à vista de todos com o mínimo de senso e razão.


O mais próximo que pode-se chegar a um suposto Cristo é o homem de nome Crestus. Crestus foi o líder de uma seita judaica denominada essênios. Este homem parece ter servido também de inspiração para a formação do fantoche Jesus Cristo. Contudo uma análise desta figura histórica mostra que ele distancia-se um tanto do Cristo demonstrado na Bíblia.


Originalmente os formadores do cristianismo tentaram dar a Crestus a roupagem de “Messias” como deram a Cristo. Contudo notaram que isto seria um grande erro graças a imagem e mensagem que Crestus e sua causa passavam.


Crestus era um ativista e um guerreiro da causa de libertação da Judéia do jugo romano. Este assemelhava-se muito mais a um “Che Guevara Judeu” do que a um pacifista “Jesus Cristo”. Este acreditava que com a libertação da Judéia da égide opressora romana, deveria-se estabelecer uma sociedade em moldes “comunistas primitivos”. Tal era muitíssimo ruim aos olhos daqueles que tentavam estabelecer uma religião que forma um “rebanho” resignado e pacifista. Da mesma maneira que seria extremamente prejudicial aos olhos da “elite formadora do cristianismo” que se criasse um pensamento comunal e de repartição de bens como era feito entre os essênios. Destarte a idéia de fazer de Crestus o “verdadeiro Messias predito por Isaías:” foi abandonada. Contudo alguns elementos da figura e história de Crestus foram absorvidos pelo cristianismo.


A figura de Crestus era tida como santa, assim como a de Cristo o foi. E Crestus foi traído por um homem de seu bando, homem este chamado Judas Iscariotes. Judas de traidor de Crestus passou para traidor de Cristo.


A existência de Crestus é historicamente e racionalmente comprovada, enquanto a de Jesus Cristo apresenta-se cheia de calúnias e adulterações feita por uma Igreja que só anseia manter a ilusão e dispersão das massas.


Suetônio, um famoso historiador e que escreveu sobre praticamente toda sorte de grandes movimentos políticos e religiosos da Roma Antiga, autor do livro “História dos Doze Césares”, nada falou de Jesus e sim de Crestus.Falando acerca de distúrbios envolvendo Crestus, este disse somente:”Roma expulsou os judeus instigados por Crestus, porque promoviam tumultos”.


Aqueles expulsos de Roma, não eram os cristãos que muitos historiadores se referem, e sim judeus instigados à revolta por Crestus. Segundo Suetônio, estes judeus foram expulsos por Nero.


Contudo foi o filósofo, historiador e pensador Filon de Alexandria que mais serviu de fonte para criar-se o cristianismo e serve como prova cabal da inexistência de Jesus Cristo. Filon foi um pensador e minuncioso estudioso de todos os acontecimentos históricos de seu Tempo, principalmente no estudo das seitas judias, movimentos politico-religiosos e de figuras importantes da História de seu Tempo.O pai de Filon seria contemporâneo a Jesus Cristo caso este tivesse realmente existido.


Filon escreveu um tratado, depois destruído pelas maledicentes mãos papais, chamado o “Bom Jesus - Serapis”. Este tratado, cria uma espécie de enviado de Deus(um redentor), além de utilizar-se do pensamento egípcio de Verbo Divino Encarnado. Neste tratado é deixado bem claro que o protagonista (o “enviado de Deus”)é uma figura mitológica e imaginária.Seu tratado é, de facto, uma helenização e platonização do judaísmo.


Segundo Voltaire e outros Enciclopedistas, os Evangelhos muito se assemelham aos escritos de Filon, principalmente o Apocalipse de João.A noção cristã do Logos é retirada de Filon, que por sua vez retirou da teologia egípcia. Sendo que muito do pensamento voltairiano é calcado na filosofia de Filon.


Fócio demonstrou através da sublime lei das analogias que as Escrituras apresentam muitíssimos elementos do ideário de Filon. Chegando mesmo a afirmar, em certos momentos, que algumas Escrituras são cópias descaradas do que vê-se na obra de Filon.


O pensamento de fraternidade e igualdade entre os Humanos, que o Cristianismo diz ser da autoria de Jesus Cristo, é em Realidade da autoria de Filon de Alexandria.Como os seguintes excertos da perdida obra de Filon demonstram:


 “Os que exaltam as grandezas do mundo como sendo um bem, devem ser reprimidos..”


“A distinção humana está na inteligência e na justiça, embora partam do nosso escravo, comprado com o nosso dinheiro."


“Porque hás de ser sempre orgulhoso e te achares superior aos outros?"


“Quem te trouxe ao mundo? Nu vieste nu morrerás, não recebendo de Deus senão o tempo entre o nascimento e a morte, para que o apliques na concórdia e na justiça repudiando todos os vícios e todas as qualidades que tornam o homem um animal.”


“A boa vontade e o amor entre os homens são a fonte de todos os bens que podem existir.”


Chega-se por fim a conclusão de que o cristianismo muito se apoderou das idéias de Filon para formar sua Doutrina. Os primeiros papas diziam que o indivíduo narrado nas obras de Filon tratava-se do Messias Jesus Cristo, chegando mesmo a cogitar a inclusão de seu tratado na Bíblia. Porém em análises posteriores da obra de Filon estes constataram que suas idéias apresentavam certos aspectos que feriam seus interesses obscuros e perniciosos no tocante ao Capital, e sendo a obra de Filon um trabalho muito difícil de se adulterar e moldar estes mutaram sua idéia e destruíram o seu tratado.


Até mesmo pessoas do seio eclesiástico mostraram-se mais propensas a ideologia de Filon do que a papal. São Clemente e Orígenes, apesar de serem indivíduos ligadas a Igreja, guiavam-se pelos escritos de Filon muito mais do que pelas Escrituras e os Decretos Papais.


Filon em nenhum momento de sua vida faz referências a Cristo. Este cita e faz comentários acerca de todos os movimentos vislumbrados no meio judaico (onde certamente teria, em teoria, surgido o cristianismo) de sua época e do passado, mas nada fala de um movimento liderado por um homem chamado Jesus Cristo. Este cita ainda a seita dos Essênios e fala sobre Crestus, dizendo até mesmo onde ficava localizada sua base de operações (no leito do Rio Jordão, próxima a Jerusalém),mas nada comenta sobre Jesus Cristo.Seu revelador silêncio também se estende a figura de Maria e José(os fantasiosos pais terrenos do “Filho de Jeová”). Este também nada diz quanto aos Apóstolos, simplesmente por estes terem surgido depois da morte dele. Fílon, que teria vivido basicamente na mesma época de Cristo, nada fala dele e do cristianismo, pois seriam estes inventados muito após sua morte.


Um judeu ilustre e sempre a par do que ocorria à sua volta, chegando a ser caracterizado como um “metódico doentio”,jamais deixaria de falar de um homem que teria abalado o seu Tempo se tivesse existido: Jesus Cristo.No reinado de Calígula, Filon esteve na Palestina defendendo muitos Judeus. Neste período, ele relatou todos os factos ocorridos no Passado e que ocorriam na Palestina, e nada fala sobre Jesus Cristo ou seus supostos feitos miraculosos.


Filon fala longamente acerca de Pôncio Pilatos e sua atuação como Procurador da Judéia, contudo nada fala deste ter julgado um homem que era conhecido como “Rei dos Judeus”(um julgamento que seria de extrema importância para ser ignorado por um homem de olhar atencioso como Filon).


Filon e outros pensadores-historiadores da época descrevem Pilatos como um homem severo, duro, crudelíssimo no exercer de sua profissão, além de extremamente amigo do Imperador Tibério (vigente Imperador na época em que Cristo teria existido). Chega-se por sua vez a conclusão de que jamais Pilatos temeria punir um agitador de multidões como teria sido Jesus Cristo, seja por medo dos Judeus(afinal este tinha toda guarda imperial ao seu lado) ou por temer fazer algo que desagradasse seu íntimo amigo Imperador(e no mais tanto Pôncio Pilatos como o Imperador Tibério davam pouco valor à Vida Humana, ainda mais de um judeu). Jamais Pilatos teria medo de ser denunciado ao Imperador como parcial, como o Apóstolo João faz supor, pois este tinha carta branca para actuar na Judéia.Pilatos era um homem de decisão, segundo historiadores judeus e não-judeus, portanto jamais atuaria como um ser neutro e esmaecido perante algo tão importante como teria sido o julgamento do “Rei dos Judeus”.


A partir de uma análise da “Acta Pilati”(escritos e diário pessoal de Pôncio Pilatos)nada vê-se que atine para a figura de Jesus Cristo.Pilatos certamente jamais deixaria de mencionar figura tão controversa, como teria sido Jesus Cristo, em seus escritos pessoais.A atitude taciturna de Pilatos é a prova da inexistência do suposto Messias.


A Igreja afirma ter o documento no qual Pilatos admite a existência de Jesus, contudo recusa-se a fornecer estes documentos para exames grafotécnicos e de autenticidade, o que prova claramente que estes são falsificados ou inexistem(tanto que à Igreja teme colocá-los diante dos olhos da Ciência). Assim como o Imperador Tibério não faz nenhuma alusão, nem uma nota de rodapé sequer, a figura de Jesus Cristo. O silêncio mordaz de Tibério é extremamente esclarecedor e prova de que Jesus Cristo não existiu. Uma figura que causasse tanta comoção popular jamais seria ignorada nos registros do Imperador Tibério(tampouco este deixaria de saber de sua existência).


Da mesma sorte que seria impossível Herodes Antipas ter feito parte do “drama de Cristo”,se realmente Cristo tivesse existido.Pelo simples facto de que a perseguição aos "recém-nascidos"(que segundo os cristãos visava eliminar o Messias Jesus)jamais ocorreu. Não existem registros disto nos escritos pessoais de Herodes e tampouco em documentos da época.Como um evento tão importante passaria em "branco" perante os minuciosos historiadores da época, não constaria sequer nos escritos pessoais de Herodes ou não deixaria um "rastro" sequer?


Segundo a Igreja Plínio, o Jovem; Suetônio; Tácito e Flávio Josefo teriam escrito sobre Jesus Cristo,e assim provado a existência física dele.Quanto a Suetônio,j á foi esclarecido que este somente falou de Crestus, e não de Cristo.A obra de Suetônio em nenhum momento faz alusões ao Jesus Cristo da Bíblia ou dos cristãos modernos.


Quanto aos escritos de Plínio,o Jovem;Flávio Josefo e Tácito,após exames grafotécnicos e de autenticidade realizados pelos excelsos mestres da Universidade de Tubingen(localizada na Alemanha)provaram-se como adulterados no todo ou ou em parte(sem falar de que tiveram documentos totalmente destruídos pelas garras de rapina da Igreja).


Flávio Josefo, que nasceu em 37 d.C. e viveu até 93 d.C,foi um escritor cuidadoso sobre judaísmo, messianismo e movimentos religiosos na pretensa época em que Jesus Cristo teria existido.Os falsificadores da Igreja(como por exemplo Eusébio, Bispo de Cesaréia, que adulterou inúmeros textos bíblicos e não-bíblicos a mando do Bispo de Roma para assim garantir os interesses materiais da Instituição)aproveitaram-se disto e fizeram um acréscimo fraudulento na obra dele como segue:


“Naquele tempo, nasceu Jesus, homem sábio, se é que se pode chamar homem, realizando coisas admiráveis e ensinando a todos os que quisessem inspirar-se na verdade. Não foi só seguido por muitos hebreus, como por alguns gregos, Era o Cristo. Sendo acusado por nossos chefes, do nosso país ante Pilatos, este o fez sacrificar. Seus seguidores não o abandonaram nem mesmo após sua morte. Vivo e ressuscitado, reapareceu ao terceiro dia após sua morte, como o haviam predito os santos profetas, quando realiza outras mil coisas milagrosas. A sociedade cristã que ainda hoje subsiste, tomou dele o nome que usa.”


Contudo este trecho,após passar por exames grafotécnicos e de autenticidade rigorosos, mostrou-se uma farsa incluída no texto pelas mãos imundas da Igreja.Depois desta passagem, ele passa a expor um assunto bem diferente no qual refere-se a castigos militares infligidos ao populacho de Jerusalém.Flávio sequer retoma uma palavra sobre o Cristo,ao longo de seus escritos. Enfim, é extremamente estranha esta mudança de assunto repentina da narrativa de um homem tão conciso quanto Flávio.Flávio jamais teria este escrever vacilante e de um cristão apaixonado(afinal este era um judeu convicto)como apresentado no trecho supracitado..


Seria extremamente estranho que Flávio, um homem tão cuidadoso e descritivo, falasse somente um parágrafo daquele que teria causado tanta comoção como Jesus.Flávio fez longas descrições e relatos de pessoas de até menos importância que Cristo, porque justamente com este ícone falaria tão pouco?


Até mesmo um homem ligado a Igreja, Pe.Gillet, admite em seus escritos ter existido falsificações nos documentos de Flávio Josefo. Este diz ser inacreditável Flávio Josefo ter feito as citações que lhe são atribuídas no tocante ao escopo “Jesus Cristo”.


Chega-se a conclusão que Flávio Josefo jamais escreveu sobre Jesus Cristo, simplesmente por ele não ter existido.O que se atribui a ele é fruto de palustre falsificação da Igreja.


Nos escritos de Tácito, escritor famoso do século II, as falsificações também se fazem presentes quando este supostamente fala sobre Jesus Cristo. Exames grafotécnicos provaram indelevelmente que a seguinte passagem trata-se de uma adulteração de seus escritos:


 "Nero, sem armar grande ruído, submeteu a processos e a penas extraordinárias aos que o vulgo chamava de cristãos, por causa do ódio que sentiam por suas atrapalhadas. O autor fora Cristo, a quem no reinado de Tibério, Pôncio Pilatos supliciara. Apenas reprimida essa perniciosa superstição, fez novamente das suas, não só na Judéia, de onde proviera todo o mal, senão na própria Roma, para onde de confluíram de todos os pontos os sectários, fazendo coisas as mais audazes e vergonhosas. Pela confissão dos presos e pelo juízo popular, viu-se tratar-se de incendiários professando um ódio mortal ao Gênero humano.”


Na realidade Tácito não se refere ao Jesus Cristo que os cristãos insistem em acreditar,mas sim ao Crestus dos Essênios (uma figura com existência historicamente comprovada). Sabendo-se que Tácito era um homem sapientíssimo e de um vernáculo esmerado, este jamais cometeria um erro de escrita(trocando o substantivo “Crestus” por “Cristo”)ou referências feitas aos seguidores de Jesus Cristo e não de Crestus.


Além do que é extremamente barroco e vai contra toda a imagem passada do Cristo bíblico, este estimular a arruaça e a iconoclastia agressiva entre seus seguidores como o texto faz parecer. Cristo seria uma figura passiva e pacifista segundo a Bíblia demonstra em suas descrições do mesmo.


Afirmar que os cristãos foram martirizados por Nero, nos anos de 54 e 68, baseado nos escritos de Tácito é uma parvice absurda haja vista que tais escritos foram visivelmente adulterados pela Igreja.


Graças aos escritos de Ganeval, que fugiram da rapace desmedida da Igreja, descobriu-se sobre que indivíduos referia-se Tácito: Os essênios seguidores de Crestus.


Plínio, o Jovem viveu entre 62 d.C. e 113 d.C.,e foi sub-pretor da região da Bitínia. Em uma carta enviada ao Imperador Trajano, este pergunta o que fazer com os cristãos revoltosos da região.Entretanto, não ficou evidenciado a quais cristãos, exatamente, eram feitas as referências: se aos crestãos ou aos cristãos. De qualquer forma, a carta em questão, após ser submetida a exames grafotécnicos e métodos rádio-carbônicos, revelou-se haver sido falsificada.


Até mesmo os Evangelhos são contraditórios, por si mesmos, quando falam da figura de Jesus Cristo.


O Jesus Cristo retratado por Mateus teria onze anos quando nasceu o de Lucas.Assim como Mateus diz que José, Maria e o pequenino Jesus seguiram directo para o Egito de Belém, jamais passando em Jersusalém, à guisa de fugir da perseguição instituída por Herodes Antipas.No entanto,Lucas afirma que estes passaram em Jerusalém após a louvação dos Três Reis Magos, e acrescenta a narração da cena de que participaram Ana e Semeão. Lucas não fala de matança iniciada por Herodes e tampouco de fuga para o Egito.Assim sendo fita-se que um Evangelista desmente o outro e neste proceder não é possível saber em qual acreditar, ou saber qual calunia menos.


Lucas afirma que os samaritanos jamais deram boa acolhida a Jesus. Todavia João, o Evangelista, fala justamente o contrário:que os Samaritanos deram boa acolhida a Jesus Cristo.


Marcos,Mateus e Lucas afirmam que Jesus apenas pregara na Galiléia, tendo ido raramente a Jerusalém, onde era praticamente desconhecido. Mas,João diz que ele ia constantemente a Jerusalém, onde realizara os principais atos de sua vida. Fica impossível precisar quem realmente fala a Verdade, a partir de tais contradições absurdas.


É dito que até a hora em que Jesus expiou, à terra ficou coberta por inefáveis trevas. Contudo relatos e escritos de pessoas judias e não-judias que se localizavam na mesma suposta região em que Jesus morreu nada afirmam sobre tal “obscurecimento”. Caso tal fenômeno estranhíssimo tivesse realmente acontecido certamente causaria algum relato(por ser algo digníssimo de nota)nos escritos pessoais de alguém que soubesse escrever e estivesse na Região.


Se Jesus fosse tão amado pelo seu Povo(os Judeus),e todos de Jerusalém como muito afirmam alguns Apóstolos, este jamais seria supliciado aos brados daqueles que deveriam amá-lo! Segundo João, quando Jesus falou ao povo, foi por este acatado e proclamado rei de Israel, aos gritos de "Hosanna". Mas, um pouco adiante, ele se contradiz, afirmando que o povo não acreditou em Jesus, e imprecando contra ele, ameaçava-o a ponto de ele haver procurado esconder-se.


Mateus diz que Jesus entrara em Jerusalém, vitoriosamente, quando a multidão tê-lo-ia recebido de modo festivo, e marchando com ele, juncava o chão com folhas, flores e com os próprios mantos, gritando: "Hosanna ao Filho de David! Bendito seja o que vem em nome do Senhor!" Aos que perguntavam quem era, respondiam:"Este é Jesus, o profeta de Nazaré da Galiléia". No entanto, outros evangelistas afirmam que ele era um total desconhecido em Jerusalém.Sendo um desconhecido, jamais seria saudado e louvado.


Comumente os crucificados pelos romanos tinham seus corpos atirados aos cães e aos chacais depois de mortos, como estudos históricos e arqueológicos recentes comprovaram.Contudo afirma-se na Bíblia que Jesus foi sepultado. Assim, a Bíblia mente indelevelmente. Afinal, porque os romanos iriam se preocupar em proceder diferente com um homem que viam com desdém e seria um gentio para  estes? Nunca estes moveriam esforços para sepultar, e fugir do procedimento normal, um ser considerado “escória”  por estes.


Chega-se por fim, a racional conclusão que Jesus Cristo é um blefe, uma enorme farsa, inventada e manipulada por humanos que ansiavam somente fiéis que enchessem seus cofres. Jesus foi uma mercadoria fantasiosa vendida ao tolo, cego, inculto e aos que precisam ater-se a ilusões.

Falsificação de Documentos   

 

Vimos assim, que os únicos autores que poderiam ter escrito a respeito de Jesus Cristo, e como tal foram apresentados pela Igreja, foram Flávio Josefo, Tácito Suetonio e Plínio.

                   Invocando o testamento de tais escritores, pretendeu a Igreja provar que Jesus Cristo teve existência física, e incutir como verdade na mente dos povos, todo o romance que gira em torno da personalidade fictícia de Jesus.


                   Contudo, a ciência histórica através de métodos modernos de pesquisa, demonstra hoje que os autores em questão, foram falsificados em seus escritos. Estão evidenciadas súbitas mudanças de assunto, para intercalações feitas posteriormente por terceiros. Após a prática da fraude, o regresso ao assunto originalmente abordado pelo autor.


                   Tomemos, primeiramente, Flávio Josefo como exemplo. Ele escreveu a história dos acontecimentos judeus, na época em que pretensamente Jesus teria existido. Os falsificadores aproveitaram-se então de seus escritos e acrescentaram; "Naquele tempo, nasceu Jesus, homem sábio, se é que se pode chamar homem, realizando coisas admiráveis e ensinando a todos os que quisessem inspirar-se na verdade. Não foi só seguido por muitos hebreus, como por alguns gregos, Era o Cristo. Sendo acusado por nossos chefes, do nosso país ante Pilatos, este o fez sacrificar. Seus seguidores não o abandonaram nem mesmo após sua morte. Vivo e ressuscitado, reapareceu ao terceiro dia após sua morte, como o haviam predito os santos profetas, quando realiza outras mil coisas milagrosas. A sociedade cristã que ainda hoje subsiste, tomou dele o nome que usa".


                   Depois deste trecho, passa a expor um assunto bem diferente no qual refere-se a castigos militares infligidos ao populacho de Jerusalém. Mais adiante, fala de alguém que conseguira seus intentos junto a uma certa dama fazendo-se passar como sendo a humanização do deus Anubis, graças aos ardis dos sacerdotes de Ísis. As palavras a Flávio atribuídas, são as de um apaixonado cristão. Flávio jamais escreveria tais palavras, porquanto, além de ser um judeu convicto, era um homem culto e dotado de uma inteligência excepcional.


                   O próprio Padre Gillet, reconheceu em seus escritos ter havido falsificações nos textos de Flávio, afirmando ser inacreditável que ele seja o autor das citações que lhe foram imputadas.


                   Além disso, as polêmicas de Justino, Tertuliano, Orígenes e Cipriano contra os judeus e os pagãos, demonstram que Flávio não escreveu nem uma só palavra a respeito de Jesus. Estranhando o seu silêncio, classificaram-no de partidário e faccioso. No entanto um escritor com o seu mérito, escreveria livros inteiros acerca de Jesus, e não apenas um trecho. Bastaria, para isto, que o fato realmente tivesse acontecido. Seu silêncio no caso, é mais eloqüente do que as próprias palavras.


                   Exibindo os escritos de Flávio, Fócio afirmava que nenhum judeu contemporâneo de Jesus, ocupara-se dele. A luta de Fócio, que viveu entre os anos de 820 a 895, e foi patriarca de Constantinopla, teve ensejo justamente por achar desnecessário a Igreja lançar mãos de meios escusos para provar a existência de Jesus. Disse que bastaria um exemplar autêntico não adulterado pela Igreja, e fora do seu alcance, para por em evidência as fraudes praticadas com o objetivo de dominar de qualquer forma. Embora crendo em Jesus, Cristo, combateu vivamente os meios sub-reptícios empregados pelos Papas, razão porque foi destituído do patriarcado bizantino e excomungado. De suas 280 obras, apenas restou o "Myriobiblion", tendo o resto sido consumido, provavelmente por ordem do Papa.


                   Tácito escreveu: "Nero, sem armar grande ruído, submeteu a processos e a penas extraordinárias aos que o vulgo chamava de cristãos, por causa do ódio que sentiam por suas atrapalhadas. O autor fora Cristo, a quem no reinado de Tibério, Pôncio Pilatos supliciara. Apenas reprimida essa perniciosa superstição, fez novamente das suas, não só na Judéia, de onde proviera todo o mal, senão na própria Roma, para onde de confluíram de todos os pontos os sectários, fazendo coisas as mais audazes e vergonhosas. Pela confissão dos presos e pelo juízo popular, viu-se tratar-se de incendiários professando um ódio mortal ao Gênero humano".


                   Conhecendo muito bem o grego e o latim Tácito não confundiria referências feitas aos seguidores de Cristo com os de Crestus. As incoerências observadas nessa intercalação demonstram não se tratar dos cristãs de Cristo, nem a ele se referir. Lendo-se o livro em questão, percebe-se perfeitamente o momento da interpelação. Afirmar que fora Cristo o instigador dos arruaceiros, é uma calúnia contra o próprio Cristo. E conforme já referimos anteriormente, os cristãos seguidores de Cristo, eram muito pacatos e não procuravam despertar atenção das autoridades para si. Como dizer em um dado momento que eles eram retraídos, e em seguida, envolvê-los em brigas coisas piores? É apenas mais uma das contradições de que está repleta a história da Igreja.


                   Ganeval afirma que foram expulsos de Roma os hebreus e os agípcios, por seguirem a mesma superstição. Deduz-se então que não se referia aos cristãos, seguidores de Jesus Cristo. Referia-se aos Essênios, seguidores de Crestus, vindos de Alexandria. A Igreja não conseguiu por as mãos nos livros de Ganeval o que contribuiu ponderavelmente para lançar uma luz sobre a verdade. Por intermédio de seus escritos, surgiu a possibilidade de provar-se a quais cristãos, exatamente, referia-se Tácito.


                   Suetônio teria sido mais breve em seu comentário a respeito do assunto. Escreveu que "Roma expulsou os judeus instigados por Crestus, porque promoviam tumultos".


                   É evidente também, a falsificação praticada em uma carta de Plínio a Trajano, quando perguntava o que fazer aos cristãos, assunto já abordado anteriormente. O referido texto, após competente exame grafotécnico, revelou-se adulterado. É como se Plínio quisesse demonstrar, não apenas a existência histórica de Jesus, mas, sua divindade, simbolizando a adoração dos cristãos. É o quanto basta para evidenciar a fraude.


                   Se Jesus Cristo realmente tivesse existido, a Igreja não teria necessidade de falsificar os escritos desses escritores e historiadores. Haveria, certamente, farta e autêntica documentação a seu respeito, detalhando sua vida, suas obras, seus ensinamentos e sua morte. Aqueles que o omitiram, se tivesse de fato existido, teria sido por eles abundantemente falado. Os mínimos detalhes de sua maravilhosa vida, seriam objeto de vasta explanação. Entretanto, em documentos históricos não se encontram referências dignas de crédito, autênticas e aceitáveis pela história. Em tais documentos, tudo o que fala de Jesus e sua vida é produto da má-fé, da burla, de adulterações e intercalações determinadas pelos líderes cristãos. Tudo foi feito de modo a ocultar a verdade. Quando a verdade esta ausente ou oculta, a mentira prevalece. E há um provérbio popular que diz: "A mentira tem pernas curtas". Significa que ela não vai muito longe, sem que não seja apanhada. Em relação ao cristianismo, isto já, aconteceu. Um número crescente de pessoas, vai a cada dia que passa, tomando conhecimento da verdade. E assim, restam baldados os esforços da Igreja, no que concerne aos ardis empregados na camuflagem da verdade, visando alcança escusos objetivos.

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