sexta-feira, 10 de agosto de 2012

A ambiguidade


A ambiguidade é filha bastarda da liberdade, querida e rejeitada ao mesmo tempo; não poderia ser diferente, afinal ela tem de ser coerente com ela mesma, pelo menos.

Você quer isso, mas você também quer aquilo, e a convivência dos dois quereres aponta à construção de mundos incompatíveis entre si.

O que fará o humano em estado ambíguo? Decidirá dar fim a um querer para privilegiar o outro?

Nada disso! Em primeiro lugar, segundo, terceiro e em todas as fases do processo ambíguo o humano sofrerá o tormento de não poder realizar tudo que anseia; sabe de antemão que isso será impossível e se atormenta com sua própria alma, apegada a todos os quereres e permanecendo em estado ambíguo.


Porém, descaracterizando a suposta ambiguidade o humano contradiz a si mesmo, pois sustenta o que o atormenta, se aferra à ambiguidade com firme convicção da impossibilidade de haver outra perspectiva além dessa. Não seria essa uma postura coerente?


Contudo, e apesar da complexa teia que sustenta a ambiguidade e de sua ascendência tão nobre, pois ela é fiha da liberdade de decidir; afinal, ainda assim não é essa uma postura que se possa aconselhar a sustentar por tempo demais.


Em momentos fugazes, com perspectiva de terminarem o mais rapidamente possível, a ambiguidade pode demonstrar com clareza lancinante os labirintos sofisticados da mente humana.


Sem embargo, aqueles que sustentam a ambiguidade como elemento essencial de suas existências tendem a enlouquecer as pessoas que estão dentro de seus círculos de influência, pois não lhes permitem definir nada que as inclua, atormentando-as com a mesma intensidade do tormento que elas mesmas experimentam o tempo inteiro.
Quiroga 

Nenhum comentário:

Postar um comentário