domingo, 13 de maio de 2012

Tantra - O encontro do céu com a terra


Você já observou como uma árvore cresce? Como ela tateia e se dirige para cima? Que método ela segue? Da semente vem o broto, e então, muito lentamente, ele começa a subir. A árvore vem da profundidade da terra e começa a subir ao céu, da raiz ao tronco, galho, folha, flor e fruto... É isso que também acontece com a sua árvore da vida. Não há diferença entre o sagrado e o profano.

A Serpente é o Salvador

O sexo é tão sagrado quanto o Samadhi, o mais baixo e o mais elevado são partes de um só continuum. O degrau mais baixo da escada é parte dela tanto quanto o degrau mais alto; eles não estão divididos em lugar nenhum. E, se você negar o mais baixo, nunca será capaz de alcançar o mais alto.

Não é para você se sentir culpado em relação ao sexo; ele é a sua vida, ele está onde você está. Como você pode evitá-lo? Se o evitar, você será falso, não autêntico, não verdadeiro; se você o evitar, se o reprimir, você não será capaz de se mover para cima, pois a energia necessária para isso estará reprimida através dele.

Assim, quando a sua sexualidade começa a se mover, esse é um bom sinal; mostra que você foi contactado, que algo se agitou em você, que algo se tornou um movimento em você, que você não é mais um reservatório estagnado, que você começou a fluir em direção ao oceano.

Certamente o oceano está distante; ele virá no final, mas, se você impedir esse pequeno reservatório enlameado de fuir, nunca alcançará o oceano.

A serpente e o salvador não são dois, mas um só. Na verdade, há uma antiga tradição que diz que, quando Deus criou Adão e Eva, e lhes disse para não irem até a Árvore do Conhecimento nem para comerem o seu fruto, depois de dizer isso Deus se transformou na serpente. Ele se enrolou em volta da árvore e seduziu Eva a comer o seu fruto. O próprio Deus tornou-se a serpente.

Os cristãos ficarão muito chocados com esta história, mas só Deus pode fazer uma coisa dessa, e ninguém mais. De onde a serpente pôde vir? E, sem a ajuda de Deus, como a serpente poderia convencer Eva? Na verdade, tudo já havia sido decidido de antemão. Deus queria que o ser humano se extraviasse, pois só se extraviando é que a pessoa amadurece; Deus queria que o ser humano pecasse, pois apenas através do pecado a pessoa pode um dia chegar à santidade. Não existe outra maneira.

É porisso que Deus disse: "Não coma o fruto desta árvore!" Esta é uma psicologia simples...Se os cristãos estivessem certos, isto significaria que Deus é um psicólogo pior que Freud. Esta é uma psicologia simples: se você proíbe alguém de fazer algo, esse algo se torna mais atraente, mais magnético. Se você diz: "Não faça isso!", pode estar certo de que isso será feito. Todos os pais sabem disso, e Deus é o pai supremo. Ele não sabia disso?

Há uma história:
Num belo entardecer de primavera, Freud foi caminhar num parque com sua esposa e sua filha. Eles não prestaram atenção à criança, e, quando o sino tocou avisando que era hora de fechar o parque e que todos deveriam sair, a esposa de Freud disse: "Mas onde está a nossa filha? Ela desapareceu!" E o parque era muito grande.

Freud perguntou: "Diga-me uma coisa: você a proibiu de ir a algum lugar?"

E ela respondeu: "Sim, eu lhe disse para não chegar perto da fonte."

E Freud disse: "Então vamos lá. Se o meu entendimento estiver certo, ela está lá na fonte." E ela estava lá!

A mulher ficou perplexa e perguntou: "Como você descobriu que ela estava aqui?"

E Freud respondeu: "Essa é uma psicologia simples, e todos os pais deveriam conhecê-la."

Não, não posso confiar na interpretação dos cristãos, porque ela faz com que Deus pareça muito tolo. Ele deve ter planejado isso, sabendo perfeitamente bem que, se Adão fosse proibido de comer a fruta, se lhe fosse dito, comandado e ordenado, se uma ordem absoluta fosse dada: "Nunca toque no fruto desta árvore!", então era absolutamente certo que ele o comeria.

Mas Adão foi o primeiro homem e ainda não estava ciente dos caminhos dos homens. Ele foi a primeira criança e deve ter sido uma criança obediente, e pessoas obedientes também existem. Então Deus deve ter esperado alguns dias, mas como Adão não foi à árvore, Deus decidiu tornar-se uma serpente e tentar através da mulher, porque, quando não se pode fazer nada com o homem, a maneira correta é ir sempre através da mulher... Ele deve ter tentado através da mulher, deve ter falado com ela, e foi bem-sucedido!

É porisso que eu digo que a serpente e o salvador são um só.

E, no Oriente, a serpente nunca esteve a serviço do demônio, mas sempre a serviço de Deus. No Oriente, esta é a simbologia: a serpente está dentro de você, enrolada no centro sexual. Ela é chamada de kundalini, a serpente enrolada. Ela está lá, adormecida, no nível mais baixo, nas raízes. A árvore da vida á a sua espinha dorsal, que sustenta a sua vida; ela é o seu tronco. Ela nutre você, sua energia corre através dela, e a serpente está deitada lá na raiz.

Quando algo o instiga, também instiga a serpente, porque essa é a sua energia, é onde a sua energia está. Assim, quando isso acontece, não se preocupe, não se sinta culpado. Nunca se sinta culpado de nada! Tudo o que acontece é bom, e o ruim não acontece e não pode acontecer, pois o mundo está repleto de divindade. Como o mau pode acontecer? O mau deve ser a nossa interpretação errada.

O sexo e a superconsciência são a mesma energia. A serpente e o salvador não são dois; há uma ligação entre o mais baixo e o mais elevado, há uma seqüência que leva de um ao outro, uma maneira de vida, uma maneira de amar, natural e inevitável como a maneira de uma árvore crescer.

Não há diferença entre o sagrado e o profano, nenhuma diferença entre o amor divino e o humano; trata-se de uma continuidade. Seu amor e o amor divino são dois extremos do mesmo fenômeno, da mesma energia. É verdade que o seu amor é confuso demais, cheio demais de outras coisas, como o ódio, a raiva, o ciúme, a possessividade, mas ainda é ouro; misturado com lama, mas ainda assim é ouro. Você precisa passar pelo fogo, e tudo o que não for ouro desaparecerá e apenas o ouro permanecerá.

Aceite a si mesmo, pois apenas através da aceitação a transformação é possível, e não de outra maneira. Se você começar a se sentir culpado, você se tornará repressivo.

Se você for aos templos tântricos de Khajuraho e konarak, na Índia, notará que nas suas paredes externas há esculturas com todos os tipos de posturas sexuais, homens e mulheres fazendo amor em muitas posturas. Todas as paredes estão repletas de sexo. Quem os visita fica chocado e começa a pensar: "Que obscenidade!" Essa pessoa quer condenar, quer baixar os olhos, quer sair correndo, mas isso não acontece por causa dos templos, e sim por causa dos nossos sacerdotes e de seus venenos dentro de você.

Quando você começa a entrar no templo, as figuras vão ficando cada vez mais esparsas e a qualidade do amor começa a mudar, o sexo vai desaparecendo e os casais nem se tocam. Entre mais ainda, e os casais desaparecem...

Na parte mais íntima do templo, que no Oriente se chama gharba, o útero, não há uma única figura. A multidão se foi, os "muitos" se foram. O templo está completamente no escuro, em silêncio, calmo e quieto. Não existe sequer a figura de um deus; ele é vazio, é um nada.

O recanto mais íntimo é nada, e a parte externa é um carnaval de sexo; o recanto mais íntimo é meditação, é samadhi, e a parte externa é sexualidade. Isso é o retrato de toda a vida do ser humano. Mas lembre-se: se você destruir as paredes externas, destruirá também o santuário interior, porque o silêncio e a escuridão mais íntimos não podem existir sem as paredes externas, o centro do ciclone não pode existir sem o ciclone, o centro não pode existir sem a circunferência. Eles estão juntos!

A maneira do Tantra não é a da sensualidade cega, e também não é apenas espiritualidade, mas é "ambas/e". O Tantra não acredita na filosofia do "esse ou aquele", mas na filosofia do "ambas/e". Ele não rejeita nada e transforma tudo.

Apenas os covardes rejeitam; e, se você rejeitar algo, você será na mesma medida mais pobre, pois algo foi deixado sem ser transformado. Uma parte de você permanecerá sem se desenvolver, permanecerá infantil, e sua maturidade nunca será total.

É por causa disso que falo de Epícuro e de Buda juntos. Epícuro é aquele que fica com a parede externa do templo tântrico; ele está certo até onde ele vai, mas não vai longe o suficiente; simplesmente dá uma volta por fora do templo e vai para casa. Ele não está ciente de que perdeu a própria essência do templo. Aquelas paredes externas são apenas paredes externas para dar sustentação ao santuário interior.

Buda representa aquele que entra no santuário interior, senta-se ali e, nesse silêncio ele permanece, mas se esquece das paredes externas. E, sem as paredes externas, não há santuário interior.

Para mim, ambos estão desequilibrados, estão pela metade; algo foi rejeitado e algo foi escolhido. Eles não tiveram a atitude da ausência de escolha. Eu digo para aceitar tudo, o exterior e o interior, o fora e o dentro, e você será a pessoa mais rica sobre a terra.

O Tantra é a maneira da inteireza, nem obsessão pelo mundo nem se retirar dele. Ele é estar no mundo de uma maneira leve, com um sorriso leve, é ter uma atitude de diversão. Ele não leva as coisas a sério e tem um coração leve e ri; ele é desavergonhadamente terreno e infinitamente do outro mundo. No Tantra, o céu e a terra se encontram; ele é o encontro de polos opostos.

As figuras nos templos tântricos são sexualmente ativas, mas não estão obcecadas pelo sexo, nem contra nem a favor. Ambos os extremos são obsessões, pois contra ou a favor simplesmente significa que as coisas não são mais naturais. Quando as coisas são naturais, você nem é a favor nem contra.

Você é contra ou a favor do sono? Se você for a favor, você torna-se artificial; se você for contra, tornou-se artificial. A pessoa não é contra nem a favor do sono; ele é simplesmente natural, assim como o sexo. E, quando o sexo é aceito naturalmente, ele começa a se elevar. Então, um dia, espontaneamente, o botão se transforma numa flor, sem que você precise fazer coisa alguma... simplesmente deixe a energia se movimentar, deixe a seiva fluir e o botão se tornará uma flor.

Os tempos tântricos da Índia representam uma das atitudes mais holísticas em relação à vida, na qual tudo é aceito, pois tudo é divino.

Para mim, o estágio final de um ser humano não é ser um santo nem ser como um Buda, mas ser como Shiva Nataraj, Shiva - O Dançarino. Buda entrou muito fundo, mas a parede exterior ficou faltando, a parede exterior é negada. Shiva contém tudo, todas as contradições, o todo da existência, sem escolher. Ele vive no âmago mais profundo do santuário e, também, dança diante das paredes externas.

A menos que o sábio possa dançar, algo está faltando. A vida é uma dança, e você precisa participar dela. E, quanto mais silencioso você fica, mais profunda é a sua participação. Nunca se retire da vida, seja verdadeiro para com ela, esteja comprometido com ela, seja sempre completamente pela vida.

Quando você alcança o âmago mais profundo do templo, isso acontece: não há mais razão para você dançar, você pode ficar ali em silêncio. Como Buda diz: "Quando você atinge a iluminação, então há dois caminhos abertos: ou você pode se tornar um arhata, que se retira para a outra margem, ou pode se tornar um bodhisattva, que permanece nesta margem." Na verdade, quando você se ilumina, não há razão para permanecer nesta margem; mas Buda diz que, por amor aos outros, você cria uma tal compaixão em si mesmo, que pode demorar-se um pouco mais e ajudar as outras pessoas.

Para o Tantra, este é o supremo: tornar-se deus e, ainda assim, ser parte deste mundo. Quando você puder voltar ao mundo com uma garrafa de vinho na mão, o supremo está alcançado.


Osho

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