sábado, 23 de dezembro de 2023

As Máscaras de Deus: Mitologia Primitiva

 



Joseph Campbell um dos maiores mitólogos da história traz, com toda sua erudição, uma obra explicativa e didática sobre a mitologia dos povos primitivos, contextualizando a formação do senso religioso desde os tempos imemoriais. O autor nos mostra que, desde o inicio dos primeiros registros mitológicos que se tem história, o que data das eras em que nossos ancestrais moravam em cavernas, o homem já tinha a necessidade da criação mítica para expressar seus sentimentos e admiração perante toda a natureza. Assim, Campbell enfatiza a importância e a necessidade de se estudar e compreender os mitos, principalmente pelo viés acadêmico, que tende a fornecer ao homem ferramentas necessárias para a compreensão da história e da cultura da humanidade. Para abrir sua obra, o autor explica que o título do trabalho que está longe de fazer com que Deus tenha máscaras literais, explicando que se utiliza do conceito máscaras para indicar uma característica cultural universal dos seres humanos de se criar símbolos imagéticos e mitológicos para expressar o conceito de Deus/deuses em diversas culturas do globo como se fossem máscaras. Perante as grandes similaridades de símbolos existentes entre diversas culturas, Campbell estuda a possibilidade da existência de um inconsciente coletivo, inerente a todos os povos, que fora amplamente estudado e proposto pelo Psiquiatra suíço Carl Jung, que também postulou sobre os arquétipos, ou as imagens hereditárias da psique, que são responsáveis pela produção dos símbolos. Campbell segue sua linha de pesquisa traçando sobre os principais ritos dos povos primitivos que chegaram até nós. Tais ritos consistem de ritos de passagens, coma temática do nascer novamente, no caso, quando os indivíduos entravam na adolescência. Os cultos, ao que tudo indica, se referiam ao culto da terra, dos animais e da natureza de modo geral. O autor após estudar a similaridade entre os ritos de passagens e alguns símbolos da antiguidade tardia, chega a conclusão de que o homem, desde o mais primitivo, sempre teve uma tendência inata a religiosidade.

Após o desenvolvimento evolutivo, e a conseqüente evolução da sociedade, começa-se a surgir, de fato, as principais e mais antigas manifestações religiosas que se perduram até hoje, como por exemplo, as religiões orientais, sobretudo o Hinduísmo. Tal religião, por exemplo, formou-se com base em antigos símbolos que são encontrados até hoje na religiosidade hindu como, por exemplo, a suástica. Campbell também explora a incrível manifestação do aparecimento de estátuas femininas em culturas arcaicas como os sumérios, indicando assim um profundo culto aliado ao sagrado feminino. Na continuação, Campbell vai explorando a sistematização da religiosidade entre as culturas com a criação de um calendário e a observação dos astros principalmente por parte dos babilônios, criando-se um elo entre o ato religioso e os primórdios da ciência através da observação dos astros e dos fenômenos da natureza que, mesmo com um manto mítico, revelam o início da “investigação científica” pelo simples ato de observar os fenômenos climáticos que serviram, entre outras coisas, para o florescimento das terras férteis e da agricultura. Dentre outros aspectos arcaicos de religiosidades, estudados pelo autor, estão os cultos do Xamanismo, os antigos mistérios da Grécia e do Egito, a religiosidade dos povos pré-colombianos entre outras, onde procura sempre criar paralelos de similaridade entre todas as manifestações mitológicas estudadas, independentemente do contexto ou localidade geográficas em que se inserem. Uma das mais importantes exposições do livro concerne ao estudo sobre as antigas cavernas do sul da França que possuem pinturas rupestres com temas da natureza e da vida animal. Campbell chega a conclusão de que estas cavernas eram, na realidade, santuários e que serviam como locais de culto da caça e da proteção contra a magia. Outra suposição de Campbell é que, ao que tudo indica, muitas sociedades da antiguidade tardia possuíam o sistema matriarcal, ou seja, a mulher dominava o clã e o homem possuía uma posição secundária. Este argumento é comprovado pelo antiquíssimo culto feminino difundido por diversas localidades. Tal situação tende a mudar, pois em praticamente todas as sociedades matriarcais, ao que tudo indica, os homens começam a reunir forças e derrubam o sistema feminino de governo, o que é comprovado, segundo Campbell, pelo desaparecimento repentino de figuras de culto feminino, sendo substituída pelas figuras e símbolos de culto masculino.

As suposições de Joseph Campbell, apesar de serem bastante ousadas, encontraram aceitação na comunidade acadêmica que, com os avanços nas pesquisas arqueológicas, têm demonstrado que os sistemas matriarcais realmente existiram e que foram, de uma hora para outra, modificados para sistemas patriarcais. 

Para concluir é importante salientar que, fica bastante evidente durante a leitura, e o estudo da obra, que o autor deseja apontar que os vestígios mais antigos de religiosidade mítica existentes no universo, servem a explorar o quão antigo é a religiosidade humana e como resquícios da antiguidade tardia podem demonstrar empiricamente que a religião é algo natural e espontâneo da cultura.

Marcel Henrique Rodrigues 

https://www.academia.edu/6886623/As_M%C3%A1scaras_de_Deus_Mitologia_Primitiva

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