domingo, 17 de dezembro de 2023

Jesus no Talmude

 



Para muitos religiosos, existe uma grande diferença entre uma ideia que é dita em um livro que não é canonizado e uma ideia que é mencionada em um livro canonizado, mais ainda quando se trata de uma crítica ou de uma ofensa. A canonização é a homologação da autoridade de um texto ou a santificação de um devoto. Sendo assim, na rivalidade entre as religiões, quando uma ofensa ou uma crítica é feita sobre outra religião, se a fonte desta ofensa é um texto não canonizado, o efeito não é o mesmo se esta tivesse sido feita por uma obra canonizada. Ou seja, a menção em um texto popular e não canonizado não produz o mesmo impacto da menção em um texto canonizado. Esta é uma mentalidade muito comum na cultura religiosa. Um exemplo é o que aconteceu com os relatos hostis sobre Jesus na coleção do Sefer Toledoth Yeshu (Livro sobre a Vida de Jesus)[1], a versão judaica sobre a vida de Yeshu (Jesus), a qual nunca foi canonizada no Judaísmo, permanecendo sempre como textos populares, os quais nunca incomodaram tanto os cristãos. Em contrapartida, muito diferente foi o impacto das menções hostis sobre Jesus (Yeshu) no Talmude, um texto sagrado e canonizado, o segundo na autoridade judaica depois da Bíblia Hebraica. Embora o Talmude reproduza apenas breves menções ofensivas sobre Jesus (Yeshu, Yeshu ha-Notzri, ben Stada, ben Pandera, etc.), seu impacto sobre o clero cristão foi estrondoso, provocando reações furiosas (perseguição, proibição de leitura, censura e queima), tal como veremos abaixo; enquanto que o Toledoth Yeshu extrapola nas hostilidades e nas humilhações de Yeshu (Jesus), com relatos muito mais extensos e ofensivos, porém nunca incomodou tanto as autoridades cristãs como o Talmude importunou. A diferença estava na autoridade canônica.

Portanto, o breve estudo abaixo procura mostrar mais uma das tantas versões sobre a vida de Jesus, desta vez da perspectiva de uma tradição de fora do Cristianismo, versões estas emergentes nos primeiros séculos da era cristã.

Os Primeiros Registros das Versões Judaicas sobre Jesus (Yeshu)



Assim como os evangelhos apócrifos divergem dos evangelhos canônicos nos relatos da vida e dos ditos de Jesus, porém sem hostilizá-lo, as narrativas anticristãs dos judeus, por sua vez, vão muito mais longe ao depreciarem e zombarem de Jesus. Estes relatos hostis não são criações medievais, tal como muitos cristãos pensam. Pois, existem documentos que confirmam que versões judaicas dos episódios da vida de Jesus, muito diferentes das versões dos evangelhos canônicos e apócrifos, já circulavam oralmente no segundo século, eles apenas foram ampliados durante a Idade Média. O mais antigo registro aparece na obra Diálogo com Trifon, o Judeu, do apologista cristão Justino, o Mártir, composta provavelmente no ano 135 e.c. Nela, Trifon, um judeu fictício criado por Justino, apenas para efeito literário, afirma que “Jesus, um impostor da Galileia, que nós crucificamos, mas que os seus discípulos o roubaram à noite da tumba, onde ele estava deitado quando solto da cruz, e agora enganam os homens afirmando que ele ressuscitou dos mortos e subiu ao céu” (Dialogue with Trypho, The Jew, capítulo 108 – Praten, 1867: 235). Que o roubo do corpo de Jesus era uma polêmica desde os primeiros anos pode ser confirmado no Evangelho de Mateus 28.12-5, quando os sacerdotes judeus se reuniram com os líderes religiosos e elaboraram um plano. Eles “deram aos soldados grande soma de dinheiro, dizendo-lhes: Vocês devem declarar o seguinte: os discípulos dele vieram durante a noite e furtaram o corpo, enquanto estavam dormindo. (…). Assim, os soldados receberam o dinheiro e seguiram as instruções. E esta versão se divulgou entre os judeus até o dia de hoje” (NVI-PT, Mt. 28.12-5).




Ainda mais hostil é o resumo da vida de Jesus em A Doutrina Verdadeira (gr. Λόγος Αληθής – Logos Alethes) do pensador grego Celso, obra perdida do século II e.c., porém reproduzida em grande parte na heresiologia Contra Celsum (gr. Κατά Κελσου – Kata Kelsou) do cristão Orígenes (século III e.c.), escrita na intenção de refutar as críticas do citado autor grego. Celso acusou Jesus de ter inventado seu nascimento de uma virgem; e adverte Jesus de ter nascido de um vilarejo judeu, de uma pobre mulher do campo, que conseguia o seu sustento com a tecelagem[2], e que foi expulsa de casa por seu marido, um carpinteiro de profissão, porque ela foi condenada por adultério, que após ter sido expulsa por seu marido, ela perambulou por um tempo, então ela desgraçadamente deu à luz Jesus, um filho ilegítimo, que tendo trabalhado como servo no Egito, em virtude da sua pobreza, adquiriu alguns poderes miraculosos, dos quais os egípcios se orgulham muito[3], retornou ao seu próprio país, altamente entusiasmado por causa deles, e por meio destes poderes proclamou-se um deus (Origen Contra Celsum, vol. I. 28 e 32 – Chadwick, 1980: 28 e 31; ver também: Schonfield, 1937: 132-8; Schäfer, 2007: 18-9 e Cook, 2011: 215s). Celso também revelou a sua suspeita sobre a veracidade dos relatos evangélicos, dizendo que “embora eu poderia dizer muito sobre o que aconteceu a Jesus que é verdadeiro, e nada como os relatos que foram escritos pelos discípulos…” (Origem Contra Celsum, vol. II. 13 – Chadwick, 1980: 78 e Schonfield, 1937: 132). Mais adiante ele acrescenta que alguns “crentes cristãos, como que em um surto de embriagues, chegaram ao ponto de alterarem o texto original do evangelho três, quatro ou diversas vezes, eles alteraram o seu conteúdo a fim de capacitá-los a negar as dificuldades diante das críticas” (Origen Contra Celsum, vol. II.27 – Chadwick, 1980: 90 e Schonfield, 1937: 133).

Celso desconfiou dos fenômenos milagrosos ocorridos durante o batismo de Jesus, por João Batista, narrados nos evangelhos canônicos, questionando diretamente Jesus da seguinte maneira: “Quando você estava banhando, perto de João, você diz que você viu o que parecia ser um pássaro que voa na sua direção do ar. Que testemunha confiável viu esta aparição, ou que ouviu uma voz do céu considerando você como o filho de deus? Não há prova exceto a sua palavra, e a evidência que você é capaz de apresentar é de um dos seus homens que foi punido como você? (Origen Contra Celsum, I. 41 – Chadwick, 1980: 39). Também, Celso questionou a divindade de Jesus com relação a sua fuga após a condenação, um episódio que não aparece nos evangelhos canônicos, tampouco nos apócrifos, mas conhecido da tradição judaica daquela época, do seguinte modo: “Como poderemos nós considera-lo um deus, quando em outras ocasiões, tal como as pessoas perceberam, ele não manifestou alguma coisa do que tinha prometido realizar, e quando nós o condenamos, o sentenciamos e decidimos que ele deveria ser punido, ele foi pego escondendo-se e fugindo da maneira mais humilhante e, na verdade, foi traído por aqueles de ele chamava de discípulos? (Origen Contra Celsum, II.09 – Chadwick, 1980: 73 e Schonfield, 1937: 137).

Com o tempo, novos episódios hostis foram sendo acrescidos a esta tradição judaica e transmitidos oralmente, de geração para geração, até que alguns trechos foram incluídos, através de menções, no Talmude, talvez por volta de 300e.c. até o ano 600 e.c., depois no comentário rabínico Midrash, para finalmente serem compilados na forma escrita, através de diferentes versões, durante a Idade Média, em uma coleção conhecida coletivamente por Sefer Toledoth Yeshu (O Livro da História da Vida de Jesus).[4]

O Talmude

O Talmude (תַּלְמוּד) é o documento de formação do Judaísmo Rabínico no fim da Antiguidade. Ele é o texto de maior autoridade para os judeus depois da Bíblia Hebraica (Tanakh). Trata-se de uma extensa compilação da Lei Oral (Torah Shebealpeh), enquanto a Torá é a Lei Escrita (Torah Shebikhtav), em outras palavras, é a interpretação oral da Lei Escrita preservada anteriormente apenas na memória e transmitida oralmente. Existem duas versões do Talmude: o Talmude Palestino (Talmud Yerushalmi), concluído por volta do século IV e.c. e o Talmude Babilônico (Talmud Bavli), concluído por volta do século VI e.c., este último é o mais extenso e o mais estimado. Está constituído de duas partes compiladas em duas etapas, a mais antiga é a Mixná (tradição), e a posterior é a Guemará (comentário). Existem também comentários suplementares conhecidos por Tosefta e Midrash, os quais geralmente não são incluídos nos volumes talmúdicos. O Talmude pertence à seita dos fariseus, a única corrente antiga do Judaísmo pré-rabínico que sobreviveu à destruição do Segundo Templo (70 e.c.). O motivo para a compilação das leis do Talmude, para a forma escrita, pode ter sido o temor, dos poucos rabinos sobreviventes após a grande revolta, de que a tradição oral poderia se perder.

O Talmude é uma obra muito extensa, possui 64 tratados (masekhtot) divididos em 06 ordens (sedarim). A tradução inglesa da Soncino Publishing House de 1935-52 abrangeu 35 volumes, depois reimpresso em 18 volumes no ano de 1961 e a edição eletrônica possui quase 10 mil páginas. A literatura talmúdica desenvolveu-se por estágios. O primeiro estágio é conhecido por período tannaico, nome atribuído em virtude dos sábios Tannaim daquela época, do século I a.e.c. até cerca do ano 200 e.c. O principal texto da literatura tannaica é a Mixná. Depois que os romanos esmagaram a revolta judia em 70 e.c., os fariseus foram o único grupo organizado no Judaísmo a sobreviver. Com a permissão romana, eles criaram um centro rabínico na costa da Palestina, com o mais influente rabino da época, Yohanan ben Zakkai, como o líder. Eles assumiram a tarefa de começar a compilar as antigas tradições legais dos fariseus, algumas dos primeiros séculos a.e.c. O corpo de textos até então preservado na memória foi estudado e sua codificação iniciada. Em seguida, o rabino Akiba e o rabino Meir assumiram a tarefa, e o material foi organizado em categorias legais. Logo após o ano 200 e.c., o processo foi concluído pelo rabino Judá, o Príncipe, quem supervisionou a compilação da coleção de leis religiosos na Mixná, e então o período tannaico terminou.




Em função da lei judaica ser mutável, o processo de interpretar a Torá, em novos casos, continuou após o ano 200 e.c. Então começou o período amorático do Judaísmo Rabínico, nome extraído dos sábios rabinos (Amoraim) daquela época. A Mixná tornou-se um assunto de desenvolvimento teológico e legal. Finalmente, dois Guamarás sobre a Mixná se desenvolveram, um na Palestina e um mais extenso (e finalmente muito mais influente) na Babilônia. Então, duas coleções do Talmude emergiram: o Talmude Palestino, também conhecido por Talmude de Jerusalem ou Yerushalmi, foi completado por volta de 350 e.c.; e um outro mais extenso, o Talmude Babilônico, conhecido também por Talmude Bavli, completado por volta do ano 500 e.c.

Apesar da autoridade e do enorme prestígio do Talmude dentro da comunidade judaica, sobretudo entre os ortodoxos, mesmo assim ele não ficou imune às críticas. O conhecido reformador judeu Abraham Geiger declarou, no século XIX, que o Talmude era “um colosso desajeitado que precisava ser derrubado” (De Lange, 2000: 56). E na definição de algumas feministas judias, o Talmude é “um gigantesco monumento de discriminação e de submissão da mulher”. Não são todas as correntes judaicas que o aceitam na íntegra, algumas o reinterpretam à luz da mentalidade contemporânea, sendo que outras o rejeitam por completo. O imenso sentimento de misoginia, de preconceito, de discriminação e de submissão da mulher no Talmude só é comparável ao do misógino Manusmrti (Código de Manu) dos hindus. Em razão de sua extensão e de seu obsoletismo, as leis arcaicas do Talmude desafiam os costumes da época contemporânea, bem como contrariam algumas convenções da ONU sobre a eliminação de todas as formas de discriminação. Portanto, para os mais críticos, o Talmude é uma peça arqueológica que deveria estar exposta em um museu, em função do seu obsoletismo.

A Perseguição, a Censura e a Queima do Talmude

A intolerância da Igreja Católica, durante a Idade Média, chegou ao ponto de até admitir que a simples exposição às ideias e aos livros hereges era suficiente para colocar em risco a eterna salvação de seus fiéis. Com tal preocupação em mente, a Igreja se mobilizou a fim de proteger o seu séquito através da censura ou da queima de livros que eram considerados perigosos. A censura abrangia desde a perseguição, passando pela obrigação de apagar trechos censurados, pela proibição da sua leitura, pelo confisco, até a queima na fogueira em praça pública. Também, vários Indices (listas de livros proibidos) foram emitidos.

Embora a Igreja já tivesse perseguido alguns livros e promovido a sua queima, a perseguição ao Talmude iniciou-se em 1236, quando um apóstata judeu, Nicholas Donin, enviou um memorando ao papa Gregório IX relacionando 35 acusações contra o Talmude, alegando que este possuía blasfêmias sobre Jesus e sobre o Cristianismo. Então, em 1239, o papa Gregório IX ordenou uma investigação e, como resultado desta, enviou cartas aos sacerdotes da França resumindo as acusações e ordenando o confisco de livros judeus em março de 1240. Após o debate de Barcelona, em 1263, Tiago, o rei de Aragão, ordenou que os judeus deveriam, dentro de três meses, eliminar todas as passagens em seus escritos que fossem ofensivas ao Cristianismo. A desobediência desta ordem poderia resultar em duras punições e na destruição das obras em questão.




A intromissão oficial da Igreja na vida judia veio à tona com a perseguição do Talmude. Relacionado em 1559 no Index Auctorum et Librorum Prohibitorum, emitido pelo papa Paulo IV, o Talmude foi sujeito a inumeráveis debates, ataques e queimas. Em março de 1589, o papa Sexto V estendeu a proibição em seu Index aos Livros dos Judeus, contendo qualquer coisa que pudesse ser interpretada como sendo contra a Igreja Católica. Em 1595, o Index Expurgatorius dos livros judeus foi criado. Este Index relacionava livros que não podiam ser lidos sem terem as passagens revisadas e deletadas antes da publicação. Os revisores oficiais, que geralmente eram judeus apóstatas, eram indicados para efetuarem esta revisão de acordo com as regras estabelecidas no De Correctione Librorum, que apareciam no Index de Clemente VIII, em 1596.

Com isso, passagens do Talmude foram apagadas, alteradas e até mesmo rasgadas. Cerca de 420 livros hebreus foram relacionados em um manuscrito de 1903. Existem milhares de livros judeus com sinais de interferência de censor, palavras e passagens inteiras borradas com tinta, e até assinaturas dos censores no fim dos volumes. Uma grande quantidade de erros textuais nas edições padrões dos livros hebreus deve sua origem a tais atividades dos censores. A última edição do Index Librorum Prohibitorum papal, em 1948, ainda incluía obras judias (para aprofundamento, consultar: Steinsaltz, 1976: 81-5).

Peter Schäfer resumiu assim: “A história da transmissão do texto Bavli (Talmude Babilônico) é dificultada pelo fato de que muitos dos manuscritos mais antigos estão perdidos por causa da política agressiva da Igreja Católica contra o Talmude, a qual culminou nas muitas queimas do Talmude, ordenadas pela Igreja (a primeira em 1242, em Paris). Ainda mais, após o infame debate judeu-cristão de Barcelona em 1263, a Igreja começou (geralmente confiando na expertise de judeus convertidos) a censurar o texto do Talmude e a eliminar (apagar, borrar, etc.) todas as passagens que os experts achavam que eram censuráveis ou ofensivas à doutrina cristã. Sem dizer que, as passagens que referiam a Jesus tonaram-se a vítima principal de tal atividade” (Schäfer, 2007: 132).

Os Manuscritos Utilizados por Peter Schäfer

Graças a atual tecnologia de reunir uma enorme quantidade de dados e coloca-la disponível eletronicamente para pesquisadores, as pesquisas sobre o Talmude foram favorecidas enormemente. Com este novo recurso, gigantescos bancos de dados online de muitos manuscritos talmúdicos podem ser consultados. Peter Schäfer utilizou em seu livro Jesus in Talmud 14 manuscritos, tanto os censurados como os não censurados; também duas versões impressas, Soncino (1484-1519) e Vilna (1880-1886), também com trechos censurados e não censurados. Obviamente, os trechos não censurados são aqueles que são importantes para sabermos o que o Talmude diz sobre Jesus. O mais antigo utilizado por Peter Schäfer foi o manuscrito Firenze II-I-7-9 de 1177 e.c., e o mais recente o manuscrito Herzog 1, um manuscrito iemenita de 1565 e.c. Lista completa em Schäfer, 2007: 131-2. Um manuscrito muito utilizado por ele em muitas partes do seu estudo foi o manuscrito Munique Cod. Hebr. 95 de 1342 e.c.

Ele reproduziu uma lista dos trechos onde Jesus é mencionado no Talmude mostrando a maneira pela qual Jesus é descrito nos diferentes manuscritos, bem como os trechos que foram apagados, borrados ou alterados pelos censores (p. 133-41). Por exemplo, o trecho do Tratado Gittin 57a do Talmude diz: “ele foi e trouxe Jesus” (manuscrito Munique 95), enquanto que a versão impressa Soncino omite o final da frase; “ele foi e trouxe…”, e a versão impressa Vilna altera o final da frase da seguinte maneira: “ele foi e trouxe os pecadores de Israel”. O manuscrito Vaticano 130 acrescenta: “ele foi e trouxe Jesus o Nazareno” (Schäfer, 2007: 141). Uma curiosidade sobre a censura nos trechos dos manuscritos analisados por Peter Schäfer (p.141-5) é que em alguns deles, os censores parecem ter sido negligentes ou descuidados, uma vez que alguns trechos com referência a Jesus foram censurados, enquanto que em outros não. Mais curioso ainda é quando uma frase idêntica sobre Jesus é mencionada em duas passagens diferentes em um mesmo manuscrito, e a frase só é censurada em uma passagem, deixando a outra intacta.

A Discussão sobre as Menções de Jesus no Talmude

Já na primeira leitura dos trechos do Talmude que mencionam Jesus é possível notar o desprezo dos rabinos por ele e pelo Cristianismo. Na visão deles, Jesus não era uma figura religiosa importante e o Cristianismo uma seita insignificante. Jesus é mencionado em passagens breves, geralmente exemplificando um autor de um mal feito, ou como exemplo de um pervertido. O desprezo é tanto que ele chega a ser mencionado às vezes como peloni (uma certa pessoa), ou em outras passagens nenhum nome é mencionado em episódios claramente referentes a ele, até mesmo em trechos de manuscritos que não foram censurados.

Por conseguinte, este desprezo dificulta a identificação da menção de Jesus nas passagens mais implícitas, dificuldade que divide os pesquisadores deste assunto naqueles que são minimalistas, ou seja, aqueles que atribuem um pequeno número de passagens referentes a Jesus, os maximalistas, isto é, aqueles que atribuem um grande número de passagens a Jesus e, por fim, os moderados, que são aqueles que atribuem uma quantidade moderada, permanecendo entre os dois extremos. Como resultado do caráter implícito na menção de Jesus, uma calorosa discussão sobre este assunto surgiu entre os pesquisadores. Com base neste debate, as passagens referentes a Jesus podem ser divididas em passagens explícitas, onde ele é mencionado diretamente pelos nomes Yeshu (Jesus) e Yeshu ha-Notzri (Jesus o Nazareno) e as passagens implícitas, onde ele é mencionado por nomes tais como: ben Stada (filho de Stada)[5], ben Pandera (filho de Pandera), Balaão ou peloni (uma certa pessoa).[6] Os trechos censurados nos manuscritos acrescentam ainda mais dificuldade na identificação da menção sobre Jesus. Portanto, não será possível seguir neste estudo somente a tradução inglesa da versão impressa Soncino, uma vez que esta reproduz os trechos censurados, mas sim, para efeito de maior abrangência, o cotejo de diferentes manuscritos feito por Peter Schäfer em seu livro (p. 131-41), o que torna possível a identificação dos trechos censurados, bem como o conhecimento da redação original nos trechos dos manuscritos que escapuliram da fúria dos censores cristãos[7].

A Família de Jesus (Yeshu)

Antes de mencionar as passagens no Talmude Babilônico que mencionam os familiares de Jesus (Yeshu) é preciso informar a versão judaica do seu nascimento. Muito diferente dos evangelhos canônicos, nas versões judaicas, desde o registro do pensador grego Celso e passando por algumas versões do Sefer Toledoth Yeshu[8] compiladas na Idade Média, ele não nasceu de uma mãe virgem, mas sim de uma relação adúltera entre sua mãe Miriam (Maria) e o soldado José Pandera, pois ela já estava comprometida com um noivo, portanto Jesus foi um filho bastardo. Então, Peter Schäfer explica porque o nome “Stada” é também atribuído a sua mãe Miriam (Maria): “Stada é um epíteto que deriva da raiz aramaica/hebraica sat.ah/sete (desviar do caminho correto, extraviar, ser infiel). Em outras palavras, sua mãe Miriam era também chamada de “Stada” porque ela era uma sotah, uma mulher suspeita de adultério, ou melhor, condenada por adultério” (Schäfer, 2007: 17). Já seu pai biológico, José Pandera, era um soldado que residia perto da casa de sua mãe Miriam, então ele, atraído por sua beleza, a seduziu. Ela engravidou e em seguida deu à luz um filho bastardo, quem ela batizou com o nome de Yeshu (Jesus).

Esta tradição parece anteceder ao Toledoth Yeshu e ao Talmude, uma vez que é relatada na obra de Celso, onde “a mãe de Jesus é descrita como tendo sido expulsa de casa pelo carpinteiro com quem ela estava comprometida, visto que ela foi condenada por adultério e teve um filho com um certo soldado chamado Panthera (Pandera)” (Origen Contra Celsum, I.32 – Chadwick, 1980: 31; ver também: Schäfer, 2007: 19).

O desprezo dos rabinos por Jesus era tanto, nos primeiros anos do Cristianismo, que no Tratado Shabbhat 104b do Talmude Babilônico, eles se envolvem nas seguintes dúvidas e confusões: “Ele era o filho de Stada e não o filho de Pandera? Rabino Hisda disse: o marido era Stada e o amante Pandera. Mas, não era o marido Pappos ben Yehuda e sua mãe Stada? Sua mãe era Miriam, a mulher que deixou o cabelo crescer. Isto é o que dizem sobre ela em Pumbeditha:[9] Esta foi expulsa de casa por ter sido infiel ao marido” (Schäfer, 2007: 16; ver também: Herford, 1903: 35 e Van Voorst, 2000: 109).[10]

Jesus como tolo

Antes de citar a próxima menção de Jesus no Talmude, é preciso informar o contexto da qual ela foi retirada. Diferente dos evangelhos canônicos, cujos milagres de Jesus são de origem divina, a tradição judaica regista duas versões sobre a origem dos poderes mágicos de Jesus. A versão registrada em alguns textos do Toledoth Yeshu informa que Jesus, a fim de obter poder, roubou o conhecimento do Nome Inefável de Deus no templo de Jerusalém, através da trapaça de escrever o nome em um pequeno pedaço de pergaminho e escondê-lo em um corte feito na sua perna, a fim de não ser surpreendido pelos leões que guardavam a saída do santuário e faziam com que aqueles que memorizassem o nome, o esquecesse com o rugir dos leões.[11] Outra versão, registrada pelo pensador grego Celso, afirma que Jesus aprendeu sua magia no Egito, quando trabalhou naquela região como servo. “Ela (Maria) perambulou por um tempo, então ela desgraçadamente deu à luz Jesus, um filho ilegítimo, que tendo trabalhado como servo no Egito, em virtude da sua pobreza, adquiriu alguns poderes miraculosos, dos quais os egípcios se orgulham muito retornou ao seu próprio país, altamente entusiasmado por causa deles, e por meio destes poderes proclamou-se um deus” (Origen: Contra Celsum, vol. I. 28 e 32 – Chadwick, 1980: 28 e 31; ver também: Schonfield, 1937: 132-8; Cook, 2011: 215s e Botelho, 2016: 03). Esta última versão é a que é mencionada no mesmo tratado Shabbat 104b, durante uma discussão sobre a permissão ou a proibição de se escrever durante o dia do Sabá. Jesus (Yeshu) é mencionado com um exemplo de quem desrespeitou esta proibição. “Mas, ben Satra (Stada) não aprendeu apenas de tal modo”? Ou seja, ele não usou tatuagens sobre seu corpo como uma ajuda para facilitar a aprendizagem (do Nome Inefável), por isso não eram elas (as tatuagens) claramente letras e por isso proibidas de serem escritas no Sabá? Mais adiante Jesus é ofendido da seguinte maneira: “Mas, ben Stada (Jesus) não trouxe bruxaria do Egito por meio de tatuagem (biseritah) sobre sua pele”? Daí três rabinos desconsideraram esta objeção com o contra-argumento de que ben Stada (Jesus) era um tolo, e que eles (os rabinos) não deixariam que o comportamento de um tolo influenciasse a implantação das leis do Sabá” (Schäfer, 2007: 16; ver também: Herford, 1903: 35; Klausner, 1926: 21 e Van Voorst, 2000: 109).

Jesus como um Discípulo Inconveniente

Outra menção de Jesus (Yeshu) no Talmude Babilônico aparece no Tratado Senhedrin 103a, em uma passagem comentando um verso dos Salmos (91.10): “… nenhuma praga aproximará a sua tenda; que você não tenha um filho que publicamente estraga a sua comida, tal como Jesus o Nazareno (Yeshu ha-Notzri)” (Schäfer, 2007: 26; ver também: Herford, 1903: 56-7 e Van Voorst, 2000: 113).

Peter Schäfer explica que a frase “estragar a sua comida” se refere a uma frase idiomática da época que significava “cometer uma ação inconveniente” (idem: 27). Então, Jesus é aqui citado como um exemplo de alguém que cometeu uma ação inconveniente.

Jesus Hostilizado pelo seu Próprio Mestre

Em um episódio absolutamente desconhecido dos textos canônicos e apócrifos, narrado no Tratado Sanhedrin 107b do Talmude Babilônico, Jesus (Yeshu) é empurrado pelo seu próprio mestre, Yehoshua b. Perahya: “… nem como Yehoshua b. Perahya, que empurrou Jesus de Nazaré com ambas as mãos” (idem: 34).

Em outro episódio no Tratado Sotah 47a, ainda mais estanho aos textos canônicos e apócrifos, Jesus é excomungado pelo seu mestre (Yehoshua b. Perahya), quando ambos estavam em uma hospedaria e seu mestre se sentiu atraído pela beleza da estalajadeira: “Ele (Yehoshua b. Perahya) levantou-se, saiu e encontrava-se em uma certa hospedaria. Eles (os hóspedes e os funcionários) prestaram-lhe grande respeito. Ele disse: “Como esta estalajadeira é bonita”! Ele (Jesus) disse: “Mestre, os olhos dela estão lacrimejantes”. Ele (Yehoshua b. Perahya) respondeu: “Você, discípulo perverso, você se ocupa com tal pensamento? Então, ele emitiu 400 sopros de shofar[12] e o excomungou. Ele (Jesus) esteve diante do mestre diversas vezes e ele dizia: “Receba-me”, mas ele (Yehoshua b. Perahya) recusava dar-lhe atenção. Um dia, enquanto o mestre estava recitando a Shemá,[13] ele (Jesus) veio até ele (o mestre). Desta vez, ele (Yehoshua b. Perahya) desejou recebê-lo e fez um sinal para ele (Jesus) com a mão. Mas, ele (Jesus) pensou que ele (o mestre) queria dispensá-lo novamente. Ele (Jesus) saiu, arrumou um tijolo e o adorou[14]. Ele (Yehoshua b. Perahya) disse a ele (Jesus): “Arrependa”, mas Jesus respondeu a ele: “Assim eu aprendi com você: quem quer que peca ou faça os outros pecarem é privado do poder de fazer penitência”. O mestre disse: “Jesus o Nazareno praticou magia, enganou e conduziu o povo de Israel ao erro” (Schäfer, 2007: 35; ver também: Van Voorst, 2000: 111-2).

Tal como podemos perceber acima, é nítida a intenção dos rabinos de depreciarem o papel de Jesus como discípulo, bem como o de ridicularizarem a competência de Yehoshua b. Perahya como mestre.

A Execução de Jesus

Muito diferente da versão canônica, cuja morte de Jesus aconteceu na cruz, a versão do Talmude Babilônico relata que ele foi inicialmente dependurado e, em seguida, um arauto saiu anunciando, 40 dias antes, a sua execução por apedrejamento. Portanto, ao invés de ser crucificado, Jesus foi primeiro dependurado, para depois ser apedrejado até a morte. O relato aparece no Tratado Sanhedrin 43a: “Na véspera do Sabá, a véspera da Páscoa, Jesus o Nazareno foi dependurado (tela’uhu). E um arauto saiu 40 dias antes anunciando: ‘Jesus o Nazareno será apedrejado porque ele praticou feitiçaria (kishshef), instigou (hissit) e seduziu (hiddiah) Israel à idolatria. Quem quer que saiba de alguma coisa em sua defesa, que venha e a declare’. Mas, uma vez que eles não encontraram alguma coisa em sua defesa, eles o dependuraram na véspera do Sabá, a véspera da Páscoa. Ulla disse; ‘Você supõe que Jesus o Nazareno foi alguém por quem uma defesa deveria ser feita’? Ele foi um mesit (alguém que instigou Israel à idolatria), com relação a quem o Deus Misericordioso diz: ‘Não mostre compaixão por ele e não o proteja’ (Deuteronômio, 13.09). Com Jesus o Nazareno foi diferente, pois ele era próximo ao governo” (Schäfer, 2007: 64-5; ver também: Herford, 1903: 83).


Foto reproduzindo como seria a família de Jesus, segundo a versão judaica.



Novamente, a menção de Jesus (Yeshu) acontece no meio de uma discussão, desta vez, sobre o procedimento da execução de um condenado, como um exemplo de como o rito de execução deve ser executado. P. Schäfer explica que a frase final “Com Jesus o Nazareno foi diferente, pois ele era próximo ao governo”, significa que os judeus tomaram as mais cuidadosas precauções, pois Jesus tinha amigos no alto escalão do governo, talvez uma referência ao interesse da esposa de Pôncio Pilatos pelas informações vindas do povo de que Jesus realizava milagres.

Este episódio talmúdico deixa clara a reação dos rabinos à alegação dos cristãos de que Jesus foi acusado por falsas testemunhas e que não teve tempo de se defender, por isso a introdução do personagem do arauto com seu anúncio da execução com 40 dias de antecedência (Van Voorst, 2000: 114, 117-8 e 120).

Os Discípulos de Jesus

Muito diferente dos evangelhos canônicos que enumeram doze discípulos principais de Jesus (Mt, 10.01-4; Mc, 03.13-9 e Lc, 06.12-6), o Talmude Babilônico, no tratado Sanhedrin 43a-b, enumera apenas cinco discípulos. A passagem diz: “Nossos rabinos ensinaram, Jesus o Nazareno teve cinco discípulos, eles são: Mattai, Maqqai, Netzer, Buni e Todah” (Schäfer, 2007: 75). Note que, exceto o nome Mattai, o qual se assemelha ao nome Mateus, os demais não têm semelhança com os nomes dos apóstolos mencionados nos evangelhos. Ademais, esta passagem informa que os cinco discípulos morreram juntamente com Jesus. Talvez uma tentativa de desmentir a versão canônica de que eles testemunharam a ressurreição de Jesus após a morte e, consequentemente, com isso colocar em dúvida a ocorrência deste fenômeno.

Jesus no Inferno ao invés do Céu

Em uma passagem bizarra, Jesus é mencionado no Talmude Babilônico, no tratado Gittin 56b e 57a, como um dos três maiores vilões da história judaica[15], juntamente com Tito, o destruidor do Segundo Templo, e com Balaão, o profeta das nações. Todos três estão no inferno, onde estão cumprindo punição por seus malfeitos. A base da história e a passagem na Mishná, que lista aqueles terríveis pecadores que não têm mais chance na vida futura. O interlocutor é Onqelos, um personagem que estava diante de se converter ao Judaísmo. Depois de entrevistar Tito e Balaão, “ele (Onqelos) foi e trouxe Jesus o Nazareno (Yeshu ha-notzri) de sua sepultura através da necromancia e lhe perguntou: Quem é importante naquele mundo (no inferno)? Ele (Jesus) respondeu: Israel.

Onqelos: Então, que tal juntar-se a ele?

Jesus: Busque o bem-estar deles, não busque o mal deles. Quem quer que os toque, é como se tocasse a pupila de deus.

Onqelos: Qual a sua punição?

Jesus: Com excremento fervendo.

Pois o mestre disse: Quem quer que zombe das palavras do mestre é punido com excremento fervendo. Venha e veja a diferença entre os pecadores de Israel e os profetas das nações gentis” (Schäfer, 2007: 85; ver também: Herford, 1903: 68).

A conversa é muito estranha, Jesus já está morto, sofrendo punição no inferno e é trazido de sua sepultura, através de magia, a fim de responder algumas perguntas. A intenção de ridicularizar Jesus é clara, ele é punido com excremento fervendo. Ademais, a pretensão de desmentir a ocorrência da ressurreição é implícita, pois, ao invés de ressuscitar e de subir ao céu em seguida, ele está no inferno, cumprindo punição. As explicações sobre esta passagem por P. Schäfer são também confusas (p. 85s).

Considerações Finais

Tal como na coleção do Sefer Toledoth Yeshu, as menções de Jesus no Talmude Babilônico também têm pouco valor histórico, visto que elas se ocupam mais da natureza da afronta e da polêmica contra o fundador de uma seita odiada, do que de relatos objetivos de credibilidade histórica, portanto estes relatos não são documentos históricos. Dizer assim não significa que toda credibilidade história deve então ser atribuída aos textos canônicos ou, muito menos, aos apócrifos. Estes também não são documentos históricos, senão veículos de um incipiente programa catequético destinado a exaltar Jesus, através da composição de narrativas que combinavam fatos e ficções, juntamente com o objetivo de persuadir e de arrebanhar seguidores nos primeiros anos do crescimento da seita cristã. Portanto, estão mais para textos catequéticos do que para textos documentários.

O valor histórico que estas menções hostis nos deixam é o de conhecer o grau de rivalidade sectária que envolve a relação entre as religiões. Ou seja, o que uma religião é capaz de inventar a fim de depreciar o fundador de uma religião rival. Em contrapartida, os cristãos fizeram muito pior com os judeus durante a Idade Média.

Diante de tanta animosidade e de tanta rivalidade nos momentos de surgimento e de crescimento inicial das religiões, os historiadores ficam impossibilitados de saber o que é fato, ou o que é exaltação, ou o que é manipulação ou o que é refutação, ou o que é reelaboração no momento da composição ou da compilação dos textos de cada corrente. No atual estágio dos estudos históricos sobre Jesus, o que é possível afirmar, com certa segurança, é que, de todas as narrativas, os textos canônicos são os que carregam o maior número de sinais mais próximos da historicidade, apenas isto, em comparação com as narrativas apócrifas, talmúdicas e do Toledoth Yeshu, mesmo assim, longe de ser um relato inteiramente histórico, vigora consenso entre os estudos históricos mais rigorosos que o Novo Testamento, estritamente falando, reproduz uma intrincada combinação de história e mito, tal como o restante da Bíblia. Portanto, a grande tarefa dos historiadores bíblicos tem sido, desde muitos anos, identificar o que fato e o que é mito na narrativa bíblica.

Enfim, para concluir, descredenciar as menções anticristãs como providas de historicidade não significa credenciar automaticamente os textos canônicos com validade histórica, pois todos os lados tinham os seus motivos para deformar a história no momento da composição.

Obras consultadas

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Na Web:

BOTELHO, Octavio da Cunha. O Retrato Hostil de Jesus no Toledoth Yeshu. Academia.edu, Edição Eletrônica, 2016:

https://www.academia.edu/27943553/O_RETRATO_HOSTIL_DE_JESUS_NO_TOLEDOTH_YESHU

Notas

[1] Para conhecer esta versão, consultar: Botelho, 2016.

[2] Na versão Huldreich do Toledoth Yeshu ela é mencionada como cabeleireira.

[3] Peter Schäfer sugeriu uma semelhança entre os ensinamentos de Jesus e um encantamento nos Papiros Mágicos Gregos, extraídos da magia egípcia, na seguinte passagem: “Pois, tu eres eu, e eu sou tu, seu nome é meu, e meu nome é seu. Pois, eu sou a sua imagem (…). Eu te conheço, Hermes, e tu me conheces. Eu sou você e tu eres eu. E assim, faça tudo para mim, e que tu te vires para mim…” (VIII.35 – Betz, 1986: 146 e Schäfer, 2007: 57). A sugestão de Schäfer poderá ser que Jesus adaptou esta fórmula mágica para: “Eu e o Pai somos um, não se chega ao Pai senão por mim”.

[4] Para conhecer a coleção do Sefer Toledoth Yeshu, consultar: Schäfer, 2014; Klausner, 1926: 47-54; Schonfield, 1937; Van Voorst, 2000; Cook, 2011: 215-31 e em português, ver: Botelho, 2016.

[5] Às vezes, corrompido como ben Stara em alguns manuscritos do Talmude.

[6] Alguns autores argumentam que estes nomes não referem a Jesus.

[7] O abrangente trabalho de comparação dos diferentes manuscritos, efetuado por Peter Schäfer, é indispensável na atual compreensão sobre as menções de Jesus no Talmude Babilônico, em função da existência de manuscritos com trechos cesurados e com trechos não censurados, pois neste cotejo abrangente é possível perceber a diferença com os trabalhos anteriores, quando o cotejo não foi tão completo, para exemplos, consular: Herford, 1903 passim e Klausner, 1926: 18-47.

[8] Uma coleção de diferentes versões da vida de Yeshu (Jesus) desde o ponto de vista dos judeus. Em razão do seu caráter depreciativo, os textos componentes desta coleção são conhecidos por anti-evangelhos ou evangelhos hostis. Para detalhes sobre o nascimento de Jesus no Toledoth, ver: Botelho, 2016: 06-7).

[9] Nome de uma antiga cidade da Babilônia onde funcionou uma influente academia rabínica.

[10] Esta passagem é repetida no Tratado Sanhedrin 67a e aparece somente nos manuscritos que não foram censurados. A tradução inglesa da versão impressa Soncino reproduz, através de nota, a redação não censurada de outros manuscritos. Peter Schäfer utilizou o manuscrito Munique 95 na tradução desta passagem e o comparou com a redação em outros manuscritos através de notas (p. 148-50).

[11] Para conhecer este relato com mais detalhes, ver: Botelho, 2016: 08-9.

[12] Uma espécie de trombone utilizado nas cerimônias judaicas.

[13] Uma oração judaica.

[14] Por mais que esta menção nos leve a pensar que se trata de uma zombaria dos rabinos sobre a prática cristã de adorar ídolos, P. Schäfer observa que não se trata disto, mas sim de um antigo costume babilônico de adorar tijolos, local onde o Talmude Babilônico foi compilado, portanto uma interpolação tardia do editor, uma vez que o evento não ocorreu na Babilônia (Schäfer, 2007: 37 e 156-7).

[15] As menções sobre Jesus no Talmude Babilônico são tão confusas, às vezes, que é comum encontrarmos contradições. Por exemplo, enquanto que em muitas passagens ele é tratado com desprezo, por ser considerado um personagem insignificante, na passagem acima ele é incluído no rol dos três principais inimigos de Israel.

https://observadorcriticodasreligioes.wordpress.com/2016/10/07/jesus-no-talmude/

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