quarta-feira, 7 de novembro de 2012

O jardineiro



      - Bom dia!                
     Começava assim sua jornada diária.                
     Logo de pé olhava para a parede do quarto onde havia escrito “sorria todos os dias”. Sorria e dava bom dia a si mesmo, e depois dizia alto, para o mundo escutar. Olhava-se bem no espelho, cada parte de seu corpo e com as mãos sentia o bater do coração. Estava bem vivo. Tinha mais um dia para fazer de cada respiração uma âncora a prendê-lo no presente e perceber tudo ao seu redor. Como todos os outros, carregava também alguns problemas, mas ao se levantar todas as manhãs estava disposto a procurar soluções e não mais perguntas.
     Pelas ruas andava sustentando um belo sorriso. Era sua maneira de agradecimento com a vida por lhe oferecer a cada dia novas oportunidades. Agradecer pelo sol brilhar, pela chuva, pelo vento que levava tanta coisa embora. Tinha uma verdadeira gratidão pelo que recebia do mundo e o que demais necessitava buscava com boa vontade. De braços abertos recebia o que a vida tinha para oferecer e tentava fazer o melhor com o que possuía. Transformava o que para muitos seria dificuldade em novos desafios.
     As adversidades eram um solo perfeito para crescer sua esperança. Nunca conheceu campo tão fértil e era incrível tudo o que ali crescia com o devido cuidado e atenção. Apresentava-se árido e agressivo ao primeiro contato, mas quando regado com paciência e amor grandes campos verdejantes brotavam.
     Possuía um jeito incomparável de lidar com suas mudas, cada uma de espécie distinta, mas todas ganhavam sua merecida atenção. Não se importava em dispor de seu tempo para regá-las devagar, pois andava ao seu lado e sabia que o próprio tempo traria belíssimas flores. Iluminava aquele campo com luz de sabedoria e não havia terra seca que não se desdobrasse em vida ao seu toque.
     Cultivava cada sorriso que recebia em reflexo ao seu. Mesmo aqueles soltos pelos rostos alheios fazia crescer também dentro de si. Em sua alma eles eram alimento para a felicidade, uma fonte eterna de energia que nutria seu canteiro de coisas boas. Via pelas ruas sorrisos de pessoas apaixonadas, de amigos, irmãos, de gente que simplesmente ria por rir. Vibrava com a certeza de que todos sabiam que a alegria existia estando sozinhos ou não. Satisfazia-se em saber que apesar dos males que, tinha certeza, acompanhava cada um ainda sabiam sorrir. Regavam de suas próprias maneiras suas sementes, mas infelizmente ainda não preparavam bem o solo.
     Não havia paredes que o impediam de ter contato com coisas ruins. Ao contrário, não era feito de ferro, assim como os demais, e diariamente todo tipo de angústia insistia em perturbá-lo. Porém, tinha consciência de que poderia escolher entre deixar que isso o derrubasse ou poderia filtrá-las, tirando algo positivo dali. Agia como a água: ao encontrar um obstáculo, contornava-o. Não gastava sua energia dando murros em ponta de faca. Quando lhe fechavam a porta, saía pela janela.
     Em momentos onde alguns entrariam em desespero, ele aquietava sua emoção e impedia que seus próprios sentimentos lhe empurrasse abismo abaixo. Tinha controle sobre o que sentia e não se deixava dominar. Era um pleno observador da situação e assim podia discernir o caminho à sua frente e avaliar todas as posições. Como fazia todos os dias ao abrir os olhos, estava em busca das soluções e não em correr em círculos atrás dos problemas. Quando não as encontrava, sorria:
_O problema que não tem solução, solucionado está!
     Existiam vários motivos para que suas flores morressem ou crescessem tristes e sem cor. Às vezes o tempo não era propício ao cultivo, mas nem por isso desistia da labuta. Havia tempestades torrenciais, secas severas, tornados que varriam o que à sua frente estava. Ainda assim seu jardim era deslumbrante. Sempre reservava forças para fazer as coisas acontecerem, uma fonte para regar e manter aquecido suas determinações.
     Sobre a peneira de sua razão crescia sempre bons frutos. Não importava o que entrava, mas sim o que saía. O mundo estava repleto de energias negativas, de pessoas que odiavam as outras por não conseguirem amar a si mesmos. Tropeçava constantemente nos erros deixados pelas ruas, deparava-se em cada esquina com pessimismos, sortes perdidas e onde havia espaço era possível encontrar as mais variadas solidões. Seus olhos não eram alheio a tudo isso, muito menos seus ouvidos e todos os outros sentidos. Porém, tudo que assimilava era reciclado em sua alma. Possuía uma máquina que repintava as partes feias daquele lixo, adicionava alguns belos detalhes e pronto, estava novo. Transformava esperanças quebradas em solo bom, lágrimas em chuva e solidão em céu aberto com sol e luz.
     Nada surgia ao acaso, nem mesmo o que não era bom. Colhia o que semeava. Sabia que para ter belas flores deveria cultivar boas sementes. A qualidade do que possuía advinha da sua escolha de semear bons pensamentos ou não, tomar atitudes certas ou precipitadas, ser otimista ou pessimista, aprender a sorrir ou se afogar na decepção. Não importava o tamanho do que produzia, mas sim a intensidade que lhe trazia alegria. Quanto mais regasse suas sementes, mais elas cresceriam fortes e saudáveis. Suas palavras trariam muito mais além do que suas mãos poderiam alcançar. Todas as atitudes positivas seriam o melhor dos alimentos para seu jardim.
     Era um trabalho árduo, mas fazia com amor. Sua vontade em cultivar o belo era sincera, dando-lhe os motivos certos para continuar sua peleja. Seu jardim não era sua propriedade particular, mas um lugar onde plantava um mundo bom para que outros pudessem também o desfrutar. Era aberto a quem quisesse colher a felicidade em seu estado mais puro e verdadeiro. Era o destino daqueles com corações quebrantados, onde aprenderiam como cuidar de seu próprio canteiro. 
     Por todos os dias continuaria a regar suas boas intenções e ver brotar os mais variados e belos frutos e flores. Mesmo que não fosse, daria bom dia à ele, ao mundo, à vida. Estaria sempre em seu campo colorido de vida, perfume e amor, talvez escondido no meio das coisas boas, mas sempre disponível àqueles que queriam deixar sua vida menos amarga. Estava cercado pelo produto de sua própria vontade, de seus esforços e de suas crenças.
      Suas ferramentas eram suas próprias mãos, seu coração e seu sorriso. Estava com os pés descalços, em contato com o chão, para perceber a verdade do mundo em seu contato. Conhecia a si mesmo, conhecia os demais. Gratuito era seu trabalho e recebia como pagamento o melhor tesouro: a felicidade.



Gabriel Costa
22/10/2012 - 03/11/2012

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