quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Não existe um Messias para os judeus



JUDAÍSMO

Religião baseia-se no preceito da soberania e da unicidade de Deus e não comemora o Natal



DA REPORTAGEM LOCAL

Confira a entrevista concedida por fax pelo rabino Henry Sobel, 60, presidente do Rabinato da Congregação Israelita Paulista (CIP), que viveu nos EUA e mora no Brasil desde 1970. (HL)

Folha - Qual a principal comemoração de sua religião?
Henry Sobel - Rosh Hashaná, o Ano Novo judaico, e Iom Kipur, o Dia do Perdão.


Folha - Qual a importância de Jesus Cristo para a sua religião?
Sobel - Acreditamos que Jesus foi um grande homem, um grande mestre que pregou ideais universais. Porém não o aceitamos como Messias ou Salvador, pois o judaísmo não reconhece um "filho de Deus" que se destaca e se eleva acima dos outros seres humanos. A convicção judaica é a de que todos os homens são iguais. Somos todos "filhos de Deus", criados à sua imagem, e nenhum ser humano pode ser considerado mais divino do que os outros. Na teoria judaica, com seu enfoque rigorosamente monoteísta, Deus não pode se materializar em nenhuma forma.
A crença em um Messias divino que é a encarnação de Deus contraria o preceito judaico da absoluta soberania e unicidade de Deus. É importante frisar que nós, judeus, não rejeitamos os conceitos de Jesus sobre Deus, pois eles são essencialmente judaicos e derivam basicamente dos ensinamentos do Torá (a Bíblia judaica), com os quais Jesus se criou e os quais jamais negou. Jesus era judeu, nascido de mãe judia. Era chamado de "rabino" e freqüentava o Templo de Jerusalém, junto de seus discípulos.


Folha - O que o sr. fará na noite de 24 para 25 de dezembro?
Sobel - Sendo uma sexta-feira à noite, estarei na sinagoga participando do serviço religioso do shabat, que é o dia sagrado de descanso.


Folha - Qual é a importância de Belém e de Jerusalém para a sua religião?
Sobel - Belém foi o centro da tribo de Judá e o local de nascimento do rei Davi. Quanto a Jerusalém, foi a cidade escolhida pelo rei Davi, há 3.000 anos, como a capital do reino de Israel. Foi lá, na Cidade Santa, que o templo foi construído. Jerusalém é a capital eterna de Israel e, em sentido mais amplo, de todo o povo judeu. Desde os tempos bíblicos, já dizia o salmista: "Se eu me esquecer de ti, ó Jerusalém, que se paralise minha mão direita! Que se trave minha língua se eu não me lembrar de ti, se não te puser acima de todas as minhas alegrias" (Salmo 137). Durante dois dolorosos milênios, enquanto estávamos dispersos pelo mundo afora, rezávamos diariamente pelo regresso a Jerusalém. Três vezes por dia, suplicávamos ao Todo-Poderoso: "Junta-nos dos quatro cantos do mundo, traze-nos de volta à nossa terra em paz, conduze-nos em misericórdia para Jerusalém." Em todo Iom Kipur e em todo Pessach (Páscoa judaica), expressávamos fervorosamente a esperança de, no ano vindouro, estarmos em Jerusalém. As inquisições, os pogroms (massacres de judeus na Rússia), as expulsões, os guetos, os campos de concentração, as câmaras de gás -nada disso diminuiu nossa determinação de retornar à Cidade Santa. Mais ainda, foi essa determinação, essa esperança inabalável, que impulsionou os judeus a sobreviverem como povo durante esse tempo de exílio e de perseguição.


Folha - Quais são os locais mais sagrados em Jerusalém para a sua religião?
Sobel - O local mais sagrado é o Kotel, o Muro das Lamentações, único remanescente do antigo Templo destruído por invasores. Recordação da riqueza histórica do judaísmo, o muro é também o símbolo das perseguições sofridas durante séculos.


Folha - Que mensagem o sr. gostaria de transmitir para as pessoas para este ano que começa?
Sobel - Em 2005, que haja "shalom" (paz) entre todos os filhos de Deus e serenidade no coração de cada um.




https://www1.folha.uol.com.br/fsp/turismo/fx2312200407.htm#:~:text=Na%20teoria%20judaica%2C%20com%20seu,soberania%20e%20unicidade%20de%20Deus.

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